O torcedor rubro-negro está acostumado a sofrer. Tanto é verdade que a torcida adotou como mantra as palavras de Paulo Autuori e o replica à exaustão em dias importantes como nessa quinta feira (19/08), no confronto das quartas de final da Sul-Americana contra a LDU. Se dentro de campo temos roteiros mirabolantes, com viradas e sacrifícios, além dele cultivamos traumas com saídas de atletas. É difícil ouvir nomes como Dagoberto e Aloísio, por exemplo, sem sentir um gosto amargo.
Mais recente tivemos o caso de Pedrinho, garoto da base que vinha se destacando e tinha potencial para ser solução no principal. O jovem decidiu “sair pelos fundos” e, ansioso para ter a tão desejada sequencia de jogos, se transferiu para o Redbull Bragantino. O atleta, inclusive, foi assunto entre torcedores atleticanos essa semana no Twitter ao postar uma foto com a taça da Copa do Brasil, título conquistado com o Furacão em 2019.
Eis que a tal mudança de patamar do clube começa a mostrar resultados também fora de campo. Vitinho, outro atacante de destaque da base, deu uma verdadeira prova de gratidão no jogo contra a equipe equatoriana. Mesmo com sua transferência encaminhada para o futebol francês e já fora do elenco, o atleta atendeu ao pedido do treinador António Oliveira e da diretoria do Athletico e entrou em campo para o jogo mais importante do clube na temporada. Prova de que o jogador tem um carinho pelo clube que o lançou no profissional e que o ajudou num período de lesão gravíssima.
Parece pouco, ou talvez o mínimo que o atleta poderia fazer, mas, por ser algo fora do padrão, chama atenção. A gestão do clube ainda erra em muitos pontos e é sempre preciso apontar e criticar para buscar o melhor, mas quando existe mérito ele também precisa ser comentado e elogiado. A decisão de Vitinho de vestir o manto por amor, como diz o hino, é algo que a maioria dos torcedores (pra não dizer todos) não esperava.
E, antes que me julguem, vestiu por amor, sim. Fez seu melhor enquanto esteve aqui, disse que só sairia do clube se uma proposta de exterior fosse vantajosa para ambos os lados e cumpriu sua palavra. Não seria julgado por não entrar em campo contra a LDU, assim como não foi julgado nas outras partidas que ficou de fora, simplesmente pelo fato de que, em teoria, já não é mais jogador do clube. Ainda assim, ouviu a voz do coração.
Não me entenda mal, não quero colocar Vitinho em um pedestal altíssimo e alçá-lo ao status de ídolo pelo que fez. Mas a atitude mostra que o Athletico chega ao ponto de fidelizar, também, seus jogadores. Sempre fomos celeiro de bons jogadores e exportamos joias, mas, de uns anos pra cá, estamos tendo a possibilidade de segurar um pouco mais alguns valores e, com isso, brigar por taças. O “sim” de Vitinho é apenas a cereja no bolo de uma gestão que, apesar de imperfeita, consegue fazer o clube crescer.