Don Marco: que sorte tivemos!
Meu pai sempre me disse que um artilheiro precisa ser bom de bola, mas também precisa ter sorte. Talvez essa seja a característica que gera essa mística tão grande na posição. Quantas vezes ouvidos que fulano fez “tudo certo”, mas na “hora de concluir” faltou “sorte”. Aliar esses dois quesitos talvez seja o grande desafio do camisa 9, especialmente no mundo globalizado em que qualquer erro, por menor que seja, é rapidamente viralizado em uma rede social qualquer e a torcida inteira crucifica o atleta.
Don Marco não passou por isso. Longe disso, aliás. Fez de sua jornada no Athletico tão marcante e incrível, quanto curta. Sua mística despontou logo no anúncio de sua contratação, quando decidiu vir da Argentina de carro, tomando mate com o irmão. Dali, mostrava o comprometimento com uma torcida que ainda nem conhecia, mas que já se apaixonava.
Mas mística e sorte não alimentam um atacante. O camisa 9 precisa de bola na rede para satisfazer a sua fome, e a da torcida. Ciente disso, Marco fez questão de balançar as redes logo no primeiro amistoso, aumentando a simpatia da torcida. Lembro de dizer ao meu pai: “esse argentino é craque, não tem erro”. “Craque eu ainda não sei”, respondeu, “mas sorte ele tem”.
Protagonista nas noites mais épicas que a Arena da Baixada vivenciou nos últimos anos, marcando três gols contra o Boca Juniors pela Libertadores e o segundo na remontada contra o Grêmio na semifinal da Copa do Brasil, Marco virou sinônimo de matador rapidamente, fazendo gols importantes e se movimentando sempre de maneira inteligente, por vezes dando assistências ou gerando espaços para os colegas.
Mesmo no triste episódio do falecimento do seu pai, Don Marco ficou, fiel e focado nas ambições do clube, mostrando, uma vez mais, classe e profissionalismo. Ao fim do contrato, pediu para retornar ao Rosario Central e foi atendido pela diretoria.
Sorte. Aquela que todo artilheiro precisa ter, foi a mesma que nós, torcedores, tivemos com Marco Ruben. Sorte de passar um ano admirando e comemorando seus gols. Foram apenas 42 jogos, com 13 bolas na rede e 5 assistências, e um título inédito da Copa do Brasil, além de um confronto memorável contra o River Plate na Recopa. Por isso, por toda parte, quando se houve “Marco”, a única resposta possível é “Ruben”.