11 fev 2020 - 17h14

Tamanho

Conheci Jasper em Santiago há alguns anos. Holandês de nascença, já era cidadão do mundo fazia algum tempo e morava no Chile há alguns meses. A cada ano e meio voltava para Amsterdam passar um mês e fazia de tudo para acompanhar seu amado Ajax quando visitava a família.

Eu evidentemente conhecia o Ajax, mas ele nunca ouvira falar do Atlético Paranaense (então sem H). Eu sabia quem foram Cruyff, Van der Sar, Ibra, Laudrup e um dos meus ídolos de infância Van Basten. Ele, entretanto, nunca ouvira falar de Marolla (meu primeiro ídolo aqui), Renato Sá, Carlinhos, Reginaldo Cachorrão, Oséas, Lucas e nem mesmo do fantástico e inigualável Alex Mineiro!

Do Brasil, Jasper conhecia o São Paulo, Santos e Flamengo. Recém conhecera o Corinthians e já o odiava, porque associava o clube a Ronaldo Fenômeno, que pelo PSV fez misérias contra seu time e pela seleção judiou do escrete laranja algumas vezes.

Eu me lembrei dele porque num bate-papo sobre futebol ele demonstrou ter exata ideia do tamanho do seu clube do coração: é um gigante dentro do seu quintal e um time mediano em nível internacional. Ele tinha noção de três coisas extremamente importantes: i) que o Ajax tinha obrigação de estar sempre entre os primeiros na Holanda; ii) que qualquer jogador de grande destaque não duraria mais de duas temporadas por lá, sendo impossível aguentar por muito tempo o assédio e dinheiro dos gigantes europeus; iii) que chegar entre os oito ou quatro melhores da Liga dos Campeões já seria um grande feito (esportivo e financeiro) e ser novamente campeão algo muito improvável.

Tivemos no Athletico (agora com H) um biênio mágico. Repetir conquistas e alegrias como em 2018 e 2019 vai ser difícil e talvez leve um novo biênio para acontecerem (ou mais). Teve muito planejamento, mas o destino/acaso/sorte/astros colaboraram. Tiago Nunes foi até o momento a ÚNICA aposta no comando técnico que deu certo. A lista que vai de Casemiro Mior, passando por Leandro Ávila, Arthur Bernardes, Fabiano Soares e Rafael Guanaes indica que clube vem tentando há mais de década achar do nada um treinador barato e desconhecido que dê certo. Só um vingou.

Depois de uma geração de Tarik, Héracles, Renan Foguinho e Bruno Furlan, o clube viu que mesclar os jovens com atletas mais experientes ajudaria muito e assim o Sub-23 rendeu frutos de retorno técnico e financeiro últimas temporadas, quando conquistamos o bicampeonato estadual.

Fato que existe um discurso GIGANTE que por vezes cega e atrapalha o torcedor. Penso que se um torcedor do consagrado Ajax tem ideia e dimensão da diferença que os separa dos quatro grandes da Inglaterra, de Real e Barça, de Juventus e Bayern de Munique, temos que dimensionar que nossa média de campanhas desde ascensão em 2013 é ficar da metade pra cima na tabela e conseguindo beliscar vaga na Libertadores em média a cada três anos.

É se contentar com pouco? Não. E foi justamente esse sonho de grandeza que nos faz volta e meia bater de frente com os grandes e conseguir uma conquista extraordinária como a Copa do Brasil em 2019. Mas creio que entender que nem o poderoso Palmeiras, campeão desta mesma competição em 2015, do Brasileiro em 2016 e 2018 e com todo dinheiro que possui conseguiu bater o Flamengo ano passado, dificilmente seremos nós que conseguiremos.

Em partidas mata-mata, jogando de maneira diferente, jogando por uma bola, sendo competente como temos sido nos pênaltis? É mais provável.

E principalmente entender que chegar lá no topo deu muito, mas muito trabalho e que se manter é tão difícil quanto.

Não deixarei de cobrar, principalmente a inércia em contratar como temos visto até agora. Não deixarei de reclamar e quem me vê nas arquibancadas ouve por vezes meu canto solitário ou meus gritos exigindo algo mais do time em campo sabe disso. Mas creio que ser sabedor do exato tamanho do clube e que há de se ter paciência para um ano que talvez seja de início de um novo ciclo, como brilhantemente escreveu o amigo Wellington.

Fica aqui meu pedido para que clube reveja a política já claramente fracassada do ingresso mais caro do Brasil e que proceda uma ampla reforma no plano de sócios, que com mais de uma década de existência é falho e serviu quando tínhamos um estádio para 25 mil pessoas. Com mais gente em casa apoiando a incentivando o Furacão podemos surpreender e fazer, mesmo num ano com cara de entressafra, uma temporada que nos orgulhe. Mas nem sempre vamos vencer como em 2018 e 2019.

 

“O Atletico é um estado de espírito. Se ele vai bem, todos nós vamos bem; se vai mal, sai da frente!” – SONINHA NASSER.



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