Tiago Nunes: “vantagem não é determinante, mas é importante”
Na coletiva de imprensa realizada após a vitória por 1 a 0 sobre o Internacional na final da Copa do Brasil, o técnico Tiago Nunes adotou uma postura cautelosa ao comentar sobre a vantagem obtida para o confronto decisivo, a ser disputado no Beira Rio: “numa final tão parelha, qualquer vantagem não é determinante, mas é importante”, afirmou o treinador atleticano.
Confira abaixo os principais temas abordados durante a entrevista:
Avaliação da partida
“Jogo com ingredientes de uma final, tenso. Posse de bola não traduz o que foi o jogo, dominamos a bola a maior parte do tempo, mas o Inter teve chances iguais a gente. Jogo tenso porque tem que ter um nível de criatividade em um espaço curto, e você acaba fazendo um jogo previsível. No primeiro tempo fomos um pouco lentos, no segundo tempo melhoramos um pouco mais. ”
Postura para o jogo decisivo
“O jogo não se condiciona só por uma equipe. Nosso desejo é propor o jogo, mas tem um componente que é o adversário. Eles vão ser mais agressivos, subir a marcação. Já passamos por situações parecidas no ano. O jogo contra o River foi um jogo de muitos ensinamentos. E quando eu falei lá atrás, que a gente precisa aprender a cada momento, o Athletico vem desempenhando um futebol e vem aprendendo com cada situação. A gente espera tirar o máximo proveito do que a gente passou já na temporada, pra tentar buscar o resultado lá no Beira Rio, mas sabendo que mentalmente e fisicamente tem que estar muito forte para superar um adversário tão bom quanto é o Inter.
Cittadini
“Não tem um padrão de comportamento nas relações com os jogadores. Todo mundo quer jogar, e meu papel como treinador é dar valorizar todos da mesma maneira. A foto da equipe que inicia a temporada não é a mesma da equipe que termina, e eu vou tentando oportunizar nos treinamentos e também nos jogos, e o cara que vai dando a melhor resposta vai tendo mais oportunidades. O Cittadini dá muita mobilidade, se desloca muito, consegue equilibrar as situações de ser agressivo ao marcar, mas também tem chegada, pisa na área. Então as oportunidades vão aparecendo”
Escolha por repetir a formação e as alterações
A entrada do Marcelo era pra aumentar o movimento no campo ofensivo. Ele consegue fazer mais bolas de infiltração que o Marco. E também ajudaria em contra-ataque porque o Inter saiu mais pro jogo. Mas acabamos perdendo força defensiva, não pelo Marcelo e pelo Thonny, até por uma situação muito particular: o Bruno jogou com dois amarelos e tivemos que cercar muito o time do Inter. Tentei corrigir colocando o Bruno mais na frente, tirando de uma zona onde teria que ser mais agressivo e colocando o Lucho que é muito experiente e poderia controlar isso. O próprio Rony não foi o mesmo jogador em termos de agressividade defensiva que ele é, por causa dos dois amarelos. Estava preocupado com o Khellven, que já tinha amarelo, então trouxe o Marcelo para proteger mais ele. Então tem o contexto técnico e tático, mas o emocional é da hora, do feeling.
Bruno Guimarães e Geninho
O Bruno é um grande jogador, um menino muito esforçado. Ele tem um repertório dele. Ocupa espaço no campo, interpreta na hora, tem uma tomada de decisão muito assertiva. Tem muita personalidade pra pisar dentro da área adversária, arriscar jogadas. Chamei ele muito porque estávamos carregando demais a bola e precisávamos acelerar a circulação, e ele foi premiado com o gol, uma jogada de combinação. Em jogos decisivos ele tem uma importância bastante significativa. Sobre o mestre Geninho, eu nem lembrava desta foto (que circulou na internet, na qual o treinador campeão brasileiro pelo Athletico em 2001 estava junto com o atual treinador, Tiago Nunes, em um evento no Morumbi). Em 2003 eu fui fazer um curso em São Paulo, ele foi um dos palestrantes, e eu pedi pra tirar uma foto com ele. Sobre essa declaração (dada por Geninho) de eu “botar mais frutas na cesta”, é bondade dele. Eu só consigo viver esse momento positivo no Athletico porque ele plantou algo antes. Como outros treinadores que passaram antes de mim: Paulo (Autuori), Vadão, seu Pepe, ele (Geninho), Antonio Lopes. Eu sou consequência de um monte de gente que veio antes de mim, mas esses caras tiveram uma missão muito mais difícil do que a minha, porque foram pioneiros.
Vantagem
A vantagem não é determinante, porque um chute no primeiro minuto pode acabar com ela. Tivemos como exemplo a semifinal. Mas ela (a vantagem) é muito importante. Se a gente jogar pensando nela, a gente vai perder o jogo. Temos que ir lá fazer um grande jogo, respeitar o Inter e merecer muito. Tem um aspecto que não controlamos que é o emocional do jogador. Se a gente estiver num dia muito bom, a gente tem chance de buscar esse título.
Robson Bambu
Difícil marcar o Guerrero. E o Internacional explora muito o jogo de pivô. Robson fez uma boa partida, muito concentrado, abraçou a oportunidade e meu papel foi o mais fácil, porque foi ver a boa atuação dele (contra o Grêmio, pela semifinal) e dar a oportunidade. Parabenizar ele, mas sabemos que a vida do defensor não é fácil porque em um lance capital pode colocar tudo a perder.
Autoavaliação e mercado
Eu sou um pouco reticente em falar em futebol moderno. Futebol é um só. E a ideia de associar idade com qualidade me preocupa. Temos muitos treinadores que foram inspiração pra nós que estamos chegando e já tem mais de 60 anos. E o futebol é muito cíclico. Falamos em inovação, mas jogamos como se jogava 30 anos atrás. Sobre ser uma realidade no mercado, não me preocupo com isso. Athletico é meu 22º clube. Já estou com uma trajetória bem longa. Minha escola foi no interior dos clubes do Brasil. Isso tudo me fortaleceu pra eu hoje estar à vontade onde estou. Se vou ficar muito tempo aqui, só papai do céu sabe. Estou me esforçando muito pra merecer essa confiança. É difícil você disputar finais, chegar nelas. Então, independente do resultado do Beira Rio, estou feliz por poder compartilhar deste momento mais uma vez, colocando o Athletico num cenário de destaque no cenário nacional.