O caminho mais bonito para Glória Eterna
Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.
2021. O ano mais importante da história rubro-negra. Não pelo calendário; não pelas competições já disputadas e ainda em disputa; não pelas decisões que se aproximam. Isso tudo é sensacional, obviamente. Mas a importância reside no simples motivo de este ser o ano no qual estamos – o único que podemos realmente viver, já que o passado já foi e o futuro ainda não existe.
Então, torcedor, desfrute. Desfrutemos imensamente a possibilidade de sermos autores da nossa própria obra; de sermos protagonistas da nossa história; de marcarmos época e podermos compartilhar – mais uma vez – situações épicas. Que em meio a isso tudo, nunca nos esqueçamos das glórias do passado e estejamos sempre conscientes dos feitos do presente. E de “feitos do presente” entendemos.
O bom gerenciamento veio. Nas últimas três décadas o Furacão faz jus ao seu apelido (hoje identidade) e assume, nos tempos vigentes, uma posição de protagonismo como sendo a maior transformação registrada no futebol brasileiro. Com o passar dos anos, o clube ficou conhecido pelo sucesso patrimonial e mercadológico – estruturando seu departamento de futebol com o que há de mais moderno, criando jogadores em casa e promovendo contratações sem risco à saúde financeira, os resultados começaram a aparecer. E nós, torcedores, participamos de cada passo.
O antigo Atlético começou a quebrar alguns muros – levantou pela primeira vez um caneco nacional (série B), em 95; venceu a Seletiva da Libertadores em 99; foi o maior do Brasil no primeiro ano do novo e atual século; ficou no “quase” em 2004; bateu – literalmente – na trave, internacionalmente, em 2005; foi vice da Copa em 2013. Mas vocês sabem: uma hora o vento muda de direção e muitas vezes se transforma em Furacão.
Este mesmo Atlético foi substituído quase sem título internacional. Mas logo na sua transição deu lugar ao Athletico – que já nasceu campeão Sul-Americano em 2018; que em 2019 devastou um Brasil inteiro e se consagrou campeão nacional – agora da Copa – com direito a requintes de crueldade (vide “Cirineta”) em pleno território gaúcho (aquele mesmo que nos trazia lembranças desoladoras de 2005). Isso depois de atravessar o mundo e gritar “é campeão” em japonês. Ainda em 19, chegou perto de “Recopar” diante do River Plate.
E chegamos no presente. 2021. E a história repete-se com suas naturais emoções, idas e vindas, sustos e gols que trazem o Furacão a uma partida que vale mais uma taça. Um ano que parecia comum – como tantos outros vividos nesta superabundante e quase centenária história – mostrou-se surpreendente. Um Furacão de emoções. Afinal, é da natureza rubro-negra tormentosa tornar fortes os espíritos que já foram anêmicos.
O clube, cada vez mais acostumado em disputar mata-matas e matar, deixou para trás Melgar, Aucas e Metropolitanos. Mostrou que nem o Diabo ganha no Caldeirão e despachou o América de Cali. E quando pensávamos que o mais mortal dos imortais estaria, mais uma vez, no nosso caminho, eis que surgiu a Liga Universitaria de Quito nas quartas, mas que teve o mesmo destino que o tricolor carioca outrora experimentara.
Vieram, então, os – hoje fregueses – uruguaios (amigos, chamar Peñarol de freguês é privilégio de poucos) e com direito a pedalada de Rey em pleno território de seu natalício e massacre na Baixada – ainda vazia, naquela época – chegamos até aqui. Triunfo maiúsculo que nos trouxe a continental desfecho, no histórico Centenário. E nós estaremos lá. O Athletico é orgulhoso finalista da Sul-Americana, mais uma vez. A Latina, que já foi obsessão, oportuniza-nos reviver tempos áureos.
Acreditamos que podemos conquistar um lugar onde ninguém – exceto nós mesmos – imaginou que poderíamos estar. Não abaixamos a cabeça e deixamos um rastro rubro-negro por onde passamos, afinal, queremos ser lembrados.
Sinfonias e festas pré-jogo em tom castelhano devem fazer a torcida entrar forte, decidida, empurrando o tímido, fortalecendo o fraco, estimulando o conjunto. O jogar bem e sua consequência muitas vezes inevitável – o título – adocicarão ainda mais a caminhada.
É momento da mais completa união de todos os rubro-negros; de crédito ilimitado ao treinador; de fé infinita no esforço dos jogadores; de crença absoluta na capacidade de gerenciamento da diretoria. Fora desse círculo virtuoso não há salvação.
Vamos, fisicamente e espiritualmente, domar o Centenário. Se as ruas curitibanas não pulsam, pulsam os corações rubro-negros, manietados, algemados e submetidos. Mas pulsam. E este pulsar chegará aos nossos jogadores e os conduzirá à vitória.
Brasil. Capital: Montevideo. E o Red Bull Bragantino foi o selecionado para ser a última vítima de um time e clube “casca grossa”, “copeiro” e “encardido”. O Furacão se tornou, de fato, um terror latino. Um terror internacional. Um terror intercontinental. Mais um capítulo antológico está prestes a ser escrito. Esperemos, ansiosos, pelo momento apoteótico.
Que toquem as trombetas por toda a América. Que o som alcance os Andes e reverbere as planícies, corra pelo vale dos rios, alcance o povo todo. Corra a imprensa a gravar imagens, entrevistar guerreiros. O futebol brasileiro respira.
Sábado, 20 de novembro, 17h00. Nosso – mais do que nunca – Alberto Valentim bota o time pra correr e a gente vai atrás – seja de onde for, aqui do Uruguai ou do Brasil – com ardor de soldado novo, no grito, no amor e na fé.
Mais uma vez, torcedor (insisto incansavelmente): desfrutemos. Que venha mais uma Grande Conquista. Que venha a Latina, nossa mais querida Latina. Porque sabemos que este é o caminho mais bonito para Glória Eterna.