16 abr 2020 - 5h25

O tempo é o Senhor da razão: Petraglia e o legado pós Atletiba da Páscoa

Há exatos 25 anos, no dia 16 de abril de 1995, aconteceu um dos capítulos mais decisivos da história do Clube Athletico Paranaense. Por mais controverso que possa parecer, foi em terra adversária, no estádio Couto Pereira, e após sofrer uma goleada por 5 a 1, naquele que ficou conhecido como Atletiba da Páscoa, o estopim para a grande transformação atleticana. Hoje, exatamente duas décadas e meia depois, todo esse processo é materializado em patrimônio e conquistas nacionais e internacionais. “O Athletico Paranaense pagou pela ambição de estar entre os primeiros clubes das Américas”, resumiu o presidente e personagem principal de toda essa transformação, Mario Celso Petraglia, em entrevista à Furacao.com.

Como condutor de todo esse processo, Petraglia lembra que o resultado daquele famoso Atletiba, emblemático por ser um “divisor de águas” na história do clube, apenas escancarou toda fragilidade que o Rubro-Negro vinha passando há muitos anos.

“Ali realmente ficou claro que se não fizéssemos alguma coisa para mudar a situação do clube, com certeza não teríamos para quem torcer”, contou, lembrando as constantes investidas para uma possível fusão com o Paraná Clube. “Havia uma posição muito forte do Paraná Clube na ocasião, e o Coritiba sempre foi mais forte, maior, mais bem administrado e conduzido que o nosso Furacão na época.”

Ele estava no Couto Pereira 25 anos atrás e, como muitos atleticanos presentes, não ficou até o apito final. “Assisti ao jogo com o Antônio Carletto Sobrinho, o Carletinho, e a avaliação que fizemos era de que, realmente, nosso Athletico estava prestes e pronto para fechar suas portas. O retrato da administração e como o clube vivia os últimos anos era demonstrada claramente pela performance do time”, lembrou Petraglia, citando o período de 24 anos com apenas três títulos conquistados – os Estaduais de 1958, 1970 e 1982. Ele saiu do jogo no intervalo e foi a um bingo, só sabendo da goleada horas depois. “O resultado a gente já pressentia, pelo banho de bola que tomamos no primeiro tempo, sabíamos que seria terrível, o que de fato aconteceu.”

Dias seguintes e a Comissão Gestora

De forma tranquila e convicta, Mario Celso Petraglia revelou que mesmo com o cenário em ruínas que o Athletico apresentava, não tinha qualquer pretensão de voltar à administração do clube – na época, fazia parte do conselho e acumulava a experiência de pouco mais de um ano como diretor financeiro na gestão de Valmor Zimermann, nos anos 80.

“Eu não queria de forma alguma entrar no futebol. Já participava do conselho e não tinha nenhuma expectativa, nenhuma intenção de me envolver com a operação do Atlético. Já tinha tido uma experiência, na gestão do Valmor Zimermann, e senti que o futebol não era uma coisa pensada a médio e longo prazo, futebol era muito imediatismo, se jogava e se fazia tudo para a partida de quarta e domingo, e a minha cabeça sempre foi pensando a longo prazo”, recordou. “E vi lá atrás que [o clube] não tinha futuro, ou se mudava tudo ou não teríamos como crescer e superar os adversários na época, tanto o Paraná Clube, que vinha da fusão com vários clubes, a última com o Pinheiros, e o Coritiba, que sempre foi o Coritiba.”

O que o fez mudar de opinião? Segundo o próprio Petraglia, o famoso ímpeto de 5 minutinhos: “Coincidiu com os 5 minutos, que numa entrevista acabei dizendo que se a administração atual renunciasse…”, com o restante da história, muitos atleticanos acompanhando de perto a partir dali. Também a própria reação da torcida no jogo, entoando o hino mesmo sendo humilhada em campo pelo rival. “Realmente fiquei muito triste, muito preocupado, passei a pensar no que fazer para ajudar essa torcida e também me ajudar, porque eu sempre fui atleticano, transformei meus filhos e hoje meus netos, todos torcedores… aquela humilhação, ninguém merecia.”

Semanas depois da derrota no clássico, em 17 de maio, o então presidente do Athletico, Hussein Zraik, e o vice-presidente, Abílio Abreu Neto, declararam-se “impedidos de comandar o clube”, abrindo espaço para que uma Comissão Gestora, liderada por Petraglia, assumisse até o fim do ano, quando aconteceriam as eleições conforme o Estatuto.

“Gostaria de ratificar e deixar registrado que quem saiu do clube foi o presidente e o vice. Todos os diretores nomeados permaneceram lá, já estavam no clube enquanto o clube estava para fechar as portas. A única novidade fui eu, criamos uma comissão gestora no conselho que eu presidi e depois iniciamos um trabalho de médio e longo prazo, da forma que eu aprendi a fazer com as minhas empresas, com empreendedorismo, visão sistêmica da indústria do futebol e conseguimos, a história está escrita, registrada e conseguimos chegar lá”, emendou.

Festa atleticana na Copa do Brasil [foto: AGÊNCIA F8/Vinicius do Prado]
Legado e mudança de patamar para o Athletico

De 1995 para cá, muita coisa mudou no clube. Desde a marca, que já foi atualizada e modernizada duas vezes, e até mesmo o nome do clube, que voltou à grafia original. Para Petraglia, importante ressaltar dois pilares em especial: o patrimônio e o reconhecimento nacional e internacional.

“Começamos a planejar e sentimos que sem um estádio, havíamos voltado do Pinheirão [em 1994] que também foi uma aventura que não resultou em absolutamente nada, mas precisaríamos fazer um estádio à altura do projeto. Todos riram, pensavam que uma reforma, que chamei de ‘remendão’, seria suficiente. Mas não, insistimos, fomos buscar condições e, em 1999, depois de quatro anos de gestão, já tínhamos um dos melhores CTs do Brasil e o melhor estádio, o mais moderno daquela ocasião”, relembrou. “Isso nos deu a força, a base, todas as condições de alavancagem para chegarmos aonde estamos hoje. Foi difícil, degrau por degrau, com uma oposição terrível”, completou.

Petraglia citou também as conquistas em campo, que elevaram o patamar do clube: “Ganhamos o Campeonato seletivo para participar da primeira Libertadores [em 1999], depois ganhamos o Brasileiro em 2001 e o vice em 2004, que por questões políticas não ganhamos. Fomos vice-campeões da Libertadores e fomos indo, sempre estando na primeira página. Em 2011 recebemos o clube de volta na segunda divisão, subimos, e estamos aí esses 8 anos entre os primeiros do Brasil. Perdemos uma Copa do Brasil para o Flamengo, que não merecíamos pois nosso time era infinitamente melhor em 2013, fomos terceiro do Brasil [no Brasileiro 2013] e depois campeão da Sul-Americana e, ano passado, campeão da Copa do Brasil.”

E, para finalizar, receber a Copa do Mundo e todas as inovações implantadas na Arena da Baixada, que diferencia o clube em termos de modernidade e infraestrutura. “Construímos outro estádio para a Copa do Mundo e fizemos o teto retrátil, a grama sintética que hoje nos copiam, ou seja, todas as inovações e quebras de paradigmas que o Athletico Paranaense pagou por essa ambição de estar entre os primeiros clubes das Américas. A história está escrita”, finalizou.



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