O Fala, Atleticano é um canal de manifestação da torcida do Atlético. Os textos abaixo publicados foram escritos por torcedores rubro-negros e não representam necessariamente a opinião dos responsáveis pelo site. Os autores se responsabilizam pelos textos por eles assinados. Para colaborar com um texto, clique aqui e siga as instruções. Confira abaixo os textos dos torcedores rubro-negros:
24 set 2019 - 20h52

O capricho dos deuses que existem

Ah, os deuses do futebol. E são caprichosos, os deuses. Intervêm em lances inesperados, no burburinho que antecede os grandes jogos, em detalhes aparentemente insignificantes, para eleger heróis, eternizá-los na memória apaixonada do torcedor, consagrar o imponderável e colorir a história com pitadas de arte. Pois somente os deuses do futebol serão capazes de explicar a jogada de Marcelo Cirino no segundo gol do Atlético na decisão da Copa do Brasil com o Inter. Naquele momento, a expressão dos gaúchos, em campo e nas cadeiras belas e encarnadas do Beira-Rio, sugeria total incapacidade de reação.

Contavam-se os minutos, os segundos restantes para o apito de sua excelência, o árbitro, e o decreto de encerramento do torneio importante. Aos 51 do segundo tempo, Marcelo Cirino parecia querer a retenção da bola na lateral do campo – o empate bastava para o Furacão. Atrás dele, vieram Edenilson e Rafael Sobis, em cerco burocrático. A previsão era de uma disputa que não alteraria o resultado da partida, que caminhava para o fim. Mas não. Inspirado sabe-se lá em quem ou em quê, o velocista de pernas compridas e ágeis deu o toque desconcertante que o livrou dos dois defensores, que abandonaram a jogada, incrédulos, abatidos. Sozinho, Marcelo teve tempo e habilidade para novo drible – a vítima, desta vez, foi um atarantado Rodrigo Lindoso – e para o passe certeiro que colocou a bola no pé de Rony, que a empurrou para o fundo da rede.

A vitória rubro-negra, mais do que merecida, foi imposição divina, como que a premiar um clube tantas vezes perdedor em outros momentos decisivos. E com um gol assim, emoldurado pelo sobrenatural, pela genialidade, pelo amor. Um gol que se incorporou para sempre à memória dos que sofremos no 18 de Setembro, uma quarta-feira nervosa, e completou o placar iniciado com o lançamento de Marco Ruben para o desvio certeiro de Léo Cittadini, no primeiro tempo, na primeira explosão de felicidade.

Para os velhos, como eu, jogada que fez lembrar a perfeição do passe de Pelé para o tiro de canhão de Carlos Alberto Torres, na final da Copa do Mundo de 1970, num lapso de encantamento que nem mesmo a amargura daquele Brasil de chumbo, cuja seleção amassaria a italiana por 4 a 1, poderia conter. Gol desnecessário para os calculistas e indispensável para os poetas, como o que fechou uma decisão de campeonato em 1982, de Washington, parceiro de Assis, após receber a bola do calcanhar de Ivair, aos 45 da etapa derradeira. Reeditava-se, então, o 4 a 1 do escrete da pátria de chuteiras, de Pelé e Carlos Alberto (e Tostão, e Jairzinho, e Clodoaldo, e Gérson, e Rivellino, e Piazza, e Félix, e Paulo Cézar Caju), agora com o Atlético da camisa de listras horizontais em preto e vermelho, que amargava doze anos de jejum. O meu time, o time dos humilhados e ofendidos, ganhava do Colorado, hoje extinto, para enfim se tornar campeão!

Sempre no desfecho dos jogos, sempre inesquecíveis (os dribles de Marcelo não me saem da cabeça), esses três gols formam a trilogia esportiva da minha breve e insignificante existência, obra dos deuses que existem e amam o futebol. Os deuses e seus caprichos. Sou grato a eles, camaradas da fé que mora em mim.



Últimas Notícias

Brasileiro

Fazendo contas

Há pouco mais de um mês o Athletico tinha 31 pontos, estava há 5 da zona de rebaixamento e tinha ainda 12 partidas para fazer.…

Notícias

Em ritmo de finados

As mais de 40 mil vozes que acabaram batendo o novo recorde de público no eterno estádio Joaquim Américo não foram suficientes para fazer com…

Brasileiro

Maldito Pacto

Maldito pacto… Maldito pacto que nos conduz há mais de 100 anos. Maldito pacto que nos forjou na dificuldade, que nos fez superar grandes desafios,…

Opinião

O tempo é o senhor da razão

A famosa frase dita e repetida inúmeras vezes pelo mandatário mor do Athletico, como que numa profecia, se torna realidade. Nada como o tempo para…