O que esperar de Dorival Jr. no Athletico?
O ano de 2019, além de marcado na história do clube pelo título inédito da Copa do Brasil, também trouxe uma velha ansiedade que a torcida já não sentia há algum tempo: o que esperar com a troca no comando técnico do time principal?
Afinal, em quase dois anos, o ex-treinador, Tiago Nunes, conseguiu aliar bom futebol e resultados, deixando torcedores mal acostumados e principalmente, receosos com o futuro após sua saída.
O bom trabalho do interino Eduardo Barros, porém, deu novas esperanças: o CAP tem um modelo de jogo estabelecido (o dito “Jogo CAP”), um grupo focado e unido, e a união dessas duas coisas facilitariam qualquer trabalho.
Com o fim do Brasileirão, iniciaram-se as especulações sobre o novo treineiro, as quais seguiram o padrão do clube: barato, inovador, e que se aliasse ao estilo de jogo e à estrutura do clube, o que há algum tempo significa que o clube procura por um nome no mercado estrangeiro sendo o clube pioneiro nesta busca no país, vendo os adversários nacionais, somente a partir do último ano, seguirem a mesma linha.
Porém, mesmo após trabalhar com nomes como Sebastián Beccacece (hoje no Racing-ARG), Miguel Ángel Ramírez (Independiente del Valle-COL) e Rogério Ceni (Fortaleza), o nome escolhido pelo Furacão foi Dorival Jr.
De pronto, o desânimo e a desconfiança tomaram a maioria dos rubro-negros. Porém, como bem abordou o comentarista dos canais ESPN, Ubiratan Leal, em seu canal no You Tube, esse desânimo é mais aliado com o costume do atleticano em ver o clube sempre inovando, o que gerou uma expectativa por um “fato novo” que não seria compatível com o conhecido nome de Dorival. Porém, como o próprio comentarista ressaltou, o experiente técnico brasileiro não necessariamente faz parte do rol de ultrapassados que ainda dominam o mercado de treinadores. Confirma os comentários na primeira parte do vídeo a seguir:
QUEM É DORIVAL JR.?
Com 57 anos de idade, Dorival tem longa carreira como treinador, iniciada em 2004. Após passagem pelo Coritiba, o técnico passou a figurar em grandes clubes do país, como Vasco, Internacional, Plameiras, Santos, São Paulo e duas vezes pelo Flamengo, onde realizou seu último trabalho. Nessa recente passagem pelo time carioca, conseguindo um aproveitamento superior a 70%. Apesar de não ter permanecido (muito por questões políticas, devido à mudança na presidência da equipe na virada do ano de 2018 para 2019), foi bem avaliado pelo trabalho realizado:
“No Flamengo, Dorival chegou para segurar a onda até o fim do ano de 2018. O clube decidiu demitir Mauricio Barbieri em setembro e o treinador assumiu até dezembro. Melhorou o rendimento do time, organizou, mas bateu de frente com Diego Alves, depois de um episódio que o técnico considerou que o goleiro o desrespeitou. Depois de terminar bem o ano no comando do rubro-negro, até se cogitou que ele ficasse para 2019, mas acabou deixando o clube.”
Após, embora tenha sido procurado por outros clubes, não assumiu nenhuma equipe para cuidar da saúde, após ser diagnosticado com câncer de próstata, que exigiu, inclusive, a realização de cirurgia.
Em seu currículo, Dorival Jr., coleciona diversas conquistas de campeonatos estaduais por onde passou, mas seus principais títulos foram a conquista do Campeonato Brasileiro da série B com o Vasco, em 2009, a Copa do Brasil de 2010, com o Santos, e a Recopa Sul-americana, com o Internacional, no ano seguinte.
ESTILO DE JOGO
O que mais interessa ao Athletico são os trabalhos recentes de Dorival, que permitem esperar semelhanças entre as ideias do clube e do treinador, como bem salientou o site Trivela.com:
“Dorival é um técnico com muitas passagens em grandes times, mas mostrou algum frescor nas suas ideias nas passagens mais recentes por Santos, São Paulo e Flamengo. Nos dois primeiros, conseguiu desenvolver bom futebol por algum tempo, com times que trabalhavam muito ofensivamente baseado em posse de bola e paciência. Seus times trabalhavam bem a bola, mas em alguns momentos sofreram com a falta de objetividade.”
Certamente não veremos, com Dorival, o Athletico regredir e assumir uma postura “reativa” em campo, ou seja, preocupado apenas em se defender e aproveitar contra-ataques. Afinal, o treineiro não armou seus últimos times dessa maneira, e não vai mudar isso no CAP, que já tem um estilo de jogo de posse de bola e ofensividade estabelecido não apenas para o time principal, mas também para as equipes de base.
Isso se conclui, também, pelas palavras do próprio técnico, ouvido no episódio nº 32 do “Entrelinhas”, programa quinzenal do Footure Podcasts (disponível – aqui – na plataforma do Sportfy), onde Dorival também demonstrou ter uma ambição que casa com aquela demonstrada há tempos pelo Furacão:
“Olha, eu ainda acredito no futebol com posse. Entendo que tenha meios e meios de se ganhar. Respeito cada um deles, mas eu ainda acho que com posse de bola você vai ter uma chance muito maior de poder finalizar partidas, e consequentemente, o alcance de competições. Eu respeito todas as maneiras, de todos os treinadores, cada um encontra um jeito, cada um tem uma forma, cada um tem um conceito que ele desenvolva pra que possa alcançar, mas me dá prazer proporcionar esse tipo de situação a uma equipe. E eu vou ser sincero com você: enquanto eu continuar acreditando nesse conceito que eu tenho na minha cabeça, eu só vou parar a hora que eu conseguir os resultados que eu queira. E eu acredito que não esteja tão longe. De 2015 pra cá, foi um vice campeonato da Copa do Brasil, um vice campeonato com o Santos, Brasileiro, um vice campeonato com o Flamengo, Brasileiro, e um campeonato paulista, entre outros. Eu acho que nós estamos muito próximos, aí, de um alcance, de um resultado ainda melhor, desde que tenhamos tudo aquilo que nós esperamos ver em uma equipe, e principalmente o tempo pra que esse trabalho mature. Eu sei que no Brasil é muito complicado, mas eu acredito muito nesse conceito, e sou sincero com você: eu não vou mudar tão cedo em razão daquilo que eu esteja tentando buscar com as equipes que dirijo.”
O tempo de treinamento, inclusive, é muito salientado pelo treinador, que terá, pela primeira vez, a possibilidade de treinar um time não apenas (muito) arrumado, mas com muito tempo para uma verdadeira pré-temporada – que seria próxima “dos padrões europeus”, nas palavras do próprio Dorival -, sem a pressão dos defasados estaduais, como acontece na maioria dos clubes do país.
“”Perde e pressiona” tem que ser um condicionante para uma equipe que queira propor. E não adianta, que você vai encontrar um equilíbrio, com o desenvolvimento de um trabalho. Mas não serão em todos os momentos que você estará preparado – ainda que você tente de todas as formas buscar correções dentro da sua equipe – mas não será todo o momento que você estará preparado para poder inibir um contra-ataque e e outro, o que eventualmente deva acontecer. Mas o que eu acredito é que uma equipe bem condicionada, uma equipe bem definida, uma equipe que acredite naquilo que você esteja tentando colocar e, principalmente, com tempo para que você mature aquilo que esteja propondo, o resultado – eles acontecem, e os erros diminuem muito. A capacidade da sua equipe de […] atacar com frequência, sem se expor, fazendo que com que você retome -então, tenha uma retomada de bola imediata à perda – ela aumenta muito a partir do momento que você consiga esse desenvolvimento, em cima de treinamentos, em cima de mostras de vídeos, em cima de correções, em trabalhos individualizados, e principalmente nos trabalhos coletivos.”
Dorival, ainda, na citada entrevista, destacou o trabalho de Jorge Sampaoli, no Santos, demonstrando ter acompanhado de perto o trabalho do técnico argentino, tendo a humildade de reconhecer suas qualidades e a possibilidade de aprender com o técnico estrangeiro, diferente do que acontece com a maioria dos técnicos “medalhões” do futebol nacional.
Assim, poderá o técnico, talvez mais do que nunca antes em sua carreira, demonstrar suas capacidades como treinador, e efetivar na prática suas modernas ideias de futebol, num time que, com a visibilidade que conquistou, vem ambicionando cada vez mais.
O QUE ESPERAR?
A escolha de Dorival, embora não seja tão inovadora, não foge do estilo de jogo que o Athletico busca para sua equipe principal, e garante ao clube um ganho importante de experiência e autoridade no vestiário.
Porém, os últimos trabalhos de Dorival apresentaram alguns problemas na objetividade – em transformar posse de bola e domínio em finalizações, chances, e gols. Com isso, somado à perda do artilheiro da equipe em 2019 (Marco Ruben) e a demora no anúncio de um centro-avante de qualidade, será preciso paciência com o clube em seu início e nas tentativas de armar um clube ofensivo mesmo nessa situação.
Porém, a união e a motivação mostrada pelos jogadores do elenco principal, a boa fase que esses jogadores conquistaram, sustentada por seus líderes, como Lucho e Wellington, tudo aliado à possibilidade do surgimento de novos bons nomes oriundos da equipe de aspirantes, tornam impossível qualquer desespero inicial com o novo comando técnico.
Enquanto Dorival poderá mostrar suas qualidades, assumindo um time já bem montado e focado, com muito tempo para uma excelente pré-temporada (que contará com bons amistosos logo no início do ano), e sem a pressão do Estadual, o Furacão, por sua vez, poderá demonstrar que aliar o moderno “Jogo CAP” à experiência do treinador pode sim render bons frutos e manter o clube em busca de maiores ambições.