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22 jan 2014 - 20h45

O preço da Copa

Manchetes anunciaram, na tarde de terça-feira, uma importante reunião entre membros da FIFA, da CBF e dos poderes públicos locais para dizer sobre o destino da Baixada. Eis, então, para surpresa dos incautos, que o grande realizador, o deus do cimento e das estruturas metálicas, o dono do CAP – ele, o CAP, o maior interessado no quiproquó extraordinário que se instaurou à revelia da sua torcida –, sumiu, recolhido a uma discrição covarde e súbita. Talvez lhe custe perceber que, como gestor da obra, protagoniza, hoje, um retumbante fracasso.

A ausência arranhou a imagem do clube, num vexame que transpôs as fronteiras do País. Para MCP, o fujão, e familiares, todavia, tudo parece transcorrer bem. Restaram-lhes os contratos amigos, a suspeita de superfaturamento das cadeiras e a irresponsabilidade na administração dos empréstimos contraídos. Já o CAP se endividou. Seu patrimônio se converteu em garantia de satisfação de construtores, empresários e outros picaretas que giram em torno da Copa do Mundo. Em resumo: o futuro, para nós, é incerto e perigoso.

Foi MCP quem impulsionou, obstinadamente, a candidatura de Curitiba a sede de alguns jogos do torneio. Não chegou a delirar quando pensou nisso, embora a sua tradicional empáfia tenha deixado espaço para polêmicas variadas. Poucos setores se prontificaram a assumir compromissos para viabilizar o “projeto”. Pelo contrário, obstáculos enormes se colocaram diante dele. Pródigos em mesquinharias, representantes do Estado e da cidade, aboletados no Executivo ou no Legislativo (com o auxílio inestimável do Tribunal de Contas), ensaiaram um discurso moralista que os colocava como paladinos da justiça e defensores do dinheiro público. Com essa ladainha rasteira e inócua, contribuíram, sem dúvida, para retardar a obra, encarecer os seus custos e entregar o poder de decisão a um pequeno ditador. Atingida a reta final, tentam desesperadamente assumir, junto com a FIFA, o controle da situação.

Aos trancos e barrancos, os empréstimos públicos – cada vez maiores – vão chegando à empresa constituída para a reconstrução do estádio. Mesmo assim, apesar da sempre lembrada autofagia curitibana – que é não é maior do que os erros vindos de todos os lados da triste contenda –, nada autoriza a forma como MCP encarou o assunto: fechado em si mesmo, como se não devesse explicações a ninguém e como se o mundo conspirasse contra ele. Esse comportamento tresloucado deixou muitas perguntas sem resposta, e fez, por exemplo, com que as fontes oficiais do clube ignorassem a reunião fatídica da FIFA e seus parceiros, num gesto deprimente de desinformação (até o meio da tarde do dia 22/1, pelo menos, os editores/censores dos meios de comunicação petraglistas fizeram de conta que a crise da Baixada, com sua repercussão nacional e internacional, nunca existiu).

Ao se pretender o senhor supremo do CAP e agir de acordo com a sua vontade absoluta, MCP trouxe prejuízos enormes à instituição. Aconteça o que acontecer, a partir de agora, o preço por sediar a Copa terá sido caro demais para os atleticanos. Ingressamos no terceiro ano longe de casa, e não sabemos quais investimentos, mínimos que sejam, sobrarão para o futebol. Se a sorte estiver do nosso lado, poderemos ver um pouco de alegria em campo; se a lógica prevalecer, viveremos tempos de horror.

Há solução, por certo, mas ela depende de um esforço coletivo daqueles que amam o CAP. Estamos cansados de promessas retumbantes e personalistas. Talvez seja preciso, para que recuperemos o orgulho e a alegria, um pouco de simplicidade, sem decretos ou a presença terrível de uma autoridade suprema. Nada mais.



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