1 mar 2021 - 21h09

A eficiência e eficácia de Paulo Autuori

Em Outubro de 2020, o Furacão anunciou a contratação de Paulo Autuori para o cargo de diretor técnico de futebol. O Head Coach seria o responsável por aplicar a metodologia do “Jogo CAP” nas equipes principal e aspirante e por retomar o projeto que ele próprio ajudou implementar entre 2016 e 2017 e que foi fundamental para os títulos da Copa Sul-Americana e Copa do Brasil nos anos subsequentes.

Em 2016, o carioca levou o time à sexta colocação no Campeonato Brasileiro, conquistando uma vaga para a Libertadores.

Em 2017, conduziu o time às oitavas de final da competição continental. Em maio, deixou o cargo para assumir como diretor técnico – após 86 partidas à frente do elenco rubro-negro.

Quase três anos depois, Autuori retornou ao Athletico com a missão de liderar o projeto esportivo do Clube, com ênfase na gestão das equipes principal e aspirantes.

Em 2020, existia forte expectativa pela contratação de um novo técnico, visto que desde a saída de Dorival Junior o time era comandado pelo interino Eduardo Barros – uma das peças de uma caótica engrenagem – que não conseguiu fazer o Furacão girar.

Ante os “sinais negativos” no Botafogo, Autuori comunicou à diretoria a “necessidade de mudanças, sem qualquer tipo de constrangimentos”; foi categórico, “sem espaço para retroceder na atitude já tomada”. Tudo indicava a fadiga do cargo e o fim da brilhante carreira à beira do campo.

A proposta para ser (novamente) diretor técnico do Athletico caiu no colo do experiente treinador, na hora certa, no clube certo, ainda que por aqui a casa estivesse pegando fogo.

O Furacão fazia péssima campanha no Brasileirão – não vencia há seis jogos e amargava na zona de rebaixamento há duas rodadas. Por outro lado, era o primeiro colocado no seu grupo da Libertadores e com classificação garantida para as oitavas de final.  

Aconteceu que o próprio Head Coach assumiu o time, provisoriamente, até a chegada de um novo comandante, que deveria ser anunciado ao final do Campeonato Brasileiro.

Então, em meio ao caos, bem cantado, Autuori – já de terno e gravata – aceitou tocar o Furacão. Pegou o barco andando, fazendo água, um Titanic ao que tudo indica torpedeado pelo mau ambiente.

Apagados os incêndios, escaladas as feras e reconhecidas as vulnerabilidades do elenco, a opção tática foi a tradicional: arrumar a defesa, tornar o Athletico um time reativo que sofre – mas que, sobretudo, sabe como fazê-lo. Joga-se no fio da navalha. Dá certo. Saímos do abismo, respiramos fundo. E ainda arriscamos braçadas rumo ao continente libertador.

Deu certo porque Autuori entendeu o dilema atleticano; os jogadores compraram sua ideia; os planos táticos variariam de jogo para jogo – para cada batalha um esquema. Por um triz não vencemos o River na Baixada. Não é sorte, é experiência e conhecimento. Bases firmes para o sucesso – que no futebol às vezes de nada adiantam – adiantaram e muito. 

E para que os objetivos propostos pelo comandante rubro-negro se concretizassem na prática, o time necessitaria de duas qualidades e características sempre muito citadas e destacadas pelo próprio Autuori em seus discursos: eficácia e eficiância.

Eficácia é a qualidade daquilo que alcança os efeitos desejados; tem a ver com resultado; a vitória com folga, as finalizações transformadas em gol, determinaram a eficácia reconhecida. A eficiência está ligada aos meios; ao fazer certo com menos desperdícios de tempo e recursos.

Inegavelmente, Autuori fez o sacrifício de treinar o Athletico com os olhos no futuro, no cargo de mestre dos mestres que já tinha acertado com o presidente Petraglia. Não tivesse esta segurança, talvez já teria pedido o boné como fez com o Botafogo. É claro o cansaço, a inapetência para o trabalho.

Ao falar da recuperação atleticana, Autuori citou – em algumas oportunidades – a conquista da harmonia no elenco.

Imagino que se Autuori fosse para beira do campo para dar broncas em seus comandados no nível Diniz; ou se tivesse repentes como Jorge Jesus; ou até se esperneasse como Sampaoli, estaríamos de mãos dadas com o rival alviverde, as “estrelas” rubro-negras aos chiliques, o elenco rachado e as derrotas se acumulando. Convenço-me de que a garantia da permanência na primeira divisão passou pelo “tapinha nas costas” e pelo “você jogou nada, mas tudo bem”.

Hoje, findado o campeonato no qual o Athletico foi seu maior adversário e quase pagou muito caro por isso, a missão mais importante de Autuori é relacionar quem será mandado embora imediatamente. Mesmo o time que se repete jogo a jogo, tem no mínimo uns três ou quatro que podem seguir destino amanhã. Além de caneludos, jogam um futebol incompatível com o dinamismo necessário para a prática do futebol – e não o futebol que o Athletico quer, mas o futebol que o Athletico precisa.

A experiência de Autuori salvou o ano ao identificar a vulnerabilidade do elenco, a crise comportamental e criado um esquema defensivo que conseguiu os resultados para a sobrevivência (e que quase chegou a conquistar uma vaga para a próxima Libertadores da América).

O mal causado pelo ex-dirigente Paulo – no caso o outro, o André – deixou sequelas de longa duração. Depois de um “ufa” prolongado, Petraglia declarou: “de todos os anos vividos dentro do Furacão, este foi o que mais sofremos e nos preocupamos”. 

Quando Petraglia usa o pronome oblíquo átono “nos” inclui a todos nós, atleticanos, que passamos o ano pandêmico sobressaltados com a possibilidade do rebaixamento. Felizmente, o fantasma deixou de nos assombrar.

O fato inconteste mostra como em futebol nada é definitivo. Pode-se prever, planejar, mas se vai dar certo, só o “tempo senhor da razão” dirá. Com os cofres cheios, as contratações chegando às pencas, um treinador experiente com tempo suficiente para realizar a pré-temporada, tudo levava a crer que 2020 seria ano especial para o rubro-negro. Não foi mesmo.

Neste contexto, alguns reconhecimentos devem ser feitos. A imprescindível saída de Paulo André ajudou uma enormidade. A concordância de Autuori em assumir o cargo para o qual não fora contratado, sua habilidade em contornar a desarmonia, entender os limites da equipe, montar time usando poucos jogadores e usar uma forma de jogar muito distante do que se afirmou em certo momento como o jeito de jogar atleticano, foram essenciais.

Autuori deu conta do recado. Foi bem. Foi muito bem. Se este é realmente seu fim de carreira ao lado do campo, que deem logo a ele o “Zagallo de Ouro”.

A conclusão é que para que as coisas pudessem dar minimamente certo, faltava-nos uma coisa – na verdade duas – acompanhada de quem entende de bola: a eficácia e eficiência de Paulo Autuori.

Que o sucesso dentro de campo se sustente, agora, fora dele. Sucesso e vida longa no Athletico, professor!



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