CAP Gigante, bagunça Gigante e a crise de identidade do Atlético
Hoje, para iniciar qualquer conversa entre atleticanos, temos que começar por uma questão fundamental: o que está acontecendo com o nosso querido Atlético Paranaense? Bem, meus amigos, não posso dar uma resposta definitiva para isto, mas, posso, no entanto, oferecer uma possibilidade para pensarmos juntos, pois, penso que o Atlético vive hoje uma crise de identidade implantada e administrada por seus gestores, representados obviamente na figura simbólica do afastado Sr. Mario Celso Petraglia.
O Atlético que conhecemos e nos apaixonamos, o Atlético do povo, da torcida mais vibrante e decisiva, está aos poucos se tornando um clube europeu em plena América do Sul. E este projeto iniciado há 20 anos atrás, está em vias de se concretizar, mas, para o nosso pesar, deve se concretizar em parte, pois, vive o esgotamento desta possibilidade, visto que para ser um clube europeu, é preciso antes de mais nada estar situado no velho continente.
Verifiquemos então os sintomas desta transformação. Fora de campo o Atlético Paranaense já se tornou modelo de gestão financeira e patrimonial. Mesmo estando numa praça esportiva no mínimo ingrata – visto que futebolisticamente o Paraná é uma colônia dividida entre paulistas (norte e noroeste) e gaúchos (sul e sudoeste) – o Atlético cresceu e aperfeiçoou de maneira surpreendente o seu patrimônio. O CT do Caju, faz algum tempo, é um dos melhores – senão o melhor – centros de treinamentos dentre os principais clubes do futebol brasileiro. Igualando e superando em tamanho e qualidade os CTs de clubes que possuem um potencial financeiro bem maiores que o do Atlético – como os grandes de RJ e SP. A Arena da Baixada permanece como o melhor estádio da América Latina, mesmo diante de todos os estádios construídos e/ou reformados para o Mundial de 2014 disputado no Brasil, tendo como diferenciais o teto retrátil, que impede que qualquer intempérie climática – chuva forte, frio ou calor excessivo – prejudique a realização de uma partida, fornecendo conforto para os clubes e torcidas envolvidas e também o gramado artificial que possui o mais alto selo de certificação fornecida pela FIFA, sendo um gramado sem irregularidades, falhas ou buracos – que não se solta aos tufos como vemos por outros campos – permitindo que a bola role com tranquilidade e perfeição.
Estes exemplos citados, fazem com que o Atlético esteja nos últimos 20 anos num merecido e destacado papel de pioneiro na modernização da gestão do nosso futebol. Um clube que paga em dia, que não tem dívidas, que não entregou seu estádio para que empreiteiras fizessem o que dele bem entendessem, que não opera no vermelho, com uma invejável administração financeira, que alia responsabilidade e planejamento com inovação.
Falta agora tentar entender porque este crescimento proporcionado pelo seu modelo de gestão europeu, não se traduz em resultados dentro do campo, fazendo com que nos perguntemos de porque o Atlético tendo ao alcance das mãos todas as ferramentas necessárias para se tornar um clube competitivo e vencedor, não consegue sequer a hegemonia no próprio quintal, o estado do PR.
No ano de 2010, foi o ano em que pela primeira vez o Atlético colocou o certame estadual em segundo plano, para priorizar competições maiores no cenário nacional. Quando desta feita, concordei com a avaliação de que o Atlético havia se tornado maior que o Campeonato Estadual, principalmente pelos desmandos da Federação Paranaense de Futebol, e pela insistência da Rede Globo do PR (RPC) em tratar o campeonato como uma fanfarra e oferecer verdadeiras esmolas como direitos de TV ao Atlético.
Porém, o que se projetou lá atrás, de que o Atlético, alongando a sua pré-temporada, em detrimento do estadual, adquiriria vantagem no campo, atingido uma maior competitividade no cenário nacional, se realizou apenas como lampejo e não como regra, ficando em terceiro lugar no campeonato brasileiro e atingindo o vice campeonato da Copa do Brasil na temporada de 2013. Fora isso, não podemos fugir do fato de que o Atlético tem realizado campanhas apenas irregulares no campeonato brasileiro, chegando a cair para a segunda divisão em 2011 e ficando 6 anos sem um título sequer, pondo fim ao jejum no estadual de 2016, mais por pressão e insatisfação da torcida, do que por qualquer outra coisa.
Ora, como podemos conquistar o mundo até 2024, conforme proposto pelo próprio Petraglia, se não conseguimos sair do próprio quintal? Enquanto o Atlético olha para o alto e vislumbra ser dono do mundo, na realidade que nos cerca, vemos o nosso clube abandonar o estadual sem conseguir transformar isso em resultados no cenário nacional e o crescimento que almejamos é ainda apenas um sonho.
Na esteira disso tudo, vem a tentativa de implantação de uma cultura inglesa de torcida dócil, teatral e elitizada, onde as bandeiras e instrumentos estão proibidos. Nos 42 mil lugares da nova Arena da Baixada, que aliás, nem se chama mais Arena da Baixada ou Joaquim Américo, mas, Estádio Atlético Paranaense, não há sequer um setor popular, com ingressos populares onde a torcida possa ver o jogo de pé e fazer a festa e a pressão tão conhecida e temida pelos nossos adversários no passado.
Antes que se possa pensar que estou tentando fazer apologia do passado e que magoado pela péssima temporada que fazemos, esteja possuído por um onda nostálgica, devo salientar, de que me agrada muito boa parte das realizações promovidas por este grupo de gestores, mas como torcedor, gostaria, óbvio, de ver tudo isso indo para o campo.
Para citar alguns pontos mais objetivos, a gestão tão eficiente no extra campo, tem-se revelado uma verdadeira desordem dentro de campo. Dispensas estranhas de jogadores que hoje estão fazendo falta, como o lateral Léo, os atacantes Walter e André Lima e o meia Vinícius.
Contratações pouco inteligentes de jogadores em curva descendente na carreira, como o volante Lucho González, o zagueiro Paulo André, o meia Carlos Alberto e o atacante Grafite (os dois últimos até pediram pra ir embora). Soma-se a isso a irritante insistência e teimosia com jogadores fracos e em péssima fase como Rossetto, Eduardo Henrique, Pablo e Douglas Coutinho e a improvisação de um meia na lateral esquerda e temos aquilo que todos nós temos visto jogo após jogo neste ano, um time sem variação no esquema de jogo, com muita correria e pouca objetividade no terço final do campo, com uma posse de bola estéril, não esquecendo o completo esfacelamento do sólido sistema defensivo da temporada passada, onde o Atlético tem sofrido constantemente com mal posicionamento e tomado gols mais por seus deméritos do que méritos dos adversários.
E se a desorganização do time já não fosse o bastante, a tão aclamada gestão CAP GIGANTE no ano de 2017 permitiu uma BAGUNÇA GIGANTE, onde o Sr. Paulo Autuori, que fez o planejamento e montagem da equipe e em junho no meio da temporada, frente ao fraco futebol e a pressão da torcida, pediu pra sair e caiu pra cima, antecipando o seu projeto de tornar-se gestor de futebol. Nesse processo, atuou de maneira decisiva para trazer o treinador Eduardo Baptista para substituí-lo no comando da equipe. Um treinador sem a envergadura necessária para acertar um time em meio de temporada, que sequer conseguiu dar uma cara para o time, repetindo sempre o mesmo esquema, escalação e erros de seu antecessor. Aí a gestão na tentativa louvável de corrigir o erro, demite o escolhido de Autuori que – ao invés de reassumir a equipe que ele montou até que se redefina um caminho – entrega seu cargo e fala em ser fiel a seus princípios(?), para depois de uma semana retornar ao clube que se nada tivesse acontecido.
Agora passamos do meio da temporada e o que temos? Um time eliminado da Copa do Brasil, virtualmente eliminado da Copa Libertadores e na corda bamba prestes a lutar novamente contra a segunda divisão até a última rodada do campeonato brasileiro, com a inexpressiva média de menos de um gol por jogo e depois de mais uma derrota em casa para um time que não vencia fora a 21 jogos no campeonato brasileiro, temos que ouvir o Sr. Eduardo da Silva dizer que o time tem que jogar feio, jogar fechado e esperar por uma bola. Ora cara pálida, quer dizer que o nosso problema é então o futebol bonito sem resultado? Meu Deus, que fase!
A verdade que podemos extrair disso tudo meus amigos rubro-negros, é de que essa crise de identidade está deixando o Atlético sem alma e cinza tal qual as cadeiras e a fachada do novo Estádio Atlético Paranaense. Um clube deve existir em razão de sua torcida, mas, estamos deixando de ser uma torcida e um clube para nos tornarmos uma empresa com clientes. É famosa a sentença que diz que a diferença entre o remédio e o veneno está na dose, pois, estamos vivendo a crise desta dosagem e precisamos encontrar o equilíbrio, pois, é perfeitamente possível e necessário sermos organizados na gestão financeira e patrimonial e também competitivos, vibrantes e vencedores dentro de campo, pois no final de tudo, o Atlético é maior do que as pessoas que la estiveram e que la estão. É maior do que a crise. É maior que tudo!