26 mar 2019 - 12h27

2001: O dia em que eu e Gabiru vestimos as faixas de campeão

Nesses 95 anos, não quero falar mais do mesmo. Vou lembrar momentos marcantes, frases e heróis improváveis.

Dez anos antes, esta história não passaria de um devaneio: um time competitivo e estável na série A, participação excelente em uma Libertadores, estádio referência na América do Sul, CT de ponta, revelação de craques em série e vendas lucrativas…

Um pouco de memória dos heróis

Lembro de uma conversa antes de iniciar o Brasileiro 2001, com um cliente atleticano, em que falei: “Jamais chegaremos a lugar algum com jogadores como Erandir e Rogério Corrêa” – que cornetada! Quero continuar queimando a língua assim…

“Ou o Atlético acaba com a noite ou a noite acaba com o Atlético” – frase do saudoso Mario Sérgio Pontes de Paiva – outra bela queimada de língua – no momento de sua saída do cargo.

Veio Geninho, o comandante das churrascadas após as partidas. Foi ele também quem entregou as faixas de campeão, antes da finalíssima, ainda na preleção em São Caetano do Sul, avisando aos atletas que o título já era deles. Era só confirmar nos próximos 90 minutos.

Este elenco mágico era chefiado pelo capitão Nem, que na entrada em campo era carinhosamente saudado pelos Fanáticos aos gritos de “é Carambola, é Carambola”. Professor Riva Carli fazia a rapaziada transpirar forte, desde a pré-temporada em três turnos, iniciando às seis da manhã, na famosa alvorada festiva. Isso que fez o elenco voar até o Natal, e que Natal, diga-se de passagem…

Kléber, para nós atleticanos, O Incendiário e não Pereira, velou 7 avós enquanto jogou no Furacão, perdeu uma correntinha no gramado, que ficou procurando durante o jogo e era sensitivo: quando pedia a 10 no vestiário, era atuação de gala, com direito até a gol de falta.

Outra passagem emblemática: após o épico empate com o Guarani em 2 a 2, aos 47 do segundo tempo, aproximadamente um mês antes do título, um repórter entrevista o capitão Nem na saída do jogo, que ainda com a adrenalina a mil, é questionado sobre o jogo. A resposta do zagueirão retrata o clima do nosso vestiário e a confiança que tínhamos naquele momento: “Eu só sei que eu sou o melhor líbero do Brasil!!!” – bradou ele ao microfone da rádio.

Cocito, hostilizado pela imprensa do eixo após o lance que tirou Kaká do jogo nas quartas-de-fina contra o São Paulo, ganhou um maldoso apelido. Campeão Brasileiro, foi questionado por um repórter de TV, sobre o que achava do treinador do azulão, Jair Picerni, ter comentado o apelido, a forte marcação imposta pelo Furacão nos dois jogos e o fato de ele ser um jogador duro. Com seu estilo próprio, o cão de guarda soltou essa: “Pior é ele, que é o Vicerni”.

O predestinado

Mas meu herói preferido chegou ao clube em 1998, desnutrido, miúdo e meio bicho do mato, passou por um processo que o fez crescer alguns centímetros, ganhar massa muscular, o Brasil e o mundo. Sempre teve dificuldades em dar entrevistas, enrolado pra falar, mas querido por todos: Adriano Gabiru. Ele era o motor deste time, combatia, desarmava, armava, imprimia velocidade, sofria faltas e reviveu a mística da camisa 8 de Sicupira e de Lino.

E eu, que já havia dormido na fila dos ingressos antes do jogo da semifinal, contra o Fluminense, de novo antes da final, contra o São Caetano, levo essa experiência como algo fenomenal. O primeiro jogo da final estava praticamente selado, 45 do segundo tempo, 3 a 2, virada incrível, Igor já havia entrado pra fechar a casa e garantir o resultado, mas fugiu pela esquerda e foi prender a bola na bandeira do escanteio, deixando nós todos e Geninho loucos na beira do campo. Na sequência dessa jogada, num bate e rebate, o Gabiru recebe dentro da área e leva o rapa. O árbitro aponta a marca da cal e o monstro desnutrido, caído, sentado, a poucos metros de mim, com os dois braços erguidos, comemora e vibra, tendo a mesma certeza que eu: já éramos campeões brasileiros com aquele pênalti!!! No gramado ele vibrou, na arquibancada, eu chorei, chorei por mais de dez minutos, nem vi o terceiro milagre de Alex Mineiro de tantas lágrimas. 4 a 2 na mala pra São Caetano. Antes mesmo de eu saber o que Geninho faria no domingo seguinte, com as faixas de campeão, eu e Gabiru as vestimos, naquele dia mesmo!

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