“Do nada ao estrelato”. Foi assim que Rogério Corrêa resumiu o ano de 2001, onde conquistou o título mais importante de sua vida. E não foi para menos. Vindo do Goiânia, o zagueiro chegou em junho daquele ano justamente para a disputa do Campeonato Brasileiro. Com profissionalismo e dedicação, rapidamente assumiu a posição de titular, formando a célebre zaga ao lado de Gustavo e Nem. Zagueiro rápido e com 1,86m, poucas vezes perdeu uma disputa em razão de sua veloz recuperação, além de seu apoio ao ataque. Fez o gol de empate diante do Paraná e anotou outro contra o Guarani, aos 48 minutos do segundo tempo, que garantiu vaga entre os quatro finalistas.
Depois de ser campeão em 2001, Rogério ainda viveu grandes momentos vestindo a camisa do Furacão e foi o jogador que mais tempo permaneceu no clube. Conquistou o Campeonato Paranaense de 2002 e participou da Libertadores no mesmo ano; foi vice-campeão brasileiro e paranaense em 2004 e foi campeão paranaense em 2005, quando foi transferido para o Shimizu S-Pulse, do Japão. Voltou ao Brasil na temporada seguinte e jogou pelo Goiás, que fez a sua melhor campanha no Brasileirão, ficando em terceiro lugar. Em 2006, foi o capitão do time campeão goiano, ano em que também disputou a Libertadores da América e anotou o primeiro gol em competição internacional do Goiás.
Retornou ao Atlético em 2007 e, no ano seguinte, Rogério era o único remanescente do time de 2001. Já sem clima para continuar no clube, foi para o F.C. Illichivets, da Ucrânia, mas não se adaptou. Chegou ao Bahia em 2009, foi emprestado ao Joinville, passou pelo Paysandu e seu último clube foi o Anapolina, onde jogou até este ano. Depois de oito cirurgias no joelho, Rogério abandonou os gramados e assumiu a prancheta. Convidado pelo presidente e diretores, acabou virando treinador e começou a colocar em prática seus conhecimentos como jogador e também como estudante de Educação Física. Quero aprender mais, apesar da minha carreira ter sido um grande aprendizado. Tive grandes treinadores, tenho tudo guardado na minha cabeça, cada treinamento, cada método. E minha experiência de vida ninguém me tira, tenho muito orgulho de tudo que fiz.
Em entrevista exclusiva à Furacao.com, Rogério Corrêa relembrou o apoio da torcida, funcionários do CT e da Arena, além do comprometimento do grupo em busca do maior título de sua história.
Você chegou ao Atlético em junho de 2001, vindo do Goiânia, e não era muito conhecido. Em uma de suas primeiras declarações você disse: “Todo jogador quer jogar num time como o Atlético Paranaense. Como foi chegar aqui nessa condição e rapidamente virar titular?
Não conseguia acreditar. Era um sonho que estava se tornando realidade muito rapidamente. Naquela época, tinha acabado de ser Campeão Goiano, meu empresário me ligou e disse que tinha um clube da Série A querendo me contratar, o Cruzeiro. Como o Cruzeiro estava na Copa dos Campeões, tive que esperar para viajar a Minas e nesse meio tempo surgiu o interesse do Atlético. O Rogério Souza, que jogava comigo no Goiânia, já tinha ido para o Atlético um ano antes e me contava que o clube era simplesmente fantástico. Acabei aceitando a proposta e, quando cheguei, pude comprovar a maravilha que era o clube, um CT que nunca tinha visto antes, muito além da minha realidade no Goiânia. Nos primeiros treinos já me dedicava ao máximo porque queria ser titular. Mas não imaginava que já no primeiro jogo o Mario Sérgio me colocaria nessa posição e acho que isso foi consequência do meu trabalho, do meu esforço. Ele acreditou em mim e nunca mais saí do time.
Você sofreu uma lesão no joelho naquele ano quando tinha se firmado na equipe. Teve receio ou medo de não seguir mais na campanha?
Eu machuquei o joelho na quinta rodada, no jogo contra o Atlético-MG. Ali foi uma frustração. Eu queria muito jogar. Fiquei triste, chateado, com medo, pensei que ia ficar de fora por muito tempo. Mas o Dr. Edilson Thiele, que é o melhor médico de joelho, falou pra ficar tranquilo, que em 20 dias eu voltava a jogar. E voltei em 18 dias, na estreia do Geninho, novamente como titular e a partir desse jogo ficamos 12 partidas invictos.
O que representou o título brasileiro de 2001 na sua carreira e na sua vida?
Foi o título mais importante da minha vida. É até difícil explicar, foi muito emocionante. Cheguei naquele ano justamente para a disputa do Campeonato Brasileiro. Foi a primeira vez que disputei e logo em um time de Série A. Tinha 22 anos, era muito jovem, então esse título significou o reconhecimento da minha carreira nacionalmente. Até hoje sou parado na rua por fãs, admiradores e pessoas que associam meu nome àquele título, mesmo 10 anos depois. Foi o marco mais importante na minha vida e na minha carreira e me sinto muito lisonjeado por ter feito parte e ter entrado para a história do clube.
Qual a melhor lembrança que você tem daquele Campeonato Brasileiro?
São várias. Foi o meu primeiro e já fui campeão brasileiro. Mas nunca me esquecerei do meu primeiro gol com a camisa rubro-negra, que foi nesse campeonato, contra o Paraná Clube. E teve outro gol meu, que eu considero muito importante, contra o Guarani, aos 48 minutos do segundo tempo. Empatamos em 2 a 2 e, com isso, garantimos a vaga entre os quatro finalistas.
Qual foi o momento mais difícil na campanha?
Foi quando nosso time, no começo do campeonato, depois de cinco vitórias, perdeu quatro partidas e empatou outra. Foi aí que o Mario Sérgio saiu e teve toda aquela polêmica e aquela frase: “Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético”, todos se lembram disso. Aí chegou o Geninho, colocou o time pra cima e nós conseguimos nos reabilitar.
Mas o time realmente tinha problemas com a “noite”?
Não acho que tínhamos problema com a noite. Todo jogador gosta de sair e tomar uma cerveja. O problema era que a noite de Curitiba era muito boa, então muitos saíam. Mas quando entrávamos em campo a gente jogava bem, não comprometia.
Na sua opinião, quem era o melhor jogador do time?
Não acho que tenha tido um melhor jogador. Éramos um time unido e comprometido com o nosso objetivo, que era a conquista daquele título. Ali todos lutavam, eram guerreiros, todos queriam muito ser campeão. Foi isso que fez toda a diferença.
Qual foi o fator essencial para a conquista do título?
O que me referi acima, a nossa determinação. Não tinha um jogador naquele time que não estivesse comprometido. Era um time unido, não tinha picuinhas. E isso faz muita diferença porque todos estavam unidos pelo mesmo objetivo. Nossa força era muito grande.
Como você lidava com o descrédito da imprensa do eixo?
Ninguém acreditava que um time fora do eixo Rio-SP fosse campeão. Quando começamos a ficar nas primeiras posições e ter vitória atrás de vitória, muita gente criticou e não acreditava, até porque a maioria ali era desconhecido. Isso foi mais um motivo para mostrarmos ao Brasil que tínhamos qualidade e que um time não precisa ter grandes nomes e salários estrondosos para ser campeão. Acho até que quando a gente ganha pouco tem mais motivos para se dedicar e obter reconhecimento, e aí o aumento de salário é consequência. Sinceramente, esse descrédito da imprensa de fora não nos abalou. Pelo contrário, nos dava cada vez mais vontade de vencer.
O time mudou muito o jeito de jogar do Mário Sergio para o Geninho?
Não. Os dois jogavam no mesmo esquema. Quando o Geninho chegou só deu mais motivação, porque vínhamos de quatro derrotas e um empate.
Qual foi a importância da Arena e da torcida nos jogos decisivos?
Fundamental. Jogar na Baixada não tem explicação. É muita vibração, emoção, o coração bate acelerado. Aquela torcida gritando, cantando, incentivando… você já entra em campo com uma injeção de ânimo.
Qual a importância dos outros integrantes da comissão técnica e funcionários do CT e da Arena na motivação do grupo durante a campanha?
Eu considerava aquele time, comissão técnica e funcionários uma família. Todos nos incentivavam, porque ganhar aquele título era algo inédito para o clube. Então não só nós, jogadores e comissão, mas como também os funcionários, todos queriam muito essa conquista. A gente entrava e saía do CT e da Arena cercados de sorrisos e palavras como “Vamos ser campeão, hein!”.
Como era o convívio com o Nem e o Gustavo, que junto com você formaram a defesa campeã?
O Gustavo é um grande amigo que tenho contato até hoje, foi um jogador excepcional. E o Nem foi um dos melhores líberos que já vi jogar. Aprendi muito com ele. E depois quando eu assumi essa posição, que joguei pelo resto da minha carreira, me espelhei muito nele. Foi um professor.
Como foi a preleção do Geninho antes do jogo final em São Caetano do Sul? É verdade que ele entregou faixas de campeão para todos os jogadores? Ao site Globo Esporte, você disse que não teve preleção, que ele entregou as faixas dizendo que já eram vencedores, “um misto de surpresa e emoção no vestiário”, nas suas palavras. Como foi aquele momento?
A preleção foi no hotel onde estávamos concentrados. Ele chegou e disse: “Pra mim vocês já são campeões, independente do que vai acontecer no jogo.” E entregou uma faixa de campeão para cada um. Isso nos deu muita motivação. A gente entrou em campo confiante.
Como foi a comemoração do título?
Aconteceu ainda lá em São Caetano, havia muitos torcedores do Atlético. Depois fomos para o aeroporto e ficamos umas quatro horas esperando, porque chovia muito e o aeroporto estava fechado. Mas quando chegamos a Curitiba, já de madrugada, o aeroporto estava lotado e seguimos em carreata no caminhão de bombeiros até a Arena. A Avenida das Torres estava lotada de torcedores comemorando com a gente. Na Arena nem se fala, era muita gente mesmo, estava lindo de ver, era um mar vermelho e preto. Todos queriam ver o time campeão. Foi muita emoção!
Colaboração: Mariah Domachowski Corrêa de Oliveira