Parte 4: Athleticanismo, razão e ciência – Lições do velho e bom “Niccão” ao nosso querido “Prínci-dente”

Dedicado ao nosso Presidente Mario Celso Petraglia como fonte de inspiração, assim como fez Niccolò Machiavelli ainda no período que o Brasil e a América (que vamos conquistar), ainda engatinhava.

Texto adaptado de MACHIAVELLI, Niccolò, O PRÍNCIPE, escrito em 1505 e publicado em 1515.

V – Dos torcedores novos que se conquistam com títulos e virtudes próprias.

Não se admire alguém, se na exposição que irei fazer a respeito dos torcedores de ‘time com dono’ e de ‘clube social’, apontar exemplos de instituições que em algum momento tiveram exito e crescimento exponencial de sua torcida ou em número de títulos e conquistas.

Digo, pois, que no ‘time de dono’ completamente novo, onde exista um novo dono, encontra-se menor ou maior dificuldade para mantê-lo, segundo seja mais ou menos vencedor quem o compra. E porque o elevar-se de torcedor a dono pressupõe ou dinheiro par investir, ou apreço e carisma perante a torcida, parece que uma ou duas dessas razões mitigue em parte muitas dificuldades; não obstante, tem-se observado, aquele que menos se apoiou no carisma reteve os torcedores mais facilmente.

Para reportar-me àqueles que pela capacidade de investimento e não pelo carisma tornarem donos de clubes de futebol, digo que os maiores são Carlos Salim (Leon – MEX), Amancio Ortega (Lacoruña – ESP), Alisher Usmanov (Arsenal – ING), George Soros (Manchester United – ING), Rinat Akhmetov (Shakhtar Donetsk – UCR) e Roman Abramovich (Chelsea – ING). E examinando as ações e a vida dos mesmos, não se vê que eles tiveram algo de carismático, se não a ocasião, que lhes forneceu, meios para poder adptar as coisas da forma que melhor lhes aprouve; e, sem aquela oportunidade, o seu valor pessoal ter-se-ia apagado e sem o capital para investimento a oportunidade teria sido em vão.

Era necessário, pois, aos donos, encontrar torcedores, fatigados e desgostosos, a fim de que aquele, para liberar-se se dispusesse a segui-lo. Era preciso que estes encontrassem torcedores descontentes e estes estivessem inclinados a revindicar melhores condições para tornar-se competitivos e assim vencedores.

Os que por sua capacidade e carisma, tornaram-se donos de clubes, conquistam os torcedores com dificuldade, mas com facilidade o conservam; e os obstáculos que lhes apresentam no conquistar os torcedores, em parte nasce das novas disposições econômicas que envolvem o futebol enquanto esporte e a criação de ‘clubes empresas’ que são forçados a regular para fundar sua gestão ou clube e estabelecer sua diretriz política e econômica. Deve-se considerar não haver tarefa mais difícil para cuidar, nem mais duvidosa a conseguir, nem mais perigosa a manejar, que tornar-se dono de um clube de futebol e introduzir novas diretrizes. Isso porque o dono tem por inimigo todos aqueles que obtinham vantagens com as velhas instituições e encontrar fracos defensores naqueles que da nova diretriz se beneficiam. Esta fraqueza nasce, parte por medo dos adversários que ainda tem as leis conformes seus interesses, parte pela incredulidade dos torcedores: estes, em verdade, não crêem nas inovações se não as veem resultar de uma firme experiência. Donde decorre que a qualquer momento em que os inimigos tenham oportunidade de atacar, o fazem com calor de sectários, torcedores adversários, enquanto os outros defendem fracamente, de forma que ao lado deles se corre sério perigo.

É necessário, pois, examinar se esses inovadores se baseiam sobre forças suas próprias ou se dependem de outros, isto é, se para levar avante sua gestão, é preciso que roguem, ou se em realidade podem forçar. No primeiro caso, sempre acabam mal e não realizam coisa alguma; mas, quando dependem de si mesmos e podem forçar, então é que raras vezes perigam. Dai resulta que todos os visionários venceram e os desarmados fracassaram. Porque, além dos fatos apontados, a natureza dos torcedores é variada, sendo assim fácil persuadi-los, mas difícil firmá-los nessa persuasão. Convém, assim, estar preparado para que, quando não acreditarem mais, se possa fazê-los crer pelos títulos.