Às vésperas de reencontrar o Atlético, o técnico Vagner Mancini relembrou um episódio polêmico em sua relação com o presidente do clube, Mario Celso Petraglia. Depois de comandar o Atlético no ano passado, quando o time foi terceiro lugar do Brasileiro e vice-campeão da Copa do Brasil, Mancini dirige hoje o Botafogo, que luta para sair da ZR e enfrentará o Furacão no próximo sábado.
Em entrevista para o programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, o treinador falou sobre sua passagem pelo Rubro-Negro e deu detalhes do que aconteceu na reta final da última temporada.
Paulo Baier: motivo da discórdia
Na visão de Mancini, um dos motivos do desgaste com a diretoria do Atlético foi a sua opção por escalar jogadores experientes, como Luiz Alberto e Paulo Baier. A direção preferia que os atletas formados em casa fossem prestigiados.
"Em algumas vezes, sutilmente chegava a informação de que não estavam contentes com A, B ou C, e eu mantinha a minha linha de conduta, até porque o time vinha ganhando. Então, eu só vejo um motivo para isso que foi a manutenção do Paulo Baier no time", apontou.
"O que ocasionou o meu desgaste com o presidente, isso na minha ótica, porque ninguém me falou, mas por aquilo que eu vivi no clube, foi a manutenção do Paulo Baier no time", completou Mancini.
A discussão na final da Copa do Brasil
Questionado pelo jornalista Paulo Vinícius Coelho sobre a discussão com Petraglia no vestiário do Maracanã logo após a perda do título da Copa do Brasil para o Flamengo, Mancini explicou que se sentia à vontade para relatar o que se passou porque o episódio já havia "vazado".
"Eu me sinto muito confortável de falar uma coisa de dentro do vestiário hoje, sobre isso aí, porque quando eu saí de dentro do vestiário já sabiam. A imprensa já me perguntou o que tinha acontecido já na minha coletiva. Já falei sobre isso em outras entrevistas e vou contar aqui novamente", iniciou. Depois, deu o seguinte depoimento:
"Você chega no vestiário e, óbvio, você perde um título, você perde um sonho, que talvez seja a única oportunidade de algumas pessoas no futebol, então a hora que formou a roda da oração que eu fui começar a falar, o presidente entrou e fez parte da oração, do círculo. A hora que eu fui falar que eu vi que ele entrou, eu passei a palavra para ele. Falei: ‘O senhor deseja falar alguma coisa para todos?’ Ele falou: ‘Desejo. Eu vim aqui para falar que eu estou envergonhado. Envergonhado desse time, você é o grande responsável, e eu nunca passei tanta vergonha na minha vida vendo o Atlético jogar’. E aqui vou até falar uma coisa que ele algumas vezes entrou no vestiário para falar exatamente o contrário. Umas quatro vezes eu vi ele entrando até emocionado no vestiário, dizendo que o Atlético jogando daquela forma emocionava ele, ele se sentia muito bem, às vezes até aumentava o bicho. E neste dia ele fez exatamente o contrário. Ele entrou para dar um golpe duro em cima de atletas e comissão técnica, que tinham acabado de perder o título, assim como ele. Eu entendo a angústia de um presidente que quer ser campeão, assim como a nossa. E neste momento, eu talvez tenha ficado mais nervoso do que domingo com o quarto árbitro [NR: Mancini foi expulso de campo no último jogo do Botafogo, contra o Cruzeiro]. Um atleta que estava ao meu lado, que era o Luiz Alberto, batia no meu ombro e falava ‘calma, calma’, porque ele viu que eu me alterei. Eu tive a clareza ali na hora de não alterar o tom de voz e falar para ele, após a fala dele o Antonio Lopes disse: ‘Vamos rezar’, eu digo: ‘Não, agora sou eu que vai falar. Eu respeito a sua opinião, mas esse grupo que está aqui tirou o teu Atlético de 19 e está em segundo lugar no Brasileiro, disputou uma Copa do Brasil, não ganhou, todos nós estamos decepcionados, lhe pedimos desculpas por isso, mas esse grupo aqui vai te dar a vaga à Libertadores, porque são homens’. E aí eu falei o que achava do grupo e aí nós fizemos a oração. Após a oração, eu fui para uma sala, eu e meus auxiliares. A hora que eu fui começar a falar, os atletas entraram, o time inteiro, e falaram: ‘Você não vai sair, não vai abandonar a gente agora’. A gente tinha dois jogos, o Santos em São José do Rio Preto e o Vasco em Joinville. Eu nem tinha começado a falar e na verdade eu queria escutar dos auxiliares o que era a impressão deles, porque foi um golpe duro. Aí eu virei para os atletas e falei: ‘Eu não vou sair’. E acho que foi a atitude mais digna, mais correta, porque nós tínhamos um objetivo, que foi alcançado".
Em janeiro, o presidente Mario Celso Petraglia havia falado sobre o episódio em entrevista à Rádio CAP. Veja na matéria relacionada abaixo.