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2 maio 2019 - 0h03

Continuação: Athleticanismo, razão e ciência – Lições do velho e bom “Niccão” ao nosso querido “Prínci-dente”

Texto adaptado de MACHIAVELLI, Niccolò, O PRÍNCIPE, escrito em 1505 e publicado em 1515.

Apresentado em partes este texto não tem a pretensão de constituir-se como uma análise política e econômica dos governos que se sucedem no nosso amado Athletico Paranaense. Serve apenas de maneira irônica e metafórica, para que com a sutileza e respeito que nosso presidente exige, segue como uma homenagem e problematização crítica dos possíveis rumos que nosso Furacão pode tomar. Espero que os entendedores o entenda, porque o futebol é muito grande para eximir-se de uma boa leitura!

Capítulo III – Os Times de Futebol mistos.

Mas é nos ‘times com donos novos’ que residem as dificuldades. Em primeiro lugar, se não é totalmente novo mas sim como membro anexado a um ‘clube social’ (que pode chamar-se ‘quase mistos’), as suas variações resultam principalmente de uma natural dificuldade inerente a todos os clubes novos: é que os torcedores, com satisfação, não mudam de time pensando em melhorar e esta crença faz com que lancem mão de armas contra o próprio time, no que se enganam, porque, pela própria experiência, percebem mais tarde ter piorado a situação. Isso depende de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual faz com que o ‘novo dono’ sempre precise ofender os novos torcedores com seus poderes e com outras injúrias que se lançam sobre a recente conquista; dessa forma, tens como inimigos todos aqueles que ofendeste com a compra daquele Clube e não podes manter como amigos o que te puseram ali, por não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham imaginado, nem aplicar-lhes corretivos violentos, uma vez que estás a eles obrigado; porque sempre, mesmo que com muito dinheiro, tem-se necessidade de apoio dos torcedores para perpetuar-se enquanto marca e identidade de clube de futebol. Foi por essas razões que Rivaldo tornou-se rapidamente dono do Mogi Mirim Esporte Clube, time que o revelou e logo depois o vendeu, bastando um grupo de empresários com mais capital, porque os torcedores lhe haviam aberto as portas, reconhecendo o erro de seu pensar anterior e descrentes daquele bem-estar futuro que haviam imaginado, não mais podiam suportar os fracassos ocasionado pelo novo dono.

É bem verdade que, reconquistando posteriormente os torcedores mais rebeldes, mais dificilmente se as perdem, eis que o dono, em razão dos torcedores revoltados, é menos vacilante em assegurar-se da punição daqueles que lhe faltaram com paciência (de torcedor é bem curta), em rotular e estigmatizar os suspeitos e em reparar os pontos mais fracos.

Digo, consequentemente, que estes times de donos comprados e anexados a um clube social antigo, ou são de um mesmo perfil cultural e social, ou não o são: quando o sejam, é sumamente fácil mantê-los torcendo, ainda mais quando não estejam habituados a ter em vitórias ou títulos, para dominá-los será bastante ter-se extinguido a estirpe derrotista, porque nas outras coisas, conservando-se suas velhas condições e não existindo alteração dos costumes, os homens passam a ver-lhes tranquilamente, como se viu ter ocorrido no Chelsea, PSG, Shakhtar Donetsk, Manchester United e outros clubes da Europa, mas graças as semelhanças de costumes facilmente se acomodaram aos seus donos.

Mas, quando se compra um clube cuja cultura futebolítica, os costumes dos torcedores e as leis diferentes, aqui surgem as dificuldades e é necessário haver muito boa sorte e habilidade para manter os torcedores fiéis. E um dos maiores e mais eficientes remédios seria que o novo dono assuma a mentalidade dos torcedores. Isto tornaria mais segura e duradoura a posse adquirida, como ocorreu nos clubes europeus, que a despeito de ter observado todas as leis locais, não teria conservado seus torcedores se não tivesse assumido a sua mentalidade. Isso porque, estando como torcedor, pode-se ver nascer as desordens e, rapidamente podem ser elas reprimidas; sem tornar-se torcedor, do clube apenas se tem notícias quando já alastradas e não mais passíveis de solução. Além disso, a torcida conquistada não é mobilizada por torcedores históricos; os torcedores ficam satisfeitos porque o recurso econômico se torna mais fácil, donde têm mais razões para amar o clube, tornando-se bons torcedores, e temor pela exclusão ou não participação, caso queiram agir por forma diversa. Quem não for torcedor e desejar comprar o clube (i.e., o time), por ele terá maior respeito; donde, ao assumir a mentalidade de torcedor, o dono somente com muita dificuldade poderá vir a perdê-lo.

Outro remédio eficaz é instalar torcidas cooptadas (i.e., falanges ou milícias) num ou dois pontos de convergência de torcedores, eis que é ou fazer tal ou aí manter muitos torcedores/capangas. Com as torcidas profissionais, não se despende muito e, sem grande custo, podem ser compradas e mantidas, sendo que sua criação prejudica somente àqueles de quem se tomam os lugares na arquibancada para cedê-los aos torcedores cooptados, os quais constituem uma parcela mínima do Clube. Ainda, assim os prejudicados, ficando dispersos e desgostosos, não podem causar dano algum, enquanto que os não lesados ficam à parte, amedrontados, devendo aquietar-se ao pensamento de que não poderão errar para que a eles não ocorra o mesmo que aconteceu àqueles que foram espoliados. Concluo dizendo que esta torcida cooptada não são onerosas, são mais fiéis, ofendem menos e os prejudicados não podem causar mal, tornados desgostosos e dispersos como já foi dito. Mas mantendo em lugar das torcidas cooptadas, torcidas oficiais, gasta-se muito mais, absorvida toda arrecadação do Clube na torcida; dessa forma, a compra transforma-se em perda e ofende muito mais porque danifica todo o clube com as mudanças na organização da arquibancada, incomodo que todos sentem e que transforma cada torcedor em inimigo: e são inimigos que podem causar dano ao ‘novo dono’, pois, vencidos, ficam em sua agonia de torcedor. Sob qualquer ponto a criação dessa ‘torcida oficial’ é inútil, ao passo que a criação das ‘torcidas cooptadas’ é útil.

continua…



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