26 maio 2021 - 17h41

O último tango de chuteiras

Gol de Lucho pela Libertadores (Site Oficial – Foto: Mauricio Mano)

 

Desculpa, leitor! Este texto de título dramático não é destinado a você, não é para te influenciar, também não é para te fazer refletir, tampouco para discordar da sua opinião, e sim para exaltar esse enorme jogador que honrou a nossa camisa com muita dedicação, profissionalismo e estrela!

 

Lembro como se fosse hoje daquele “susto” inicial que acompanhou o anúncio da vinda do multicampeão Luis ‘Lucho’ Óscar González para o nosso Furacão, aquele misto de incredulidade e desconfiança, simplesmente porque parecia loucura termos aqui conosco esse ícone do futebol sul-americano. Na real, por se tratar de Club Athletico Paranaense, parecia ser algo muito bom para ser verdade.

 

E essas quimeras se justificam por conhecermos o estilão do nosso Athletico, o qual nos ensinou a sermos modestos, sobretudo nas contratações. Mas, nesse caso, parece que o “animal competitivo” passou selado e – felizmente – abraçamos a oportunidade de tê-lo aqui, mesmo dentro da nossa política salarial, compensando em estrutura, boas condições de trabalho, calendário e desafios, até para alguém com um currículo tão vasto quanto o desse famoso camisa 3.

 

Com o passar do tempo, esses devaneios se converteram em respeito, gratidão e reciprocidade. Afinal de contas, esse gigante argentino preencheu uma lacuna que existia aqui e nós oferecemos reconhecimento à sua importância, um canto do mundo para ele chamar de lar e uma torcida que se transformou em sua própria gente!

 

De 2016 para cá, ele foi inquilino do CT, o garoto-propaganda, o dono da cuia, o resenheiro, o fede-título, o ídolo acessível, o capitão, um exemplo, a voz, um alvo, um herói, o eterno culpado e aquele que “só” participou da conquista de quatro títulos: Sul-Americana de 2018, J. League/Conmebol 2019, Copa do Brasil 2019 e Campeonato Paranaense de 2020.

 

E, revisitando essa história tão intensa quanto um tango da mesma nacionalidade, não podemos deixar de reconhecer que valeu muito a pena.

 

Aliás, é necessário reconhecer que essa parceria fez bem para todo mundo. Se por um lado ele incrementou nosso instinto de vitória e inseriu em nosso DNA essa gana característica dos campeões, nós também demos condições para que ele seguisse protagonizando grandes momentos. Mais do que dignidade, ele permaneceu respeitado aqui.

 

Respeito esse que o conservou faceiro no Olimpo dos jogadores argentinos e, ainda, vivo no duelo pessoal com Tevez pelo número de títulos, peleja que permanece sempre “por uma cabeza”. Pois é, esse cara aí que ostenta 29 títulos profissionais – sendo 4 conquistados aqui – e que só vê em Lionel Messi um número maior de conquistas individuais, preferiu estar entre nós em seus derradeiros anos de glórias nos gramados e, principalmente, no pontapé inicial da sua nova carreira.

 

Foram 29 taças ao longo da carreira. Dentre elas, a nossa primeira internacional!

 

O fato é que “el día que me quieras” aconteceu, simplesmente porque ele quis seguir conosco! Honra, privilégio e gratidão por isso.

 

Afinal, seria muito difícil olhar para o rubro-negro da Baixada e não imaginar o Lucho por aqui. Como se despedir daquele seu gesto indefectível quando da execução de um gol? De que forma imaginar um vestiário de jogo decisivo sem suas palavras tão cirúrgicas? Ouvir da boca de um cara com esse retrospecto a máxima “Uma final não se joga, se ganha” não é clichê, é ordem de comandante! Também não dá para conceber um ambiente formador sem essa referência completa por perto!

 

E, apesar de nem sempre termos sabido cuidar dos nossos ídolos, acalma o coração saber que com Lucho o Clube acertou. Acertou com ele, com a torcida e, quem sabe, com o futuro.

 

Nesse contexto, podemos dizer que fica menos dolorido saber que não se trata de um partir e que essa aposentadoria não tem caráter definitivo, uma vez que suas competências ainda estarão à serviço do futebol e do nosso Furacão! Também nos conforta a ideia de que essa última performance seja num jogo de Copa, numa partida decisiva e com tudo aquilo que sempre ritmou e serviu de combustível para esse ídolo. Mesmo em meio a essas certezas, também há espaço para a melancolia, sobretudo porque não poderemos estar presentes nesse momento tão emblemático.

 

Mas o que realmente importa é que não haverá ruptura. Não será “La Cumparsita” a nos embalar e, por isso, rogamos: Desfruta, Lucho! Leva para esse último tango de chuteiras toda a tua história, cada batalha que você travou, os companheiros que estiveram ao seu lado, cada taça que você ergueu e a gratidão de todo torcedor que foi privilegiado por você.

 

Diante disso tudo, fico com a convicção de que a solidão do estádio vazio é só para converter esse ato numa milonga daquelas… porque um cara como você jamais estará sozinho, sempre haverá alguém com a mão esticada sobre a testa te reverenciando e aguardando tuas novas estrofes.

 

“Gracias” por tanto!

 

Lucho Gonzalez “pendurará as chuteiras”, mas segue no Furacão! (Foto: Site Oficial)



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