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17 set 2017 - 19h35

A Fábula (pós-moderna) de Samuel e o Gigante

Em janeiro deste ano, atendendo ao apelo da Diretoria do CAP no sentido de angariar novos sócios-torcedores aumentando a torcida presente nos jogos dos vários e importantes campeonatos para os quais ou clube se qualificou, aderi a um dos planos, o SÓCIO FAN (SFF). Não devido às promoções, benefícios ou vantagens, apenas pela possibilidade de arcar com uma despesa que considerei justa para uma cadeira no andar superior do estádio atrás do gol e, logicamente, pelo meu amor ao Atlético.

Eis que, nove meses depois, sou atingido diretamente por medida tomada contra a Torcida Organizada Os Fanáticos, ou seja, a majoração dos ingressos em 50%, afetando todos os torcedores que aderiram a esta modalidade societária, isto é, inclusive nós, Os Não Fanáticos, alocados no setor Buenos Aires superior.

Existe no Direito Penal pátrio, o Princípio da Individualização da Pena, ligado ao Princípio da Responsabilidade Pessoal, sinônimos de pessoalidade e intranscendência da pena, por fim, invocando natureza de personalidade nos casos concretos submetidos ao Estado-Juiz. Sua observância, segue o artigo 5º, XLV da Constituição da República Federativa do Brasil, onde se determina que “NENHUMA PENA PASSARÁ DA PESSOA DO CONDENADO, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido” (caixa alta minha).

O Departamento Jurídico do CAP, formado em “terrae brasillis”, a “Pindorama” dos “zumbis jurídicos” – elementos do folclore real do maestro Lenio Streck – orientou-se através de sua hermenêutica via interpretação extensiva, a considerar por analogia que ‘a obrigação de reparar o dano pode passar do apenado’. Isso como se nós, Os Não Fanáticos, fizéssemos parte da linha sucessória dos acusados e sentenciados, cujos crimes foram arrolados em nota publicada no site do Clube, acendendo o campo da descoberta dos ‘decisionistas’, que assim justificara à meia-luz o aumento estapafúrdio na mensalidade como sentença “administrativa”, sem julgamento de mérito. Trânsito julgado. Bingo!

Parece que o cheiro da maconha soprava também a partir do anel superior da Buenos Aires, em direção às demais partes da Arena – justificando o nome da rua ou não? Você decide. Não obstante a tecnologia atual possa individualizar e responsabilizar individualmente tais meliantes e suas respectivas intentadas, mais fácil é jogar todos, Os F e Os NF (SFF), juntos no balaio acusatório da criminalidade, julgá-los sem ampla defesa nem contraditório, e sentenciá-los com a majoração dos planos: assim, o iter criminis fica bem mais curto.

O que existe no anel superior da Buenos Aires? Lá, há cadeiras com tamanho programado para um adulto de 70kg (não praticante de halterofilismo e nem com sobrepeso, franzino, com biótipo de paranista), com pouquíssimo espaço para circulação na respectiva fila. Lá, de janeiro até 14 do mês corrente, posso assegurar que dificilmente vi algum torcedor com a camisa da Organizada; vi sim, gente com as outras que estão à venda na loja do clube, incluindo um considerável número usando as antigas, com outros patrocinadores máster. Lá, há diversos seguranças alaranjados feitos bonecos de posto, voltados para a torcida, mas que pouco se mexem no sentido de interpelar os não raros fumantes e, principalmente, de fazer valer cláusula contratual onde cabe ao SFF “não se postar de forma a prejudicar a visão do campo por outros torcedores presentes ao estádio”: tenho algumas fotos destes infelizes momentos em que tais “torcedores” permanecem (os dois tempos do jogo) em pé, inclusive concentrados nos seus celulares, sentando apenas no intervalo: inversão de valores? Sim, também de condutas e comportamentos, caracterizando a deseducação que predomina em toda a Arena, cidade, estado, país; mesmo não sendo culpa do Clube, este devia através de seus sukitas, coibir a atitude dos jacarés que não têm bunda pra sentar.

Pois é… educação… Os Fanáticos. Nunca estabeleci relação com eles, exceção feita àquela viagem ao Rio para assistir os 25 minutos finais do jogo com o Vasco em 2004 (viagem limpa, destaque-se, no ônibus do Julião). Possuo aversão a drogas e a assistir jogos em pé, pois tenho dois joelhos operados em virtude do futebol amador, L4 idem. Não somos Os Fanáticos. Apoiei quando eles defenderam nossa torcida contra os mercenários de Eurico em Joinville. Mas os deletei para sempre quando revelaram que o maior ídolo deles é o fascista parcial em Curitiba, o agente da CIA, aquele mesmo, responsável indireto pelo desemprego de mais de sete milhões de brasileiros; aquele que, ao ser chamado de juiz, consideramos uma ofensa à Magistratura. Mas a homenagem estava lá, com direito a faixa e tudo.

Portanto, não tenho ligação de natureza alguma com a Organizada. Mas sofri o apenamento a ela imposto, sob o discurso de que tais fatos de sua autoria, foram os responsáveis pelo aumento, culpabilidade dela. Discursos, delações, leis só para alguns… assim caminha a sociedade no seio neoplásico do capitalismo desenfreado. Constituição, legislação infraordinária, instrumentos jurídicos, instituições sociais, tudo acontecendo sem força, sem provas, muito ao léu do ‘falacianismo’. Isso remete a outras lembranças… “mimados”, “torcida de merda”, entre outras pérolas mcpistas.

Quanto ao Código de Defesa do Consumidor, os causídicos do CAP ignoraram, pela ordem:
1. A vulnerabilidade do (torcedor como) consumidor no mercado de consumo.
2. A presença de cláusula abusiva (item 2.a do contrato) permitindo a revisão da taxa de manutenção a qualquer tempo por deliberalidade ou discricionariedade do Conselho Administrativo.
3. A revisão (item 13 do contrato) que permitiu, em razão de fatos supervenientes, a cobrança excessivamente onerosa pelo acréscimo de 50% na mensalidade.
4. A condição social de parte da torcida atingida para impingir-lhe seus produtos ou serviços, exigindo daquela vantagem manifestamente excessiva.
5. A ausência de justa causa que realmente explicasse a elevação dos valores.
6. Que a interpretação do contrato deve ser mais favorável ao consumidor.
7. Que é mesmo cláusula abusiva a variação/modificação do preço de maneira unilateral por parte do fornecedor.
8. Que é exagerada a vantagem excessivamente onerosa de 50% para o consumidor.
9. Que é crime contra a relação de consumo omitir informação relevante sobre durabilidade e preço de produtos ou serviços: alguém sabia em janeiro que a integração ao quadro social do CAP era nada mais que uma “promoção” ou mero “benefício financeiro”? Por que não limitaram tal desconto à Organizada? Todos somos compulsoriamente Caveira?

Quanto ao Estatuto do Torcedor, mais negligência:
1. Ignoraram que os outros sócios da referida modalidade não são integrantes da TOF, não pertencendo portanto ao cadastro obrigatório da mesma perante o Clube, estando isentos de sanções por não possuírem legitimidade passiva.

Antes, os R$100 eram considerados uma medida inclusiva, hoje os R$150 são valor único e equitativo. É mais justo, pois não houve Golpe de Estado, nem há 14 milhões de desempregados e o país está sendo conduzido por gente proba, rumo à igualdade social e à emancipação popular. Subindo 50% o plano, o Conselho Administrativo sói reprimir e prevenir novas desordens: agora, sem incentivo, só fica quem pode pagar e quem é bonzinho.

Interessante, é que todos nós, Os Não Fanáticos, não participamos do tal acordo com as organizadas em 2013. Há quatro anos um acordo surte efeito como benefício somente no inicio deste ano: no mínimo estranho, recorrer ao passado para justificar medida contemporânea. Que pena, se soubéssemos que seríamos considerados integrantes delas, saberíamos do combinado, aí eu teria arrancado a minha cadeira lá na fila N, instalado um caixote e confeccionado a minha supercaveira, biônica, binladesca ou bushniana, metendo muito mais medo nos adversários, a ser conhecida no mundo todo, fruto do “baita benefício”.

Mas não. Nós, os SFF Não Fanáticos, fomos todos rotulados e estereotipados e chagados e alcunhados e epitetados e qualificados como Os Fanáticos. Não tinha o “somos todos Cunhas”? Pois então “somos todos Os Fanáticos”. Sejam 50 ou 20, 30 ou 70 reais de aumento, não importa. Importa é o produto (conteúdo e forma) que está sendo vendido como empreendimento visionário, majorado sem aviso prévio. Penso que deu pra ele. Também para aquele 78 rotações que fala “A-te-lé-t-ko”. E ainda para o mais novo filisteu, que volte ao CRO e seus brackets. Futebol, é outra dimensão. Tudo tem seu tempo: foi-se o tempo da engenharia, das estruturas e da tecnologia; agora urge Futebol, com maiúscula e sem Coutinho, Pablo e Deivid.

Sou do tempo em que atravessávamos o estádio no intervalo, encontrando os amigos e indo sentar atrás do gol adversário. Hoje a famigerada setorização lhe obriga a sentar num só lugar, a vida toda. Pois se você cometer um crime em sua cadeira, saberão quem é você. Não precisa filmar o rosto, basta um corpo espremido numa cadeira. Na Arena Visionária, os torcedores são criminosos em potencial, não têm rosto e estão perdendo a voz. No país do Golpe, já não cantam mais o hino. A meteorologia avisa: está aumentando significativamente a nebulosidade sob o teto retrátil…

Conclusões, minhas:
a) São amadores os dirigentes responsáveis pelas relações com os torcedores
b) O CAP está no clímax da elitização de sua Empresa outrora clube de futebol
c) A diretoria se perdeu diante de tanta luz no caminho
d) A Arena em breve se tornará um espetáculo de cinza & silêncio…

Na fábula da vida real, não fomos todos David. Porque fomos apenas sacerdotes Samuel, não nos tornamos reis e portanto não derrubamos o Gigante. Golias e seus filisteus continuam no poder. Não achamos a pedra que o derrubasse. A pedra filosofal. A pedra, na fábula da vida real, seria o voto. Mas o voto é pra quem fica. E pra quem fica, thau…

ps:
novo pacote = R$150,00. Com direito aos jogos locais.

pacote NET após 2 meses = R$52,00 (digital) ou 110 (HD). Com direito a jogos fora, os que não estiverem inclusos veremos pela WEB. Mais: sofá, cerveja, churras e quantos amigos puderem. E direito a desligar a TV e não pagar vintão de estacionamento por já estar em casa quando entrarem Douglas Coutinho e Pablo…

ps 2: Toca Saul !!!!..



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