Um Senhor atleticano
No setor Getúlio Vargas 116 da Arena da Baixada, entre a linha do meio de campo e a linha de fundo, em direção ao setor Buenos Aires, em todo jogo do Athletico, faça chuva ou faça sol, encontra-se o senhor Edelcio Moura, 66 anos, metalúrgico e atleticano desde 1971.
Não, não é o ano que ele nasceu. O “marco zero” do seu atleticanismo é de quando ele assistiu o primeiro jogo do então Atlético, contra o Londrina, no Joaquim Américo. Ele tinha 19 anos. Desde então, conta nos dedos das mãos os jogos em que não esteve presente na Baixada – e por motivos de saúde.
Natural de Pérola, município perto de Umuarama e a 600km de Curitiba, Edelcio só conhecia o Athletico por ouvir falar. Nunca teve nenhum tipo de contato com o clube quando morava por lá, nem por rádio. Não conhecia nada do futebol em Curitiba e só tinha visto o Coxa pela TV uma vez.
“Um amigo me convidou para assistir Athletico x Londrina. Fui e quando vi a torcida do Furacão eu pensei: é este mesmo!”, relata, com um sorriso largo, lembrando do jogo como se fosse hoje.
“Lá no interior só se fala nos times paulistas, mas eu nunca tinha me interessado”, explica Moura. De desinteressado, passou a acompanhar até os treinos, quando isso era permitido. E frequentava, no antigo ginásio que existia ao lado da Baixada, os bailes de carnaval.
Uma família atleticana
Apesar de toda dedicação e paixão, Edelcio só conseguiu se tornar sócio em 2010, período que a economia brasileira estava em alta.
Mas levou a torcida pelo Athletico a sério. A paixão é passada de geração em geração. “Eu sou atleticano, meus seis filhos, oito netos e três bisnetos também são”, comenta, orgulhoso. “Meu bisneto que tem 7 anos fica em frente da TV todo dia que tem jogo”, conta ele, sobre a torcida do garoto para que a partida seja transmitida.
Questionado sobre qual a partida que mais o marcou como torcedor, ele não pensou duas vezes: “Athletico x Flamengo, em 1983, no Couto Pereira. Eu estava lá”. Este jogo é até hoje o recorde de público do estádio do Coxa: 67.391 pessoas. Edelcio foi uma delas.
Sobre frequentar o estádio no passado e agora, deixa claro que prefere outros tempos. “Tenho saudades daquela época. Se for para eu vir aqui e ficar de braço cruzado não quero. Tenho que vir para gritar, encher o saco do árbitro. Tá ficando chato. Futebol é festa. É o povão com bandeiras e bexigas”, lamenta.
Seu ídolo de todos os tempos é Sicupira. Mas lembra de outros jogadores que o alegraram vestindo a camisa rubro-negra: Nilson Borges, Carlinhos Sabiá, Coração Valente, entre outros.
As conquistas
Fala com orgulho por ter saído na capa de um jornal no dia seguinte à conquista do título da Copa Sul-Americana. “Meus amigos falam: ‘você estava lá’. Meu próprio patrão não conseguiu ingresso”, sorri ao ostentar a alegria.
Quando o general Thiago Heleno converteu o pênalti decisivo, ele teve uma explosão de alegria. O momento foi clicado por um repórter fotográfico e ficou famoso na capa do jornal.
Edelcio quer mais títulos este ano – pelo menos o da Copa do Brasil, mas sem deixar de sonhar com o maior torneio interclubes do continente. “Com este time podemos chegar na final da Libertadores”, sonha, garantindo que na atualidade o Furacão é um dos grandes, à frente de Santos, Botafogo, Vasco, Fluminense e São Paulo.
Antes de encerrar o papo, esse torcedor de quase cinco décadas de arquibancada fez questão de enviar um recado para seu atual ídolo, Lucho González: “Gostaria de dizer para o Lucho nos trazer a Libertadores. É um maestro. É o Tiago Nunes dentro de campo”.