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23 jul 2019 - 0h02

Generosidade?

Uma busca rápida no mais simples dicionário permite apurar que o conceito de “generosidade” remete à ideia de gentileza; de adoção de uma prática nobre em favor de algum terceiro, sem qualquer exigência de recompensa. Trata-se de adjetivo destinado a definir conduta cordial, praticada sem nenhuma conotação obrigacional. É o caso do sujeito que doa alimento ao faminto, que presta auxílio ao necessitado e que, de algum modo, dispõe seu tempo em favor de outrem. Corresponde, enfim, a um ato digno de reconhecimento e aplausos.

A identificação conceitual feita acima deriva de espasmos e reflexões que faço com relativa frequência acerca dos rumos do futebol e, principalmente, do nosso amado Atlético Paranaense. Atingimos um nível de carência tal que qualquer atitude menos truculenta adotada em face do torcedor é passível de aplausos.

É evidente que estou tomado de felicidade, como todo e qualquer atleticano, por conta da liberação da festa no estádio. Finalmente, vamos poder espantar o tom acinzentado do campo e cantar “de coração, o tempo todo incentivando o Furacão”. Termos de volta a sinergia natural entre jogadores e torcida, existente desde os primórdios do Atlético Paranaense, time de massa que é e sempre foi.

O ponto, no entanto, é outro. Possui relação com a natureza dessa medida de “liberação” da bateria. Não pretendo – e nem tenho condições – de mudar a opinião de todos. Também não busco, antes de qualquer sinalização maldosa, prejudicar o ambiente do jogo, que está se desenhando maravilhoso. A questão é mesmo de meditação sobre o ponto em que chegamos, e para onde iremos se essa lógica não mudar.

A torcida do Atlético Paranaense sempre foi fanática. Eu a conheci assim, desde que meu pai começou a me levar em campo de futebol. Nunca sequer se cogitou de estabelecer limitação ao uso de instrumentos musicais, ao exercício essencial da liberdade de expressão dentro do estádio (camisas, opiniões variadas e até palavrões) e à concretização da maior virtude que o futebol proporciona: a democracia. O futebol, assim como o Atlético, não tem cor, não tem classe social e não tem credo. É (ou deveria ser) de todos.

Permito-me até parafrasear aqui uma frase dita pelo Fabiano, da Torcida, em uma rápida conversa que tivemos em algum desses jantares em homenagem ao nosso Clube e seus ídolos: “Antes nós não tínhamos nada, mas tínhamos tudo; hoje temos tudo, mas não temos nada”.

Na prática, é isso aí. Os valores se inverteram. E não vou nem me alongar aos diversos aspectos da gestão para não desviar o foco: permanecerei apenas no ponto relacionado à torcida.

O Joaquim Américo hoje possui padrão de Copa do Mundo, mas a última preocupação que se tem com ele é satisfazer o torcedor. O Atlético, campeão da Copa Sulamericana, ceifou da torcida o direito de exercer um papel benéfico ao próprio time, e que tantas vezes já se revelou decisivo e preponderante. Impediu e vem impedindo o direito de torcer, puramente, negando-se de forma irredutível a permitir o ingresso no estádio com instrumentos musicais e camisas da Torcida Organizada, dentre outras coisas.

Todavia, a administração do Clube deve ser feita para seus torcedores. Muito mais do que derivação de expressão literal, trata-se da base precípua em torno do qual o próprio futebol se constituiu.

No Estatuto do Atlético, prevê-se como própria finalidade do Clube o “desenvolvimento das relações sociais” (art. 2º) – o que, de mais a mais, corresponde à própria integração entre pessoas de todas as classes, unindo-se em prol de um objetivo comum: o sucesso do Atlético Paranaense. Há ainda outras previsões relacionadas a direitos dos sócios, inclusive quanto a frequentar as dependências do Clube sem maiores limitações (art. 13).

O Estatuto trata ainda o hino (e, naturalmente, seu conteúdo) como patrimônio cultural do Clube a ser preservado por sócios e atletas, devendo ser executado nas solenidades oficiais (art. 9º, §4º). A composição musical em questão, uma das mais belas do nosso país, adverte: “A camisa rubro-negra só se veste por amor!”. E evidentemente tal premissa se estende a toda e qualquer atribuição que se assuma em nome do Clube. “Vestir a camisa” não esgota sua definição no habilidoso jogador com a camisa 10 no costado. Abrange também os torcedores, demais funcionários e, principalmente, os dirigentes da instituição.

Seria impensável cogitar do exercício da administração do Clube em descompasso com a vontade de seus torcedores. Muito mais do que uma noção derivada do princípio democrático, trata-se de uma questão intrínseca à própria existência do futebol. Mesmo sob uma ótica eminentemente econômica, não seria possível conceber patrocínios e investimentos de tamanha monta se não existissem os “consumidores”, torcedores que investem seu tempo e dinheiro no sustento de suas paixões.

Daí porque a vinculação da “liberação” da festa no estádio com a ideia de generosidade não pode prevalecer. A torcida do Atlético Paranaense constitui a própria razão da existência do Clube, sendo dele indissociável. A festa dessa mesma torcida, seja ela organizada ou não, deve ser exercida de forma plena; o mais enfática possível. É em prol dessa causa que o Clube deve ser gerido, seja por questões estatutárias, seja (principalmente) por questões principiológicas.

Tratar por generoso um ato que PERMITE o exercício de manifestação de sentimentos puros que correspondem à própria essência do Clube é legitimar um regime autoritário, incompatível com o futebol e com o Atlético. É admitir como viável que tenhamos de pedir licença para entrar no NOSSO estádio. Ou, ainda pior, pedir POR FAVOR para exercer plenamente nosso direito de torcer pelo nosso Clube, como ora está se passando.

Para reflexão.

“Atlético, Atlético
Conhecemos teu valor
E a camisa rubro-negra
Só se veste por amor”



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