Vencer, vencer e vencer
Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc, como me chamam) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.
A diretoria do Athletico passou o primeiro trimestre do ano promovendo mudanças, experiências, contratações, dispensas, investindo muito dinheiro e pagando – também – diversas indenizações. Enfim, foi feito todo tipo de atividade que contraria qualquer manual básico de gestão para um departamento de futebol.
Valentim sempre caminhou sob os olhares desconfiados do torcedor; Carille foi recebido com otimismo que não vingou, decepcionante. Até que alguém teve a ideia de trazer Felipão. Profissional respeitado pelo currículo e, sobretudo, pela liderança que exerce no trabalho, em poucas semanas o treinador (que não era para ser) encaminhou o Athletico. É indiscutível que Scolari tem o respeito dos jogadores. É indiscutível que tem bons jogadores à disposição – a qualidade do elenco é acima da média. Chegamos a porto de águas calmas, profundo, que pode ser origem de viagem que nos trará títulos e medalhas. Avante, Família Athletico!
Aos trancos e barrancos, o Furacão vai ganhando força. De situação delicada na Libertadores para um sorteio em teoria favorável a uma América pintada de rubro-negro e esperança maior do que nunca; de mau desempenho e desespero no Brasileirão para “as cabeças” da competição; de decepcionados com a atuação do time em campo para satisfeitos com os resultados, até aqui, atingidos.
Nas últimas décadas, os treinadores implantaram a ditadura do “futebol de resultado”. O espetáculo virou raridade com o rigor tático e a obediência a missão de cada jogador dentro de campo. O último comandante campeão mundial pela Seleção Brasileira suspendeu a temporada de experiências e invenções na escalação do time titular; afastou jogadores que não vinham correspondendo; disciplinou o esquema de jogo; fez o “feijão com arroz, bem temperado”; além de recuperar a autoestima e o futebol de Pablo. A volta por cima de Pablo, aliás, pode bem resumir o “efeito Felipão” dentro do clube.
Scolari parece ter encontrado seu time ideal. O torcedor já arrisca escalar o Furacão com alguma certeza, está mais animado com os bons resultados que começam a se repetir. Oportunizar continuidade aos onze iniciais fortalece o grupo, dá confiança individual e, assim, o coletivo cresce naturalmente.
O clube tem pela frente uma sequência imprescindível às suas motivações e que determinará os próximos passos a serem dados na temporada. Momento de afirmação no ano. Três competições diferentes em cinco partidas; quatro delas sem sair da capital paranaense – Corinthians (pelo Brasileiro, em casa), Coritiba (pelo Brasileiro, fora), Bahia (pela Copa do Brasil, fora), RedBull Bragantino (pelo Brasileirão, em casa) e Libertad (pela Libertadores, em casa). A partir de agora, todos os jogos serão decisões. Tempos para jogos perfeitos. E jogos perfeitos são, simplesmente, jogos sem desatenções, excessos faltosos, erros grosseiros. Simples assim.
É jogo para todos os gostos. O Athletico é grande demais, pode absorver os “modinhas”, acolher os “passa pano”, abrigar os “resultadistas”, juntar tudo e transformar a Baixada no caldeirão que precisamos para crescer ainda mais. Amanhã é contra o Timão e os três pontos podem nos colocar entre os favoritos. Um intrometido duro de engolir – a mídia nacional entra em desespero. Eu adoro isso.
Não é ardente como as noites de Copa – em que se mata ou morre -, mas é noite de futebol. E isso, senhoras e senhores, é sempre grande. Em dia de jogo a cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Nesse espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades. Embora o torcedor possa contemplar o milagre, mais comodamente, na tela de sua televisão, prefere cumprir a peregrinação até o lugar onde possa ver em carne e osso seus anjos lutando em duelo contra os demônios da rodada.
Não temos tempo para pensar, nem para treinar. É escalar e rezar. Você tem reza forte? Então é com você que eu quero falar. Deixe uma vela acesa em casa e vá para o jogo dedilhando o rosário. Você é a minha esperança. É jogo para defender e usar a velocidade na ação ofensiva. Partir da defesa e só parar dentro do gol. Basicamente, audácia. Confiar no provérbio latino “Fortis fortuna adiuvat” – no popular, “a sorte sorri aos audazes”.
“Ahh, mas vamos com calma, porque este time não é para dar certo em 2022, é projeto para o futuro…”. Sim, isso parece ser evidente e tenho convicção de que coisas muito grandes estão por vir. 2023, 2024, centenário do clube… A gente sabe que o futuro começou lá atrás, mas que ele depende, principalmente, daquilo que faremos no presente. E o desejo, então, só pode ser vencer, vencer e vencer.