É irônico se propor a cumprir a função de guardar redes. Afinal, o objetivo maior do futebol, o momento da alegria, é o gol. É também irônico que o goleiro seja o único que possa usar as mãos, uma vez que o futebol se joga com os pés. É quase como se o camisa 1 estivesse sempre indo na contramão.
O atacante que perde um gol, o meia que erra um passe, o zagueiro que comete um erro. Todos eles podem se redimir. Um erro do goleiro sempre estará marcado. “Só o arqueiro tem que ser infalível”, definiu Nelson Rodrigues em seu texto para a Manchete Esportiva em 30 de maio de 1959. Já Eduardo Galeano, em sua grande obra Futebol ao Sol e à Sombra, fala que o goleiro sempre tem culpa.
E a torcida cumpre o papel principal nessa novela. Ela sempre vai estar lá para apontar e cobrar os erros, mesmo que eles demorem para acontecer. Porque errar é humano e o guarda redes, por incrível que pareça, também é. E, invariavelmente, vai errar.
Nesse turbilhão, é difícil para um ator dessa função se tornar ídolo de um clube. No Athletico, talvez ainda mais nos dias de hoje, levando em conta os tantos grandes goleiros que o clube teve durante seus 98 anos de história. Nosso Centro de Treinamentos, um dos mais modernos do América Latina, leva o nome de um deles.
Aderbar dos Santos Neto chegou ao ainda Atlético em 2009, vindo de uma parceria com o Clube Atlético do Porto, em Caruaru, Pernambuco. Chegou como Aderbar, mas o nome difícil herdado do avô é comumente trocado por algo mais simples. A tendência era se tornar “Neto”, mas já havia um por aqui e o jovem de 19 acabou adotando a alcunha de Santos.
Santos estreou em 2011, na derrota contra o Flamengo na Sulamericana, mas não foi titular naquele ano. Ao fim da temporada, com o clube rebaixado, também não. Weverton foi contratado junto à Portuguesa e assumiu a titularidade. Santos aguardou e viu o colega ser alçado à condição de ídolo do clube, contando com convocações para a seleção brasileira e sendo o titular do medalha de ouro olímpica inédita.
Enquanto Weverton fazia defesas na seleção, Santos brigava para se defender por aqui. Contestado por grande parte da torcida, Santos passou anos à sombra do camisa 12 buscando seu lugar ao sol. A oportunidade veio em 2018, quando Weverton foi contratado pelo Palmeiras.
Depois de quase 10 anos de clube, Aderbar agarrou a chance de titularidade com qualidade. Sem muita mídia, guardou as redes atleticanas como poucos. Ganhou a simpatia da torcida, claro, mas também muito mais que isso. Foram dois estaduais (2016, 2020), duas Sulamericanas (2018, 2021), Levain Cup (2019) e a Copa do Brasil (2019).
Como se não bastasse o sucesso por aqui, Santos também foi titular nas olímpiadas e trouxe mais uma medalha de ouro para o Brasil, além de ser convocado para a seleção principal e ser um dos potenciais selecionáveis para a Copa do Mundo no fim do ano.
Não faltaram momentos para se eternizar aqui, mas o pênalti defendido na semifinal da Copa do Brasil em 2019, contra o Grêmio na Arena da Baixada, parece ser o mais marcante deles. Uma remontada do tamanho da história dele no Furacão.
Agora é hora do adeus. Seu destino pouco importa, pois sai pela porta da frente. Sai ídolo, consagrado, campeão e referência. Sai como símbolo de uma geração que ganhou tudo e que colocou o Athletico, de fato, entre os grandes clubes do país. Sai de campo, mas permanece no coração do torcedor.
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