2020: o ano em que o rancor vai rebaixar o Athletico
É inegável que tudo o que Mario Celso Petraglia fez pelo Athletico é incrível. Administrativamente, diria que é impossível achar no Brasil alguém que fez tanto quanto ele por um clube. Mas vale lembrar que 2020 é o início de um novo mandato. Se não tem mais nada para oferecer, como disse em um tweet, era simples: podia não ter se candidatado. Se candidatou? Vai ser cobrado.
Uma das grandes virtudes de Petraglia era reconhecer sua fraqueza. Anos atrás, ele repetia com frequência: de bola, ele não entende. Tanto isso é verdade que, em 2018, queria se abraçar até a Série B com o Diniz. Por sorte, tivemos a pausa da Copa e, com muita pressão de nós torcedores, ele deu o braço a torcer e colocou Tiago Nunes no cargo. Rapidamente, a equipe reagiu no Brasileiro, sem falar na belíssima campanha da Sula. Enquanto isso, Petraglia dava entrevista dizendo que o bom era o Diniz. Tiago seguia como interino com um salário simbólico, em comparação com os outros treineiros da Série A. Assim, quase beliscou uma vaga na Libertadores via Brasileiro. E conquistou o título inédito da Sul Americana.
Tiago enfim passou a ser oficialmente o treinador do CAP. Com um salário ainda muito abaixo da média da Série A. Eis que o Galo avançou para cima dele. Ofereceu mais dinheiro e mais visibilidade. Mas Tiago decidiu que não era hora de sair. Foi então que Petraglia esbravejou contra o outro Atlético e disse que Tiago tinha caráter. Como se fosse falha de caráter querer ganhar mais. Mas sorte a nossa que ele ficou.
Mais um título inédito veio: o da Copa do Brasil. E o contrato de Tiago se aproximava do fim. Tiago comete uma série de falhas de comunicação. Uma hora, diz que pode pedir o boné depois da decisão contra o Inter. Na outra, em momento de êxtase pelo título, diz que nunca sairá do time. Declarações antagônicas de cabeça quente. Por fim, começam a chegar propostas. É mais do que o dobro do que ele ganhava aqui. Além disso, todos sabíamos que haveria um desmanche no elenco. De fato, não havia muitos motivos para o Tiago ficar tendo tantas outras oportunidades. Quando ele anuncia que ficará apenas até o fim do contrato e depois irá embora, vira o maior dos traidores. Persona non grata. Um canalha.
Parte da torcida compra a raiva da diretoria. “Gratidão é a voz do coração” diziam os ingratos com o homem que mudou a nossa história. Tiago deu resultados em campo, rendeu premiações, valorizações astronômicas de diversos jogadores. Com um salário baixíssimo para o mercado, deu lucro como nenhum outro. Mas havia quem vociferasse que ele não era fundamental. Temos o Jogo CAP. Qualquer um é capaz de reproduzir. Mas o tempo é o senhor da razão.
Com tempo para planejar 2020 desde setembro de 2019, Paulo André faz tudo errado. Aliás, este é talvez o erro mais crasso de Petraglia. Como colocar como diretor de futebol alguém que até outro dia era zagueiro? Pode ter estudado, mas não tinha nenhuma experiência prática administrativa. Mais ou menos como um playboy que começa na empresa do pai logo como diretor e põe tudo a perder. Transforma técnico em head coach(?), toma não atrás de não de treinadores que não queriam receber tão mal quanto Tiago recebia, acaba apelando para o defasado Dorival Júnior. Sem falar nas contratações estapafúrdias e caríssimas.
Dorival é mandado embora e apostam num rapaz que havia assumido o clube duas vezes. Na primeira, deu bons resultados com a equipe montada pelo Tiago Nunes. Na segunda, quando teve que montar seu próprio time, uma catástrofe completa com o bônus de tomar goleada do Coritiba. Enquanto isso, Tiago era demitido do Corinthians e ficava à disposição.
Nada mais óbvio do que reconhecer o valor dele. Antes do Tiago Nunes: ZR. Com Tiago Nunes: títulos, prêmios e jogadores valorizados. Depois do Tiago Nunes: ZR. Era hora de deixar o rancor de lado. Tão simples quanto o Fortaleza que recontratou Rogério Ceni após a saída deste para o Cruzeiro. Mas Mario Celso é incapaz. Prefere ver seu projeto de anos ir para o ralo, prefere manchar sua própria biografia, prefere a tristeza da torcida, prefere tudo a engolir o próprio orgulho.
Temos mais de metade do campeonato pela frente. Há salvação. Mas a solução encontrada é um treinador tampão que nem quer mais ser técnico. E que estava na lanterna com o Botafogo. “Ano que vem, teremos uma equipe muito melhor”. Enquanto isso, Tiago passeia por Curitiba. Corta o cabelo no barbeiro dos jogadores do CAP. Dá juras de amor ao clube em entrevistas.
A cada jogo que passa, fica mais claro que a Sul Americana e a Copa do Brasil foram acidentes para essa diretoria. Que o mérito mesmo é do Tiago. A cada nova derrota do pseudo Jogo CAP, os feitos de Tiago Nunes ficam maiores. Enquanto Petraglia, ainda enorme na história do clube, escolhe encolher seu legado a cada dia.