O Furacão que passou pela Copa do Brasil e levou tudo
Há um ano, o Athletico conquistava o seu segundo título nacional. O Beira-Rio curvou-se ao devastador Furacão e foi palco de mais um capítulo, escrito com letras douradas, da história rubro-negra.
Trajetória campeã
Oitavas de final
O Furacão voltou do Nordeste com um empate sem gols para decidir a vaga em casa, com o apoio do torcedor.
O Fortaleza veio à Curitiba com o que era esperado: uma muralha defensiva, jogadores vigiados a curta distância e marcações dobradas. O Athletico foi mal individualmente, exagerou nos erros de passes, mas venceu nos últimos minutos com gol de peixinho do sempre decisivo Marco Ruben.
Quartas de final
Enfrentar aquele que seria o campeão da Libertadores ao final de 2019 foi um desafio e tanto. Fulminado pela incompetência do apito e pelo estrábico VAR que não “conseguiram” ver o lance em que o goleiro Diego Alves seria expulso – que deu um banho de água fria no Furacão, causa da desatenção que redundou no gol de Gabigol em jogada iniciada de uma cobrança de lateral -, o Athletico só empatou com o Urubu, embora tenha feito três gols (todos anulados), ter um pênalti não marcado e sufocado o time do recém-chegado Jorge Jesus.
No Maracanã… Quem diria que o time da grama sintética se daria tão bem no gramado natural? Os nossos heróis tiveram atuação madura e aplicação tática eficiente. Ruben fez o pivô, Nazário o lançamento e Rony empatou. Nos pênaltis, cobranças bem efetuadas e o impecável Santos decretaram a classificação do rubro-negro paranaense e calaram 70 mil flamenguistas. Em dia de Furacão, Urubu não voa!
Semifinal
A partida contra o tricolor gaúcho, no Rio Grande do Sul, não foi o que o torcedor atleticano imaginava: dois a zero submisso, insípido, despido de qualquer nota de ambição que pudesse ter levado a um mísero gol. O Grêmio foi implacável e o Athletico ficou à mercê do time gaúcho que só não fez mais por erros de seus atacantes.
A intensidade que faltou na ida, sobrou na volta. O Furacão precisava apresentar algo novo para eliminar o Grêmio. E o novo foi a agressividade na marcação, um estado de ânimo ofensivo com precisão de passes, um controle do jogo impensável para time com tantos jovens em campo. Nikão desencadeou o “pandemônio” na Baixada, pegando sobra do chute no travessão de Bruno Guimarães. Rony cruzou para o camisa nove argentino, de cabeça, levar a disputa para os pênaltis. Santos colocou o ponto final na decisão, fazendo uma defesaça em cobrança de Pepê. Uma classificação daquelas hercúleas. Era o Athletico matador de imortal na final da Copa do Brasil.
Final
Na primeira partida, jogando em casa, o Furacão enfrentou um paquidérmico Colorado, totalmente voltado para a defesa, vestido em 4-5-1 inofensivo. Mobilizado pela torcida gigante, claro nos seus objetivos, o Athletico buscou o resultado nos noventa minutos. O gol foi pintura de lance com cooperação explícita da zaga gaúcha, reconhecida do merecimento rubro-negro. Rony, Ruben, Bruno Guimarães, umas canelas coloradas e a bola estava na gaveta esquerda de Lomba. O Brasil suspirou aliviado com a vitória do bom futebol sobre a mesmice defensivista que nos maltrata.
O sentimento de vitória e título tinha embasamento real e o sonho virou realidade. O Beira-Rio, que era carta na manga do Colorado, não conseguiu entrar em campo. O Athletico foi campeão jogando como time copeiro no primeiro tempo em chamas, como Furacão envolvente; e destruidor, na segunda etapa. Atingido o vestiário com o placar de igualdade, a vantagem mínima obtida na Baixada ganharia peso absurdo a cada minuto que passasse. O estilo Furacão de jogar, com a posse de bola, colocou o relógio para correr, emudeceu o torcedor gaúcho. A definitiva vitória viria no último minuto em jogada espetacular de Marcelo Cirino – o menino que vimos nascer – finalizada pelo incontrolável Rony. A taça veio com requintes de adrenalina e extrema emoção.
O título foi acalentado por você, torcedor, que acreditou sempre, que sabe da história quase centenária do Athletico, que conhece seu valor, que custou a dormir vestindo a camisa que só se veste por amor. Uma conquista irretocável.
Um Furacão quebrador de muros
O Athletico se prepara para ser gigante. Ainda que necessite aparentemente retroceder alguns passos para depois avançar novamente e lutar contra um sistema construído sob alicerces da desigualdade, são décadas na busca pela construção do seu patrimônio. Estruturação do clube, profissionalização, investimento a longo prazo, CT, Arena, categorias de formação, valorização da marca, revolução mercadológica, ousadia na maneira de ver, pensar e fazer futebol. Sabe onde quer chegar e como fazer isso. Esse contexto engrandece qualquer conquista e torna ainda mais valoroso e épico um título que, por si só, já é algo maravilhoso.
Tudo o que aconteceu não apaga 2005. Mas o mundo do futebol dá voltas. E o mesmo palco – que até então era símbolo de lamentação dos atleticanos, por ter sido o estádio selecionado para substituir a mística Baixada, naquele golpe enfadonho articulado pelo São Paulo Futebol Clube e pela CONMEBOL, para o primeiro jogo da final da Libertadores – readquiriu novo significado. E hoje faz parte do lugar onde o Athletico conquistou um dos maiores trunfos de toda sua história (escrita e ainda não escrita): a Copa do Brasil.
O Beira-Rio; o gaúcho e campeoníssimo Tiago Nunes; o goleiraço de Seleção Brasileira Santos; o menino Khellven; o guerreiro Bambu; o guardião da zaga Léo Pereira; o experiente Márcio Azevedo; o capitão Wellington (que teve sua carreira dada como encerrada pelo próprio Internacional após uma lesão); o decisivo Cittadini; o brilhante e ídolo Bruno Guimarães; o raçudo e sempre fundamental Nikão; o incansável Rony; o argentino objetivo, eficiente e matador Marco Ruben; o sempre criticado (inclusive na sua passagem pelo Inter) Cirino e sua indelével e histórica “cirineta”. A sinergia entre time e torcida…
Histórias antológicas são plenas de guerreiros valorosos, lances de força, de velocidade, de amor à farda que se veste. O feito é imortal.
Imortal que – ao contrário do que apenas não rubro-negros fanáticos poderiam imaginar – sucumbiu em território paranaense. Porque conhecemos nosso valor. Sempre soubemos que poderíamos chegar. Aproveitar o embalo de uma conquista sul-americana e cravar o nome na galeria dos campeões. Novamente.
As memórias ficarão para sempre, os detalhes, as minúcias. Os fatos tornarão os jogos em lendas, criarão heróis e batalhas épicas. É assim que se constrói a história.
Nunca teremos, como torcedores, a certeza de que o triunfo virá. Pagaremos ingressos e nos associaremos por puro amor, para acompanhar o time “na boa ou na ruim”. Até o fim. O que não fazemos para viver intensamente esta insanidade de nome Club Athletico Paranaense… Isso é pura magia.
Mais uma vez, mostramos que não há muralha capaz de segurar-nos. Não há muro capaz de não quebrarmos!
O torcedor rubro-negro faz do seu fanatismo um estilo de vida, abandona o sofá, tira as camisas jogadeiras da gaveta, cresce nas arquibancadas, freta avião, é campeão, acorda a madrugada curitibana com seu grito, recepciona seus heróis e tatua na pele e no coração a imagem dos feitos apoteóticos conquistados a golpes de síncopes, arritmias e pequenos infartos.
Há um ano, um Furacão passou pela Copa do Brasil. E levou tudo.