30 dez 2020 - 20h00

Um Furacão invisível

Findado o conturbado 2020, chego ao despropósito de especular que os títulos conquistados pelo Furacão nos últimos anos estão na raiz dos nossos problemas atuais – o mau desempenho no Brasileirão, a invisibilidade da equipe, jogos sempre aos sábados e a ausência da televisão em tempos de pandemia.

Quase impossível acreditar que com os cofres abarrotados tenhamos um time dependente de improvisações em setores importantes, com recém-chegados longe da titularidade – ainda que efêmera – mesmo com cinco substituições a serem feitas.

O impossível aconteceu. Para exemplificar: não temos lateral direito; Aguillar, Geuvânio e Alvarado – esperanças de bom futebol – são reservas de luxo num time submisso.

Difícil acreditar que o modelo de boa administração tenha ingenuamente dado a mão para o Flamengo na luta pela “Lei do Mandante”, pela qual o Urubu só deu o grito e depois correu se abraçar à dona do futebol nacional, pronta a lhe garantir sua imensa generosidade. E ficamos nós, torcedores, reféns da busca de uma transmissão pirata qualquer – ao trava-trava insuportável.

De certo mesmo é que o desastre não tem por origem nossas vitórias. Possível sim um daqueles atos falhos em que o humano pensa ter descoberto a Pedra Filosofal para transformar chumbo em ouro; ter força para afrontar os deuses. A Pedra inexiste. E não se afrontam os deuses sem dura revanche. Então, o jeito é vagar neste limbo em que nos metemos e com a paciência de Jó – fiel à sua fé.

Não acredito – como eterno esperançoso que sou – que o futebol do Athletico tenha se exaurido, que estejamos condenados a assistir a um time com inúmeras dificuldades até o final dos tempos, sem outras alternativas e rezar para que o apocalipse nos reserve pelo menos vaga na primeira divisão.

Para que isso acontecesse, teria que receber em mãos, carimbados e selados, os atestados de incapacidade das tantas contratações feitas e que até hoje não conseguiram jogar noventa minutos de uma partida. Teria que conhecer o especialista em performances que a partir de breve análise diagnosticou esta insuficiência, constatou o erro absurdo das contratações em que se empenharam dezenas de milhões e condenou-as ao fogo do banco eterno.

É espantoso pensar que Aguilar, Alvarado, Ravanelli, Geuvânio, Fabinho e outros estejam nos últimos lugares na fila das substituições. Que Erick fosse obrigado a jogar fora de posição até se lesionar gravemente. Que titularidades sejam absolutas no meio de campo, setor que não consegue entregar uma bola decente ao atacante e impede análise justa da atuação do camisa 9. Se o time estivesse lá na frente, com jogadores voando… fosse só azar, tudo bem. Próximo da ZR, nem pensar.

Desde Dorival Junior – desligado tardiamente do Clube, juntamente com o então diretor Paulo André, ao final de agosto – escuto dos nossos treinadores frases parecidas com a do professor demitido: “estou vendo coisas boas”. A cada jogo ruim encontra-se uma virtude; a cada jogo péssimo passa-se o pano em desempenhos destituídos de empenhos.

Existe um problema no Athletico que vai muito além da contratação de jogadores de qualidade discutível, de treinadores que pouco enxergam, que repetem escalados que pouco produzem – como se fossem pérolas a um dia sair da concha.

Fato é que o futebol atleticano acompanhou o caos vivido pelo mundo “real”, fora dele. No ano em que o clube possuía o maior orçamento de sua história – após conquista da milionária Copa do Brasil e com a venda de ídolos incontestáveis da torcida rubro-negra (Bruno Guimarães e Renan Lodi) – a temporada que, em teoria, mostrava-se promissora não se concretizou na prática. Decepcionante.

Um ano marcado por um comando que perdeu a mão. E onde não há comando o esforço é disperso – vai do corpo mole escancarado à coragem solitária, passando pelas enfermarias e seus desconfortos, luxações, Covids…

Em que momento o comando perdeu a mão? Quando sinalizou para as contratações uma rotina de titularidade que não se concretizou? Quando perdeu a credibilidade ao escalar repetidas vezes jogadores com baixíssimo rendimento? Quando com tantas novidades foi buscar na base a solução de seus problemas? Quando não percebeu um princípio de generalizada desatenção? Quando o desejo de ressuscitar carreiras em declínio – e ganhar milhões com os milagres – foi maior que a busca da melhor peça para compor o elenco?

É óbvio que o comando errou. Também é óbvio que os jogadores têm imensa culpa. E isso fica claro no desenrolar de grande parte dos jogos onde nada acontecia – pelo menos até a chegada de Autuori. Ninguém dava um grito, cobrava do companheiro o acerto do passe, a firmeza na dividida, a rapidez na execução das jogadas. O time era um túmulo. A cobrança não saía do vestiário, parecia ficar entalada na boca do túnel. Havia um respeito absoluto ao erro do companheiro – podia-se errar à vontade.

A esperança do torcedor é que em 2021 os ventos voltem a soprar fortes e favoráveis para os lados do CT do Caju, já que em 2020 o Furacão foi irreconhecível. Um Furacão invisível.



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