19 set 2019 - 9h32

O sonho

A partir de um determinado momento da minha vida, perdi a capacidade de sonhar. Não demorou muito para que eu precisasse adentrar um consultório de psicologia, que até hoje frequento semanalmente em busca de resgatar coisas importantes dentro de mim. E embora o aprendizado sobre os dribles que levo da minha própria mente seja lento e gradual, o que consegui absorver mais cedo foi que o que tornava minha vida sem brilho era justamente essa incapacidade de fantasiar e de imaginar que coisas grandes seriam possíveis de serem atingidas.

A verdade é que pra sonhar é preciso muita coragem. Se você não atinge algo com que sonhou com toda a sua força, a frustração é dolorida.

Pra sonhar também é preciso uma dose de loucura. “Si no perde la cabeza, no puede soñar”, diz uma canção da qual eu gosto muito. Sonhar é aceitar viver o “se”. Não saber no que vai dar o final, mas ser louco e corajoso o suficiente pra acreditar que pode dar certo.

E o Athletico, ontem, mostrou que a loucura e a coragem, quando se encontram no caminho, podem fazer tudo valer a pena.

Por muito tempo nossa gente esteve cinza por dentro, porque o sonho realizado pelos pés de Alex Mineiro em 2001 nos fez acreditar em coisas maiores, mas as frustrações que se seguiram nos anos posteriores nos botaram num estado de neutralidade e fizeram adormecer essa capacidade de acreditar. Não enxergávamos que tudo era uma construção. Cada porrada, uma lição.

Veio 2018 e, com ele, um treinador que acreditava que tudo era possível, pois ele mesmo era a prova viva de que era preciso suportar várias frustrações pra chegar longe. Veio, também, um elenco que acreditou e que mostrava dia após dia a gratidão por fazer parte da nossa construção como clube. Não demorou pra vida dos atleticanos ganhar cores de novo. Loucura e coragem pintadas em vermelho e preto.

Loucura e coragem quase frustradas novamente no pênalti de Jarlan Barrera.

Loucura e coragem, agora em 2019, pra enfrentar o elenco mais estrelado do Brasil, o imortal e o campeão de tudo, acreditando que era possível derrota-los.

Derrotamos. E assim o Athletico volta a nos fazer sonhar.

Mas quando vierem as frustrações, lembremos especialmente de 2001 e 2018. Você trocaria estes anos por uma vida inteira morna, tentando neutralizar a dor das derrotas que aconteceram neste hiato? Aposto que não. E o ano de 2019 já é a prova disso, porque juntos sonhamos alto, caímos os tombos, mas continuamos acreditando.

Que não percamos, nunca mais, essa coragem de perder a cabeça e simplesmente sonhar que a mágica pode acontecer, pelos pés de Alex Mineiro, Pablo, Marcelo Cirino ou qualquer um que estiver trajando a camisa do Athletico dentro de campo.

De sonho em sonho, caminhamos.

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