9 jul 2019 - 12h38

A polêmica da “torcida humana” – Parte 1

Qualquer debate que envolva o Athletico não pode ter outro ponto de partida que não seja a opinião do principal mandatário do Clube, Mário Celso Petraglia.

Em 2013, com a Arena da Baixada em obras para a Copa do Mundo de 2014, que tornaria o estádio atleticano, enfim, “completo”, com capacidade para 40 mil torcedores, Petraglia, em resposta à Mauro Cezar Pereira no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, disse não saber se o Athletico teria demanda para uma arena desse tamanho.

Já em 2018, em entrevista ao jornalista Julio Gomes, Petraglia confirmou que tinha uma expectativa que se frustrou após a reforma, não tendo respostas para o baixo público médio da Arena da Baixada:

JG: Pois é. Como o Atlético vai chegar a esses 36, 40 mil sócios? Política de preços? Contratando jogador? Ou talvez se voltar um pouco para a paixão?

MCP: Essa resposta eu já tive. Já tive. Não tenho mais. No pré Copa, eu tinha absoluta certeza que pela qualidade do estádio, pela segurança, pelo conforto, 40 mil sócios seriam fáceis. Para garantir o seu lugar. Temos estimados 2,5 milhões de torcedores. Temos a população de Curitiba em 3,6 milhões. Então pegar 40 mil… teoricamente teria que ser fácil. Acreditávamos que seria fácil. Tem um problema cultural seríssimo. O futebol ninguém sabe se é público ou privado. Estamos sob o regime do direito privado, mas há interferência pública absurda. Estabelece preço do ingresso, metade pra idosos, professores, estudantes, etc. (Governo) não tem que dar nada para sua paixão. E o que ele (torcedor) dá em troca pela paixão dele? Zero. Só exige. O que o brasileiro faz para contribuir com sua paixão? 30 milhões de flamenguistas… o que eles consomem?

JG: O Palmeiras conseguiu chegar nessa equação do estádio cheio.

MCP: É momentâneo. Perde a Libertadores, perde aquele outro… esqueça. É um momento de euforia, uma bolha.

JG: Mas esse cálculo superestimado de pessoas que viriam à Arena, então…

MCP: Você me perguntou qual era a resposta (para conseguir sócios), eu disse que não tinha. Eu tinha lá atrás. Acreditava. Estava errado. Hoje, eu não tenho.

Além de não ter uma resposta para o baixo público em casa do Athletico, Petraglia também explica sua insistência na ideia de torcida única (posteriormente nomeada pelo clube como “torcida humana”), deixando claro que essa se baseia em como o dirigente enxerga o futebol e o esporte como um todo

JG: Por falar em violência. Por que a aposta pela torcida única nos jogos do Atlético? O clube tem uma imagem positiva no país, de modernidade, vanguarda, por que enfrentar todos os torcedores de todos os clubes. Não teme arranhar essa imagem?

MCP: Não, não temo. Falem mal, mas falem de mim.

JG: Por que a torcida única?

MCP: É a visão. No médio, curto prazo, com a inteligência artificial, vai sobrar mais tempo para o homem. Esporte é entretenimento. Ele tem que ir com a família, tem que se divertir no dia do jogo dele. Sem medo.

JG: Esporte é mais que isso, não é?

MCP: Nas culturas mais desenvolvidas, não estão nem aí para perder!

JG: Eu não acho que não estejam nem aí…

MCP: Quando o outro vai atacar ele nem vê, vai tomar chope. Vai comer.

JG: Nos Estados Unidos talvez, mas não na Europa.

MCP: Mas qual é o país mais desenvolvido do mundo?

JG: Ah, eu teria algumas respostas que não são os Estados Unidos…

MCP: Não há dúvida que são os Estados Unidos. Eu não gosto, não me faz bem. Mas só é a nação que é pela cultura imposta, pela democracia, pela liberdade e pelo judiciário, que ali funciona para todos, não só preto e pobre.

JG: Então a torcida única se encaixa em uma ideia de que esporte é entretenimento, como nos Estados Unidos?

MCP: Claro. A médio e longo prazo. O que é a Copa do Mundo? Uma grande festa! Futebol é segundo plano para a maioria. Nós fomos sede de quatro jogos aqui em Curitiba. As pessoas vão ver o futebol como arte, como espetáculo.

JG: Não é cruel com quem é apaixonado pelo esporte, tirá-los da cena?

MCP: Cruel é a situação atual, que todo mundo é escravo dessa paixão maluca.

JG: Mas quero tirar da conta o animal que vai para o estádio matar alguém, bater em alguém. Tem muita gente apaixonada, que não vê o esporte só como entretenimento.

MCP: Isso é cruel, essa paixão.

JG: Mas vamos tirar essa paixão?

MCP: Por que não? Por que temos que ser escravos dela? O homem não pode ser escravo de nenhuma paixão.

JG: Essa paixão não move o futebol?

MCP: Não! O que move o futebol é dinheiro. É grana. É business.

Queda na média de público 

Até o momento o Athetico tem uma modesta média de 13.985 torcedores em 2019 segundo o site do Globo Esporte.com. Desde a instituição da biometria e das restrições ao acesso como a “torcida humana” e as proibições à entrada de bateria, bandeiras e adereços, a Baixada vem experimentando um afastamento, ano a ano do torcedor atleticano.

As médias de público no campeonato brasileiro desde a reinauguração foram as seguintes:

2014 – 16.554

2015 – 16.430

2016 – 15.571

2017 – 13.732

2018 – 10.570

Essas é a primeira de uma série de matérias que abordarão o tema. Pra alimentar o debate, participe (na página inicial) da nova enquete: você é a favor ou contra a torcida única na Baixada?

 



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