22 out 2019 - 13h39

Kleberson, um ídolo indiscutível

Num passado distante, o Atlético (então sem o H) teve a oportunidade de ter campeões mundiais em seu elenco.

A camisa rubro-negra, em 1968, foi o fardamento de duas lendas da Seleção Brasileira: Djalma Santos e Bellini, craques históricos que dispensam qualquer apresentação.

Muitos anos depois, porém, um ídolo forjado na Arena da Baixada sairia de Curitiba para conquistar o mundo pelo Brasil: José Kleberson Pereira, ou apenas Kleberson.

Início vencedor

O meia iniciou sua carreira no PSTC, clube de Londrina que ficou conhecido por fornecer ao Athletico diversos jogadores que posteriormente se destacaram com a camisa rubro-negra. Kleberson seria o maior deles.

Sua primeira oportunidade foi disputar a Taça BH pelo time de base atleticano, onde conseguiu chamar a atenção do rubro-negro da capital mesmo jogando na lateral-direita, como contou ao GloboEsporte.com:

“Sempre conto essa história, porque para mim é uma história fantástica. Vim do interior do Paraná, estava jogando no PSTC, clube que me revelou. E de última hora recebi o convite para disputar uma Taça BH com o Athletico Paranaense. Cheguei em Curitiba com a malinha no meio de junho, aquele friozinho que todo mundo sabe que faz aqui. Quando entrei pela porta do centro de treinamento do clube e olhei aquela estrutura, vários campos, meninos jogando, comecei a sentir que meu sonho estava sendo realizado e que dependia somente de mim. Foi um momento muito especial, senti uma energia muito grande dentro daquele clube. Aí tive a oportunidade de jogar a Taça BH, fiz uma boa competição como lateral-direito, e o Athletico quis ficar comigo por mais tempo. Depois disso foram só subidas, muitas conquistas na base, muito aprendizado até chegar ao profissional.”

Não demorou muito para o polivalente jogador conquistasse seu lugar no time principal, logo participando das equipes que conquistaram a seletiva para a Libertadores em 1999, além de três títulos paranaenses (2000, 2001 e 2002).

O nascimento de um ídolo

No meio dessa rápida ascensão, Kleberson conquistou técnicos e torcida com sua polivalência e técnica, tornando-se um dos grandes destaques (e camisa dez) do time que levantou a taça mais importante da histórica do Furacão até hoje: o Campeonato Brasileiro de 2001; e isso com apenas 22 anos.

Não é exagero dizer que o Xaropinho foi o melhor jogador daquele inesquecível time de 2001. Embora Alex Mineiro e Kléber sejam sempre lembrados como uma dupla de ataque avassaladora, era Kleberson o nome mais técnico daquele time, que ditava o ritmo do imparável Furacão de 2001.

Sobre a idolatria da torcida atleticana, Kleberson arriscou uma explicação em uma entrevista concedida à Furacao.com em 2002, meses após a conquista do título:

“É claro que a torcida vai gritar muito mais o nome do Alex ou do Kléber, porque eles são jogadores que chegam na hora e decidem o jogo, fazem o gol. Eu não sou aquele tipo de jogador que gosta de aparecer para a torcida, que faz uma jogada de efeito, que dá um drible ou um chapéu. Eu sou mais aquele jogador que procura fazer dois toques. Eu pego a bola, vejo quem está melhor posicionado e já toco. Se eu me destaquei no Campeonato Brasileiro foi por conta disso aí, por procurar errar o menos possível. Mas a torcida sabe do meu potencial e eles me ajudam muito. É muito bom chegar no estádio e ver a torcida gritando seu nome. Eu nunca tinha visto a torcida gritar meu nome como gritou quando eu fui convocado para a Seleção. Ficou todo mundo: “Ão, ão, ão, Xaropinho é Seleção”.

Sua atuação decisiva lhe garantiu a Bola de Prata (tradicional premiação individual) naquele ano, que só não foi uma Bola de Ouro porque as atuações de Alex Mineiro nas partidas decisivas foram espetaculares.

Se a Bola de Ouro não veio, o mais reconhecimento não demorou a chegar: a primeira chance na Seleção Brasileira.

Do Brasil para o mundo!

Numa vacilante Seleção que ainda lutava para conquistar uma vaga no Mundial, Kleberson surge oportunamente como opção. Além da grande qualidade técnica demonstrada no time campeão brasileiro, a Seleção contava em sua comissão técnica com Antônio Lopes, velho conhecido da torcida atleticana, que foi fundamental para a primeira chance do meia atleticano com a amarelinha, como relevou o próprio jogador para a ESPN.

Logo no primeiro jogo (em convocação que contou apenas com jogadores que atuavam no Brasil), Kleberson vestiu a camisa 10, fez um gol, e uma assistência na vitória do Brasil por 6×0 contra a Bolívia. O cartão de visitas estava dado, e Scolari apostou no atleticano para o grupo que iria ao Mundial em 2002.

“O Felipão acreditou em mim e continuou me levando para os jogos, mas só acreditei mesmo que ia para a Copa do Mundo quando saiu a lista final. Não tinha certeza que tinha carimbado a vaga antes, apesar de ter ido bem nos amistosos. O leque estava muito aberto, havia muitos jogadores em grande fase que poderiam ser chamados. E eu estava apenas começando! Nem acreditei que tinha sido chamado. Só quando vi meu nome lá é que a ficha caiu mesmo.”

Felipão não poderia ter feito escolha mais acertada, mesmo com a grande quantidade de craques brasileiros disponíveis para compor o escrete brasileiro (Kleberson deixou para trás grandes nomes, como Djalminha e Alex, por exemplo).

Afinal, iniciando no banco de reserva, Kleberson conquistou sua chance no time principal e acabou por se tornar um nome fundamental para a conquista do inédito pentacampeonato mundial.

Substituindo Juninho Paulista, então titular, Kleberson deu a assistência para o segundo gol da partida contra a Bélgica, pelas oitavas-de-final do mundial, conquistando sua vaga de titular que sustentaria até a grande final, contra a Alemanha.

Uma partida assim tão grande poderia intimidar qualquer jogador de 22 anos, o Xaropinho foi novamente destaque: uma bola no travessão e a jogada que resultou no segundo gol do Brasil na partida:

“Eu tive a facilidade de ir muito bem nesse jogo, porque os alemães estavam preocupados em marcar Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo ‘Fenômeno’. Eles nunca imaginavam que eu poderia fazer o que fiz! Eu estava com muito espaço para jogar e as coisas estavam fluindo. Parece que o esquema de jogo do Felipão não foi para o ataque, mas para o meio-campo jogar. Gilberto Silva me deu um suporte defensivo muito bom e procurei sair sempre em velocidade. Cheguei muitas vezes como surpresa. Graça a Deus, consegui me destacar e fazer uma bela partida.”

Kleberson, assim se tornou o primeiro campeão mundial atuando em um clube paranaense. Voltou para o rubro-negro mas não permaneceu muito no Brasil: logo chamou a atenção de um dos maiores times do mundo.

A carreira como jogador internacional

Alex Ferguson, para muitos o maior técnico de futebol da história, estava no meio de sua vencedora jornada à frente do Manchester United, moldando o que viria a se tornar o maior vencedor da Inglaterra em poucos anos. Para isso, sempre contou com muitos craques. Ao perder o argentino Verón, o escocês contratou a grande revelação da seleção campeã mundial: Kleberson, por quase 9 milhões de euros.

Na apresentação, a grande contratação estava ao lado de um jovem português que chegava como não mais do que uma promessa, chamado Cristiano Ronaldo:

O brasileiro, que tinha tudo para se destacar no meio-campo sempre organizado de Ferguson, acabou não vingando. O português, por sua vez, tornou-se um dos maiores jogadores de futebol da história.

“Olha, a única vez que ele perdeu foi essa aí (risos). Quando cheguei ao Manchester, o Cristiano Ronaldo era uma promessa, e eu estava vindo com status de campeão do mundo. Ele era uma aposta. Foi uma apresentação sensacional, momento marcante da minha carreira, poder chegar em um clube de altíssimo nível como o Manchester United, ainda mais ao lado de uma pessoa que se tornou ícone do futebol mundial. Foi muito legal. De vez em quando volto no tempo, relembro esse dia, o look que a gente estava usando, umas calças e camisetas um pouquinho ultrapassadas (risos). Mas foi um momento muito legal, ter chegado à Inglaterra e conhecido o futebol inglês, ter jogado Premier League e Champions League. Foi uma experiência muito boa, apesar de não ter tido uma sequência boa dentro das quatro linhas. Fora de campo foi um aprendizado muito bom.”

Dali pra frente, a carreira do Xaropinho não andou como o Brasil e o mundo esperavam. Aquele segundo volante de muita técnica de 2001 e 2002 não se tornou um protagonista no futebol internacional e, após dois títulos pelos Red Devils e uma passagem pelo Besiktas, da Turquia, Kleberson volta ao país para jogar pelo Flamengo.

No time carioca, apesar de fazer parte do time bicampeão carioca (2008 e 2009) e campeão brasileiro (2009), e de ter participado de uma segunda Copa do Mundo pelo Brasil, em 2010, Kleberson não reconquistou o respeito no Rio de Janeiro, sendo sempre muito criticado, até retornar ao clube que o revelou para o mundo, por empréstimo, em 2011.

Novamente no Athletico, foi recebido também como esperança para um ano que não ia bem para o Furacão. A tragédia, porém, não foi evitada nem mesmo pelo ídolo, que acabou rebaixado junto com o clube naquele ano.

Futuro treinador e laço com o Athletico

Após o retorno frustrante ao rubro-negro paranaense, Kleberson ainda jogou pelo Bahia e por times dos Estados Unidos até se aposentar em 2017. A partir de então, iniciou uma carreira de treinador, estando atualmente na base do Philadelphia Union (EUA).

Os laços com o Athletico, porém, não se desfizeram. Nesse ano, revelou a torcida para o Furacão nas quartas de final da Copa do Brasil, apesar de sua passagem, também, pelo Flamengo.

Também nesse ano, divulgou que seu filho passou a integrar os times de base do Furacão, seguindo os passos do pai:

Nenhum atleticano jamais irá esquecer a trajetória de Kleberson e sua importância para a história do clube.

Ser campeão mundial pela seleção ainda jogando por um time paranaense é um feito ainda inédito, que se soma à importância tática e técnica de sua atuação com a camisa rubro-negra para a conquista do maior título da história do clube.

Outros nomes sempre são lembrados ao se falar de idolatria, como o do maior artilheiro do clube (Sicupira), do artilheiro das decisões (Alex Mineiro), do incendiário (Kleber) e do capitão do Brasileiro (Nem), o que mostra o tamanho da história do Furacão. A euforia dos títulos recentes também já alça novos nomes na galeria de grandes ídolos da torcida.

Mas Kleberson, por tudo o que fez em campo pelo Athletico, facilmente pode disputar o posto de maior ídolo do clube e do futebol paranaense. Cabe à torcida não esquecer disso, e sempre levantar essa bandeira, como fez o Xaropinho ao levantar taças tão pesadas e colocar o nome do CAP na história do futebol brasileiro e mundial.

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