ATHLETICANISMO, RAZÃO E CIÊNCIA – Lições do velho e bom “Niccão” ao nosso querido “Prínci-dente”
Parte 6: Texto adaptado de MACHIAVELLI, Niccolò, O PRÍNCIPE, escrito em 1505 e publicado em 1515.
Apresentado em partes, este texto não tem a pretensão de constituir-se como uma análise política e econômica dos governos que se sucedem no nosso amado Athletico Paranaense. Serve apenas de maneira irônica e metafórica, para que com a sutileza e respeito que nosso presidente exige, uma homenagem e problematização crítica dos possíveis rumos que nosso Furacão pode tomar.
Espero que os entendedores o entenda, porque o futebol é muito grande para eximir-se de uma boa leitura!
Após haver tratado: De quantas são as espécies de torcedores e de que modos são adquiridos; Time de donos Hereditários; Os Times de Futebol mistos; De que modo deve-se governar as torcidas ou os ‘times com dono’ que, antes de serem comprados, viviam a suas próprias leis; Dos torcedores novos que se conquistam com títulos e virtudes próprias; Dos torcedores novos que se conquistam com títulos e virtudes dos outros; Dos que tornaram-se dono de clube de futebol por meio de crimes; – trataremos agora dos clubes de futebol com estatuto social.
VIII – Dos clubes com estatuto social
Entretanto, tomando em consideração o outro caso, aquele em que um cidadão comum se torna presidente de um clube de futebol não por crueldade ou qualquer violência intolerável, mas pelos votos de seus associados – o que se pode chamar de clube social – que se ascende ao cargo ou com o apoio popular, ou com dos conselheiros. Porque em todo clube se encontra estas duas tendências opostas: de uma parte, a torcida (o povo) não quer ser reprimida pelos conselheiros, de outra os conselheiros que comanda e persuadir a torcida; destes dois desejos antagônicos advém nos clubes uma das três consequências: clube estatutário, liberdade ou desordem. O clube é instituído pela torcida ou pelos poderosos, segundo a ocasião aproveitada por uma dessas forças: quando conselheiros veem que não podem resistir a torcida, começa a favorecer um deles até torná-lo presidente, a fim de poder saciar o próprio apetite à sua sombra; por seu turno, quando a torcida percebe que não pode resistir aos conselheiros, favorece um deles e o torna presidente a de ser protegido por sua autoridade.
Aqueles que chega a presidência com ajuda dos conselheiros se mantém com mais dificuldade do que quem se torna presidente com apoio da torcida (popular), porque esta cercado de homens que se creem iguais e por isso não podem comandá-los nem governá-los como quiser. Além disso, não é possível satisfazer aos dirigentes com honestidade e sem prejudicar os outros, mas, a torcida, sim: porque a meta da torcida é mais honesta que a dos conselheiros, pois estes querem controlar, e aquele, não ser reprimido. De resto, um presidente nunca estará seguro se tiver contra si a inimizade de alguém da torcida, que são muitos; mas pode estar se tiver contra si os conselheiros, por serem poucos. O pior que um presidente pode esperar de uma torcida inimiga é ser abandonada por ela; por outro lado, de não se temer o abandono dos conselheiros hostis, mas também ser atacados por eles – os quais, sendo mais previdentes e astuciosos, sempre agem a tempo de salvaguardar-se e buscam agradar quem esperam que vença. Por fim, um presidente esta obrigado a viver sempre com a mesma torcida, mas pode muito bem prescindir dos conselheiros, podendo fazê-los e desfazê-los de um dia para o outro e conferir-lhes reputação a seu bel-prazer.
Para melhor esclarecer esta questão, digo que os conselheiros devem ser considerados de duas maneiras: ou se comportam de modo a sujeitar-se inteiramente ao presidente, ou agem por conta própria. Os que se sujeitam devem ser respeitados e estimados; os que não se sujeitam devem ser examinados de duas maneiras: há os que fazem por pusilanimidade (fraqueza frente as tomadas de decisão) ou por falta natural de coragem – e nesses casos o presidente deve tirar proveito, sobretudo dos que são bons conselheiros, pois eles o honrarão e não serão um perigo na adversidade; e há os que não se sujeitam por astúcia e ambição, sinal de que pensam mais em si que no clube – e desses se deve precaver o presidente, temendo-os como se fossem francos inimigos, porque nas adversidades eles sempre concorrerão para arruiná-lo.
Portanto alguém que se trona presidente pelo favor de sua torcida deve preservar sua amizade – o que será fácil, bastando para isso não oprimir. Mas aquele que, com apoio dos conselheiros, se torne presidente contra a torcida deve antes de tudo tentar obter sua simpatia – o que será fácil, bastando para isso protegê-la. E, assim como os torcedores que rebem o bem de quem se esperava o mal se torna ainda mais agradecido a tal presidente do que se ele tivesse eleito por seus favores. O presidente pode obter simpatia de seus torcedores por vários meios; no entanto, como estes variam conforme as circunstância, não se pode indicar uma regra precisa, razão pela qual passaremos adiante. Apenas para concluir, direi que um presidente precisa ter a torcida ao seu lado, do contrário não terá apoio nas adversidades.