25 out 2021 - 10h58

O último canto do Sabiá

A bordo da Cápsula do Tempo #02, viajaremos até o Couto Pereira, em 21/06/1992, primeiro Atletiba do ano, pelo Campeonato Paranaense, apenas 16.000 espectadores presentes para retribuir Carlinhos Sabiá, aquele que jogava feito música, um dos raros ídolos daquele pobre Athletico da época, o craque ia para o Palmeiras, no recém-iniciado projeto Parmalat.

Para nos situarmos, o estadual tinha a absurda quantia de 20 clubes na disputa e com direito a torneio da morte pra decidir os rebaixados, nada surpreendente, pois o Brasileiro tinha sido no primeiro semestre, com 32 times e subiram 12, por acaso, Paraná Clube, o campeão e Coritiba, o 12° colocado, ficou com a última vaga de acesso.

O clássico em pauta foi na terceira rodada do primeiro turno, com campeonato ainda morno, isso acarretou no pequeno público, naquele tempo a torcida do Athletico ficava nas curvas de entrada do estádio, como deve ser, protagonistas entram pela porta principal.

Os preparativos do adeus

Carlinhos entrou em campo vestindo a 10, com a braçadeira de capitão e disposto a brindar a torcida com um belo adeus. Um elenco de peças interessantes vestia a camisa rubro-negra naquela temporada, nenhum super craque, mas alguns nomes que marcaram numa época de vacas magras: Gilmar, Leomar, Marcão, Alex Lopes, Renaldo, Carlinhos, Ratinho, Marco Antônio entre outros.

Do lado verde, Rafael, Jorjão, Paulo César, Élcio, Pachequinho eram alguns dos nomes daquela temporada em que eles voltaram à série A. Os principais atrativos do jogo eram a despedida de Carlinhos e pausa do Furacão no certame, pois a partir dali, o Athletico iria dar uma volta na Europa, fazer uns amistosos caça-níqueis e expor atletas na vitrine, especificamente Itália, Alemanha e Suíça, de lá, voltou invicto e com Ratinho negociado. O Atletiba acabou por ser de despedida dupla…

O jogo lavou nossa alma…

Eu, particularmente, ainda tinha a derrota no Atletiba do porco (que será lembrado aqui em breve), de 1990, também no Couto, engasgada… Mas eu o povão rubro-negro sabíamos que a tarde seria de festa na casa verde. Seria sensacional, seria fantástico! Carlinhos iria se despedir num clássico, agradecer à torcida e brindá-la com o último cantar do Sabiá!

Tudo conspirava para dar certo, já no início, numa falta pela esquerda, a defesa coxa marcou em linha e deixou Gune livre na área, próximo à marca do pênalti, mas o lateral acertou o travessão e a linha do gol… Pelo outro lado, logo depois, Renaldo, então jovem e desconhecido, curtindo uma de ponta, entortou Paulo César e cruzou à meia altura, na pequena área, Marco Antônio antecipou Jorjão e desviou, Rafael estático. E como narrou o saudoso Lombardi Junior “Estremece esse gigante de concreto armado!!! E agora, você, Rafael, vá buscar lá, se quiser, no fundo das redes…”

Na segunda etapa, Jorjão fez falta violenta em Marco Antônio, foi expulso. Assim, abriu-se a gaiola para o Sabiá voar! Muito espaço para os contra-ataques, e Carlinhos, aproveitando a vantagem de uma falta sofrida por Renaldo, invadiu a área e encontrou o zagueiro Jatobá de cara para a meta de Rafael, escancarada, com o arqueiro já vencido, ele só cumprimentou a menina, como se fora um centroavante, e partiu para o abraço.
Aos 26” do segundo tempo, num passe cruzado no meio de campo coxa, Leomar desarmou, Carlinhos, com visão de craque, maestria, genialidade e com um toque divino lançou Marco Antônio, que venceu Rafael, invadiu a área e cruzou para Ratinho, rasteiro, no segundo pau, quase um replay do gol anterior, Ratinho desviou para o fundo das redes, inapelável, era 3 a 0 para o Furacão.

Chegou a hora do adeus, a Majestade, o Sabiá, havia feito a sua parte. Como toda despedida de craque, ele precisava parar o jogo, marcar o momento para eternizá-lo. Veio a substituição, Carlinhos sai, a torcida ensandecida grita seu nome, canta, agradece. Ele, genial, despe a camisa que vestia por sobre a outra, empunha-a. Inicia a volta olímpica, em meio aos apupos, em direção à massa atleticana, girando o manto no ar, como uma coroa sobre sua cabeça, sob o coro de “Eô, eô, o Carlinhos é o terror!!!” Torcedores em êxtase, pularam no fosso, e o mineiro Carlos Alberto Isidoro, para uns Carlinhos, para outros Carlinhos Sabiá, para mim, “o ídolo”, arremessou o souvenir aos torcedores, um deles invadiu o gramado, em meio aos cães pastores da PM, para abraçar o ídolo em nome de toda uma nação. Agradecer pelo que ele fez em tantos Atletibas, dar o nosso adeus, retribuir o sentimento de que ele impunha ao adversário quando estava em campo, pelos títulos e por tantas alegrias, mesmo que singelas, naqueles duros anos 80 e 90.

No apagar das luzes, Pachequinho cobrou escanteio, a defesa falhou e Paulo César faz o gol de honra dos verdes. Tarde demais, a festa era feita.

Veja os gols desse jogo no link:

https://globoplay.globo.com/v/5123977/



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