25 maio 2021 - 21h18

Lucho González: o capitão de um novo Athletico

Paulo Autuori, técnico importante na história recente do Furacão , foi autor de frases marcantes em suas passagens pelo CAP. Em que pese hoje o torcedor mais lamente a lembrança do “saber sofrer”, certamente não esquecerá da qualificação dada pelo atual dirigente rubro-negro a Luis Óscar González quando de sua contratação pelo clube: “animal competitivo”. Autuori não somente acertou no adjetivo, como pareceu prever o que Lucho González viria a significar na história atleticana:

“Ele é um excelente jogador. É um animal competitivo, entre aspas, porque está em um nível competitivo altíssimo e muito exigente. Ele vai ser um grande aporte na equipe, principalmente aos mais novos. Ele tem experiência, passou pela seleção argentina, e tem o mesmo perfil do Diego (Forlán), com o qual trabalhei, e também do Jussiê, que infelizmente não aconteceu. Estamos procurando alguém que faça um aporte dentro de campo e ajudando os mais experientes, como o Paulo (André), Thiago (Heleno) e André Lima. Temos um grupo extremamente jovem e que precisa de experiência. Demos uma tacada muito certeira, estou bastante satisfeito – disse em entrevista coletiva à imprensa.”

O argentino foi confirmado pelo Athletico em 16/09/2016, ano em que o clube havia conquistado seu primeiro campeonato paranaense desde 2009, e apenas o quarto desde o título brasileiro de 2001, maior conquista do clube. É verdade que o Furacão teve boas campanhas, como os vices do Brasileirão de 2004 e da Libertadores de 2005, ou mesmo o segundo lugar da Copa do Brasil de 2013, mesmo ano em que terminou o certame nacional em terceiro. Porém, tais conquistas se mostravam pouco para o que se prometia de um time emergente em cenário nacional, e que se pretendia hegemônico em seu Estado – onde predominou o rival que, dentre rebaixamentos e acessos nacionais, conquistou sete títulos regionais até então.

Com a chegada do “El Comandante”, após um 2017 sem brilhos, o torcedor do Athletico presenciou uma era vitoriosa. A Arena, enfim sem obras, e o CT há muito considerado um dos mais modernos no país, agora abrigavam times vencedores. A já premiada base agora reforçava o antigo projeto de time de aspirantes (antes sub-23) tricampeão estadual, sendo os dois primeiros conquistados exclusivamente pela “piazada”.

Fora de seus domínios, igualmente, o Furacão levantou taças almejadas por muitos clubes que se dizem “grandes” no Brasil: a Copa Sul-americana (de 2018), a Levain Cup e a Copa do Brasil (ambas de 2019). No certame nacional, excetuando o 11º lugar de 2017, as classificações renderam (ou renderiam, se não fossem os títulos que já qualificavam à Libertadores) competições continentais: 6º em 2016, 7º em 2018, 5º em 2019 e 9º em 2020.

Para alguns, pode-se falar em coincidência. Para outros, porém, o espírito do argentino é engrenagem fundamental da fase vencedora. Com 29 títulos na carreira (segundo argentino com mais conquistas, atrás apenas de um tal de Lionel Messi), sua experiência e espírito vencedor influenciaram os colegas – especialmente os jovens jogadores que iniciaram sua carreira no Athletico. A marca disso ficou ilustrada na frase “final não se joga, se ganha”, dita momentos antes do primeiro jogo da final da “Sula” de 2018:

Se antes o antigo Atlético-PR pouco chegava e, quando chegava, não vencia (e a final da CDB de 2013 talvez seja o maior exemplo disso), o atual Athletico, agora, é mais competitivo do que nunca. Goleou Boca Juniors, enfrentou mais de uma vez o River Plate sem baixar a cabeça, conquistou taça intercontinental, e promoveu eliminações de times atualmente dominantes como Flamengo e Grêmio. No seu quintal, não teme qualquer freguesia para o maior rival, e chega a questionar o status de clássico com o Paraná Clube, vendo times jovens ou mesmo menos qualificados (como parece ser o de 2021) darem conta do recado.

Nos últimos tempos, é verdade, não se viu um jogador diferenciado em campo. Talvez pela idade, na qual o corpo não mais acompanha a mente como antes. Mas nos quase 5 anos de Lucho González no Athletico Paranaense, o patamar do clube mudou. Diversas foram as entrevistas de diversos dirigentes, técnicos e jogadores (dos mais jovens aos mais rodados), exaltando a importância de Lucho em cada conquista, em cada vitória, e em cada boa campanha. Sempre existirão aqueles que se prendem ao que salta aos olhos. Porém, para muitos, “El Comandante” transcendeu o campo e bola para entrar na história como o capitão de um novo Furacão.

Na próxima quinta-feira, Lucho fará seu último jogo com a camisa atleticana. Que a gana de vencer do argentino reflita ainda por muitos anos na Arena da Baixada.



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