13 abr 2020 - 10h30

Atletiba da Páscoa de 95: o jogo

Para explicar o que aconteceu naquela partida basta dizer que com 11 minutos do primeiro tempo, com dois gols do camisa 9 alviverde Brandão, o Coxa já ganhava a partida no Couto Pereira. Um atônito Atlético não conseguia trocar passes e via um motivado coxa tomar conta da partida com uma naturalidade impressionante.

Cabe lembrar o contexto em que aconteceram os fatos. A dupla Atletiba estava na segunda divisão, sendo que em 1994 por pouco o rubro-negro não conseguiu o acesso, tendo sido eliminado pelo Juventude. Era época de domínio do Paraná Clube (pentacampeão no período), tanto pelo seu poderio financeiro quanto pela desorganização de Atlético e Coritiba. O rubro-negro comandado por Hussein Zraik tentava se modernizar e logo após voltar para a Baixada depois de uma década desperdiçada no Pinheirão, montou um time que teoricamente não era tão ruim como vinham sendo os resultados dentro de campo.

Fato que ainda na primeira etapa o garoto da base Jetson balança a rede mais uma vez. E durante o intervalo se viu um fenômeno que somente quem esteve no Couto Pereira aquele dia pode tentar explicar.

Sem motivo algum, tomados de um orgulho ferido e cantando com a alma e o espírito maltratados, os atleticanos (que então ficavam em toda curva do Perpétuo Socorro) começaram cantar o hino do clube. Coxas vaiavam mas uma emoção incontida tomou conta do coração dos atleticanos. A torcida alviverde não entendia aquilo e passou a também cantar forte. Mas nem um tiro de canhão, uma bomba atômica seriam capazes de calar a voz dos milhares de atleticanos que cantavam como se não houvesse amanhã.

Assim se inicia a segunda etapa e o time do Atlético, como que se acordando de uma sonolência que durou toda a primeira etapa e já lhe custava um 3 X 0 no placar, jogou alguma coisa. Foi então que após cobrança de falta lateral o zagueiro Pádua marca e o imponderável acontece: numa catarse coletiva, a torcida atleticana canta, vibra e extravasa sua emoção de uma maneira sobrenatural.

Como dito no dia seguinte pelo escritor e jornalista Carlos Alberto Pessoa, notório torcedor do coxa e do tricolor das Laranjeiras (…) o desavisado cidadão que adentrasse ao Major Antonio Couto Pereira naquela metade do segundo tempo, ouvisse o que ouvia e olhasse o placar, fatalmente apontaria erro neste. Não poderia ser 3 X 1 para o time alviverde mas com certeza um 1 X 3 para a equipe da Baixada, tamanha era a cantoria, a alegria e o vigor que bradavam do seu lado do campo de batalha.

Não à toa esse sentimento genuíno de atleticanismo, mesmo sofrendo o pior pesadelo para um fanático torcedor (ser impiedosamente goleado pelo maior rival) fez aflorar em um dirigente presente naquela tarde no Couto Pereira não só a vergonha pelo que via em campo, mas o sentimento de mudar radicalmente o clube e fazer com aquele tipo de coisa nunca mais viesse a acontecer. Vendo o que viu nas arquibancadas, Mário Celso Petraglia capitaneou uma equipe forte de dirigentes que iniciou as mudanças que transformaram para sempre a vida do Clube Atlético Paranaense.

Não obstante o grito nas arquibancadas e tentativa de criar o ambiente de uma virada histórica, o fraco time atleticano ainda sofreu mais um gol do atacante Brandão (que imitou um coelhinho da Páscoa pulando e com os dentes pra fora) e um gol contra do zagueiro China, naquela derrota que trouxe por consequência uma verdadeira revolução no futebol atleticano.

Final de partida no Couto Pereira: Coritiba 5 X 1 Atlético. Mal sabiam os coxas o preço que pagariam por aquela vitória!

Veja os gols da partida aqui.



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