No início tudo estava bem claro aos atleticanos, o campeonato paranaense seria uma mera competição para dar ritmo aos juvenis, principalmente após a decisão de Mario Celso Petraglia em simplesmente ignorar a competição estadual, colocando inclusive um elenco sub-23 para a disputa. O primeiro turno foi só sofrimento, derrotas bobas, torcida ciente de que o título seria impossível sem o time principal. Inicia-se então o segundo turno, o time ganha corpo, consegue vitórias na raça, vence o Atletiba de forma histórica (não recordo de, na história dos clássicos regionais, um time C vencer o rival com o time profissional), além de ganhar o returno e se credenciar a disputa do título. Agora era a final, quem sabe a história seria novamente escrita: primeiro a vitória do sub-23 em cima do rival, posteriormente o título estadual. Não foi o que ocorreu.
A derrota de um time de piás para outro elenco de medalhões profissionais era previsível, no entanto o atleticano, ao contrário de tantas outras torcidas, acredita fortemente naqueles onze atletas que vestem a camisa rubro-negra nas quatro linhas, não poderia ser diferente no Couto Pereira, ainda mais após o frangaço do goleiro coxa após o chute de Hernani. Foi então que no primeiro tempo o choque de realidade surgiu, o bom jogador Alex conseguiu seu destaque, a vitória do segundo maior time do estado já se desenhou no primeiro tempo, mesmo com toda a raça da piazada, o segundo tempo foi ampliação de placar e comemoração do lado verde. Champions League para alguns ocorre na Europa e no Paraná.
A lógica, que tanto é invertida com as situações, obviamente nos remete à tristeza da derrota, porém em uma análise mais fria após a ressaca, é necessário parabenizar esse time de jovens, que demonstrou garra, experiência e coragem. Não tiravam o pé na dividida, o choro de Bruno Costa, ao final do jogo, demonstrou bem que esses guris merecem crédito, por vestirem a camisa do Atlético em situação adversa e, mesmo assim, não se acovardarem, não serem frios, terem o sangue quente tão característico dos nossos elencos mais memoráveis. A obrigação de vencer o Paranaense era do Coritiba, eles mesmo já sabiam disso desde o início do campeonato e mesmo assim patinaram no segundo turno, a piazada corria por fora, esperando um vacilo, conseguiram uma vitória no clássico, poderiam conseguir outra na final, porém não foi o que aconteceu. Comemoração frenética por parte dos verdes por vencerem um elenco C de piás.
O tetracampeonato verde está totalmente atrelado à política atleticana de desdenhar totalmente o estadual e inclusive do futebol, colocando em um primeiro patamar a estrutura, a Baixada e o superávit no caixa. Pensando de forma imediatista, é claro que é difícil concordar, porém, a longo prazo, a visão rubro-negra é de prosperidade, com uma Baixada finalizada, um CT moderno já existente, superávit nos caixas e o pensamento somente em futebol e contratações. Os coxas estão aproveitando a guarda baixa do Atlético para conquistar o máximo possível de vitórias em Atletibas e estaduais, contratando reforços como Alex e desdenhando da lógica econômica, afinal o rival é um dos times que consta na lista enorme de clubes com dívidas milionárias, que, se fossem adquiridas em um país sério certamente causariam a sua falência. O silêncio atual rubro-negro precede o esporro que ocorrerá em pouco tempo com o coirmão, o Atlético está anos-luz à frente de todos os rivais paranaenses, estruturalmente e economicamente, basta que esse período de inconstância de Copa 2014 termine para que o futebol seja prioridade.
Sobre a rivalidade entre as torcidas o senso-comum atleticano é óbvio, a arrogância alviverde encontra-se em um nível muito alto, exaltando jogadores do mais baixo caráter existente no futebol brasileiro, que são capazes de ser tratados como deuses pelo fato de simplesmente dizerem um xingamento no twitter, definitivamente coisa de piá de prédio que empina pipa no ar condicionado. Eu prefiro exaltar um elenco de jovens que venceu um Coritiba com elenco sub-35 (que certamente irá sofrer no Brasileirão), que foi até a final de um campeonato estadual jogando contra times profissionais. Atleticanos preferem glorificar uma torcida que, mesmo consciente dos limites técnicos do elenco, apoiou o Furacão até o último momento, uma nação que um dia colocou um porco para correr de verde em pleno Couto Pereira, pois provocação pouca é bobagem.
O presidente deve compreender que, apesar de ser justa a luta para que competições regionais retornem (Sul-Minas ou Copa Sul), colocar elenco sub-23 para disputar estadual acaba diminuindo a pré-temporada dos profissionais, assim como diminuição de ritmo de jogo em comparação com outros clubes. A FPF não faz nada pelo futebol paranaense, boa parte da mídia estadual possui desafeto e é tendenciosa com o Atlético, porém ignorar a competição estadual só concede mais satisfação para parte da imprensa verde. Caso o Paranaense persista, que é o que provavelmente vai ocorrer, espera-se sinceramente que seja revista a decisão de colocar novamente o elenco C em toda a disputa, sugiro um meio-termo: mesclar o elenco entre profissionais e juvenis de forma gradativa, com um campeonato finalizado com o time totalmente profissional.
*O silêncio que precede o esporro é uma música do grupo O Rappa que se encaixa totalmente na fase atleticana. O tempo é rei irmãos rubro-negros.