21 maio 2019 - 22h09

De painel em painel

O ano era 2005. Ainda não havia, na televisão, tantas transmissões de campeonatos de futebol de outros países como hoje. Embora os grandes portais de esporte não fossem como são atualmente, era pela internet a única forma de se ter contato com o que acontecia nas arquibancadas mundo afora.

E foi através da internet, no fórum do site Furacao.com, que o atleticano Thiago Henk – que já admirava as festas realizadas nas arquibancadas europeias e coletava materiais fotográficos sobre elas – lançou a ideia: fazer da Arena o primeiro estádio do Brasil a receber um mosaico. A ideia logo ganhou corpo e várias pessoas se dispuseram a contribuir. Surgia, então, a Comissão de Mosaicos do Furacão.

Por se tratar de um trabalho pioneiro, o aprendizado para organizar a festa aconteceu na base da tentativa e erro. Foram anos aperfeiçoando o modo de fazer Mosaicos. Mari Monteiro, que fez parte da Comissão desde a segunda edição do Mosaico (2006) e chegou a presidi-la, lembra como era o processo: “o primeiro material (usado) foi plástico. Depois passamos para o TNT. Uma equipe cortava, outra conferia e a outra contava quantos painéis eram necessários de cada cor” – diz, lembrando, também, que mesmo com o cansaço, a relação de amizade entre todos era combustível para que o trabalho pudesse ir em frente: “o que movia e ainda move a comissão é o amor ao Athletico, e aí uma faísca que alguém jogava incendiava os demais”.

Quem endossa as palavras de Mari é a atual vice-presidente da Comissão, Dani Starck: “o que temos de mais importante é a nossa torcida. E o Mosaico é feito pela torcida, para a torcida”, diz, destacando o papel não só da Comissão, mas de todos os torcedores que ajudam desde a arrecadação para a compra dos materiais até a montagem do Mosaico, efetivamente.

Os mutirões para corte e organização dos painéis em TNT também fazem parte das memórias de Dani, que lembra especialmente do Mosaico feito na Arena inteira, em 2010, em partida contra o Flamengo: “levou, literalmente, meses (a organização)! Vários finais de semana de trabalho. A gente se reunia pra cortar, via os jogos, pedia pizza… Foi uma época muito legal”.

Na preparação dos grandes Mosaicos, várias pessoas de fora da Comissão prestavam auxílio: desde torcedores recrutados no fórum até integrantes da Torcida Os Fanáticos. Até mesmo um jogador do Athletico chegou a ajudar nos preparativos para um Mosaico: o zagueiro Bruno Costa – que além de ajudar nas tarefas ainda doou uma camisa para ajudar a levantar os fundos para o Mosaico. Detalhe: uma partida antes do mutirão, o zagueiro havia falhado em um gol do adversário. Mesmo assim, deu a cara a tapa e foi ajudar, numa atitude respeitável.

Mesmo com a ajuda massiva da torcida, a Comissão já passou por muitos apertos. Vários imprevistos quase “melaram” a realização de algumas edições da festa. No Mosaico em homenagem ao alemão Lothar Matheus, integrantes da Fanáticos tiveram que subir para o setor Buenos Aires Superior para ajudarem a compor o desenho, devido ao baixo público naquele jogo. O forte vento que batia na Arena em tempos onde não havia um teto no estádio também foi responsável por espalhar painéis e desorganizar layouts em cima da hora da abertura dos portões. Contratempos que compõem a história da Comissão e ajudaram a reforçar o espírito de união e trabalho da equipe.

Atualmente, a Comissão conta com 14 pessoas, que colaboram com as tarefas de comunicação com o clube, redes sociais, layout, contagem/organização, entre outras. Para o jogo contra o River, André Bezerra – membro da Comissão desde 2010 e atual presidente da mesma – foi o grande responsável por articular com o Clube e a Conmebol e conseguir a autorização para a festa. Se vale a pena o trabalho? O Mosaico ainda nem aconteceu, mas André já tem a resposta. Para ele, o Mosaico é uma representação do que é o próprio Athletico: “o clube é algo de todos e depende de cada torcedor tomar um pouco da responsabilidade de fazer o clube cada vez maior”. E finaliza: “É a junção de cada trabalho de formiguinha que faz o todo ser cada vez melhor”.

União do povo

Se todos os participantes da história da Comissão pudessem opinar sobre o sentimento de fazer parte desta festa, certamente todos recorreriam ao que disse a então presidente, Mari Monteiro, no documentário da Petrobrás feito em 2010 sobre nossa torcida: ver o resultado da união do nosso povo é muito foda. E indescritível.

E assim, de painel em painel, e de história em história, a Comissão segue se renovando e sempre se mostrando obstinada a manter vivo o atleticanismo, tanto entre seus membros como em toda a torcida. Afinal, a Arena da Baixada se tornou temida pelo barulho que nossa gente é capaz de fazer, mas no silencioso gesto de levantar os painéis também mora o sentimento de companheirismo e união do nosso povo. E esta comunhão, silenciosa, é o que precede a explosão.

Amanhã é decisão. Chegue cedo, aqueça as cordas vocais (e depois refresque com a cerveja), ajude a formar o Mosaico e vamos, unidos, por mais uma taça.

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