6 jul 2022 - 7h29

A eficácia, eficiência e efetividade de Luiz Felipe Scolari

Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc, como me chamam) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.

 

Libertadores é cruel. O Athletico está na sua oitava participação na competição andina, ultrapassou os cem gols – marca que o coloca entre os dez times brasileiros que mais frequentam as redes adversárias -, é o 11º clube nacional com mais partidas no campeonato. Com tudo isso, o Furacão há 17 anos não chegava às quartas de final. Em quatro oportunidades parou justamente nas oitavas. A última vez que deu o salto, em 2005, foi para a final com o time do santo. A história, o vexame dado pelo tricolor paulista, todos conhecem.

O Furacão fazia péssima campanha no Brasileirão – não vencia há seis jogos e amargava na zona de rebaixamento – quando o head coach foi para beira do campo. Em meio ao caos, bem cantado, o experiente comandante – já de terno e gravata – aceitou tocar o Furacão. Pegou o barco andando, fazendo água, um Titanic ao que tudo indica torpedeado pelo mau ambiente. Apagados os incêndios, escaladas as feras e reconhecidas as vulnerabilidades do elenco, a opção tática foi a tradicional: arrumar a defesa e tornar o Athletico um time que “sofria” – mas que, sobretudo, sabia como fazê-lo. Jogava-se no fio da navalha. Dava certo. Saímos do abismo, respiramos fundo. E ainda arriscamos braçadas rumo ao continente libertador.

Estou falando de Paulo Autuori, mas poderia muito bem ser sobre Luiz Felipe Scolari. E, torcedor, sabe por que deu certo – na época – e por que o triunfo se repete agora? Porque Autuori e Felipão entenderam o dilema atleticano; os jogadores compraram suas ideias; os planos táticos variam de jogo para jogo – para cada batalha um esquema. Não é sorte, é experiência e conhecimento. Bases firmes para o sucesso – que no futebol às vezes de nada adiantam – adiantaram e muito.

Aliás, sorte é o reflexo de uma série de elementos: determinação, conhecimento, persistência, habilidade, competência, disciplina, foco e compromisso. E para que os objetivos propostos pelos comandantes se concretizassem na prática, o time necessitaria de qualidades e características sempre muito citadas e destacadas por Autuori em seus discursos: eficácia, eficiência e efetividade.

Os experientes treinadores salvaram as temporadas do Rubro-Negro ao identificarem a vulnerabilidade do elenco, a crise comportamental e criado um esquema que conseguiu os resultados para a sobrevivência. O presente repete o passado e o Athletico, hoje, está entre os oito melhores do continente.

A concordância dos comandantes em assumir o cargo para o qual – a princípio – não seriam contratados, suas habilidades em contornar a desarmonia, entender os limites da equipe e usar uma forma de jogar muito distante do que se afirmou em certo momento como o jeito de jogar atleticano, foram essenciais.

Você quer ter razão, ou quer ser feliz? Pergunto ao torcedor rubro-negro: “você quer jogar bem e estar lá atrás na classificação; ou jogar mais ou menos e estar na vice-liderança do campeonato e classificado nos “mata-mata” das competições que disputa? Um ou dois? Dois. Sem dúvida, dois.

O atleticano está aprendendo a defender. Num momento sopra o balaço vindo de fora e a bola passa por sobre o travessão. Estica o pé e corta o cruzamento perigoso. Vira grama e amortece o chute à queima-roupa. De cabeça afasta a bola aérea ameaçadora. Entre ações defensivas, lamenta os passes errados na saída de bola, na intermediária, no lance final dos contra-ataques. Na poltrona, as frases se repetem: “vi lá dentro esta bola”; “quase que a casa cai”; “nem um lancezinho de ataque”; e com as mãos suando e a boca trêmula, “lá vem os caras de novo”.

Mas para avançar na competição, o Athletico tem um trunfo no banco de reservas: o técnico Felipão – que nunca fora eliminado antes das quartas de final. Scolari disputou, ao longo da carreira, sete Libertadores, tendo como piores campanhas as quartas de final em 2001 (com o Cruzeiro) e 2019 (dirigindo o Palmeiras). Não será o Athletico o responsável por manchar currículo tão vencedor. Missão cumprida, parabéns, amado Furacão.

A noite também foi especial para um rubro-negro em específico, já que é um torcedor que atua dentro das quatro linhas e que honrosamente defende nossa meta: Bento. O arqueiro do Furacão completou seu jogo de número 50 atuando entre os profissionais. Desde sua estreia como titular – também nas oitavas de final da Libertadores, diante do River Plate, em 2020 – o goleiro demonstrou muita qualidade, segurança e competência e tem sido um dos destaques deste embalado Athletico. Nível de atuação altíssimo, sendo decisivo e fundamental em clássico e em Libertadores. E se tem piá do Caju fechando o gol lá atrás, na frente há outro escorando gol de classificação internacional histórica. Brilhou, também, a estrela de Rômulo.

A conclusão de tudo isso é que para que os planos pudessem dar minimamente certo, para que o Club Athletico Paranaense aparecesse em segundo lugar num acirradíssimo campeonato nacional, encaminhado às quartas de final da Copa do Brasil e confirmado entre os oito melhores da América, faltavam-nos três coisas, acompanhadas de quem entende de bola: a eficácia, eficiência e efetividade de Luiz Felipe Scolari.



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