Eles só querem vantagens: Athletico brinca com a paciência do sócio numa relação em que só um lado vem ganhando
O presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia, tem o hábito de desdenhar o torcedor comum, aquele que não quer – ou não tem condições de – ser sócio. “Eles só querem vantagens”, costuma bradar o Imperador CAP quando o torcedor ordinário cobra títulos, contratações, enfim, futebol. Para ser minimamente considerado pelo mandatário rubro-negro, é preciso ser um atleticano “qualificado”; é preciso aderir a um dos planos de associação e se manter adimplente. O verdadeiro torcedor deve “consumir sua paixão”, insiste Petraglia.
Os “investidores”, por outro lado, em raras oportunidades fizeram jus a uma real contrapartida por parte do clube. Além do rótulo que distingue cada sócio e de um ou outro desconto módico concedido por meia dúzia de parceiros, o único real benefício dos que pagam as mensalidades é ter o direito de assistir no estádio a todos os jogos disputados pelo Athletico como mandante. Ou deveria ser.
Ao longo do tempo em que já existe o Sócio Furacão – um dos primeiros planos de associação lançados por um clube no Brasil -, diversas vezes os associados tiveram cerceados ou limitados os seus direitos contratuais de frequentar o estádio para incentivar da arquibancada o time que apoiam financeiramente. Além dos dois longos períodos em que os sócios permaneceram afastados da Baixada em virtude de obras, houve afastamento por punição aplicada pelo STJD e, mais recentemente, pela pandemia do novo coronavírus. Mas todo dia 10, sem falhas, a mensalidade dos sócios continua sendo debitada.
Independentemente dos desaforos praticados pelo clube, mesmo um ano e meio após o início da pandemia e da consequente suspensão da presença de torcedores nos estádios, aproximadamente 20 mil apaixonados continuam pagando em dia suas mensalidades que, aliás, não sofreram qualquer redução. “Se o Athletico não for ajudado, vai quebrar”,[1] alegou Petraglia para não conceder desconto.
Agora, quando o poder público decidiu retomar gradativamente as atividades diante da redução do número de casos de COVID-19 e do avanço da vacinação, vários clubes pelo Brasil começaram a receber torcedores em suas praças desportivas – inclusive o rival Coritiba. No entanto, por determinação do autointitulado “dono do CAP”, o atleticano talvez não possa acompanhar o jogo de volta da semifinal da Copa Sul-Americana, a ser disputado na próxima quinta-feira (30), contra o Peñarol.
Digo talvez porque um grupo de torcedores ajuizou uma ação [2] pleiteando liminar para a liberação do acesso de 5 mil torcedores ao evento, conforme autorizado pelas autoridades competentes. Em resposta, o Rubro-Negro utilizou o cínico argumento de que não tem tempo suficiente para preparar o estádio para receber os torcedores e, pior, alegou que não dispõe de meios para controlar o acesso de apenas 5, dos cerca de 20 mil sócios ao estádio – esquecendo-se, ou omitindo propositalmente do Juízo, que o combalido sócio atleticano já precisou suportar diversas vezes a saga da “habilitação do smartcard” para acompanhar inúmeras partidas longe da Arena.
Todos sabem, no entanto, que o problema gira em torno dos custos para abrir o estádio para a presença de público. Como reiteradamente afirma Petraglia em suas entrevistas, o que interessa mesmo é “dinheiro, bufunfa, grana”. Então, para o clube e enquanto o clube for “dele”, o interesse do torcedor, seja ou não sócio, fica em segundo plano. Depois de um ano e meio pagando sem poder entrar no estádio, na primeira oportunidade que tem o atleticano pode não conseguir porque, na verdade, “eles só querem vantagens”.
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[1] https://www.terra.com.br/esportes/atletico-pr/petraglia-implora-a-torcedores-se-o-athletico-pr-nao-for-ajudado-vai-quebrar,4f00ef3500fc47572788addc4329b2f0u15jocvd.html [2] Autos n.º 0019740-85.2021.8.16.0001, em trâmite perante a 5.ª Vara Cível de Curitiba.