Nossa maior e melhor comorbidade
Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc, como me chamam) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.
Eu amo o Club Athletico Paranaense. Ponto. “Amor” é verbo intransitivo – não necessita de complemento, pois tem sentido completo por si só. Amor de verdade é aquele que não cobra – só a sua existência já é suficiente para lhe fazer feliz. E se em algum momento todo este amor der certo, for correspondido, a vida valeu a pena.
Tanto para lembrar… Tantas coisas boas para lembrar. Não me recordem as dificuldades – hoje -, pois eu as ultrapassei com orgulho. Não me relembrem – hoje – derrotas, porque elas ficaram pelo caminho. Sei da necessidade do meu grito, para empolgar aqueles que, um dia, perdendo de quatro a zero, empataram em dez mágicos minutos. Assim como nossa mágica história. A vida é feita de escolhas. Olho para trás e vejo que acertei em todas. E acertei porque em todas fui movido pelo coração. Este artilheiro coração rubro-negro.
Muitos de nós começaram a amar o Athletico na época em que não ganhávamos coisa alguma. Com o tempo e o apoio de cada um de nós, crescemos. Hoje, estamos entre os maiores do Brasil. Portanto, honremos nossas cores. O vermelho da paixão, do nosso sangue. O preto de nossa raça, cujas coxas sempre foram mais do que apenas brancas. Mais do que imortais, mais do que um bando de loucos, mais do que uma nação, somos o que acreditamos que seremos.
A grandeza do Furacão pode ser reconhecida de várias formas. Pode ser pelos títulos recentes, pode ser pela competitividade recorrente. Pode ser pelas finanças estáveis, pode ser pela estrutura de primeiro nível. Detalhes. Tudo isso mostra um tipo de atitude, o comprometimento e a atenção ao que é mínimo. Estes fatores (que muitos ignoram porque não é o jogo em si, ou o resultado) têm de fazer parte dos valores da equipe, pois são o diferencial. Mas nada maior para representar este gigantismo que a torcida.
Ser Athletico é algo que nos define… Todas as dificuldades pelas quais passamos como torcedores – os perrengues da vida para acompanhar o time do coração – com certeza tiveram fundamental importância para forjar nosso atleticanismo. Vivemos o amor ao clube, incondicionalmente. Não queremos coisa alguma em troca, mesmo sabendo que diariamente ele nos retribui com a felicidade de nos sentirmos pertencentes a algo maior. Existe um sentimento tão grande, mas tão grande pelo Athletico que a gente precisa viver (com) esta comorbidade o tempo todo, afinal, somos reféns e escravos da nossa paixão.
Você, torcedor e torcedora, é herdeiro e herdeira de um João que gastou sua voz para vencer um Atletiba, de uma Maria que costurou uma bandeira para tremular ao vento, um grupo de fanáticos que manteve o Atlético (sim, o “com acento e sem ‘h’”) vivo, entregou a você história de amor incondicional, verdadeiro e vencedor.
E nos faz bem estar lá, nos estádios, na Baixada, seja onde for e onde o Furacão estiver, porque ao lado das nossas famílias, dos nossos irmãos em armas, em canto dos nossos corações mora o Athletico. Ele é importante para nós, faz parte das nossas vidas, sofremos quando ele repete derrotas, vibramos quando acumula vitórias; é nossa escolha, um imenso matrimônio coletivo com uma simples história que nos comove e acolhe.
Sentimentos aflorados que só não arrepia quem nunca passou por isso. Athletico é para ser estudado e analisado. Mas, acima de tudo, Athletico é para ser sentido. Por quem joga, por quem trabalha e por quem torce. Afinal, foi assim que nos apaixonamos por ele. Que nunca percamos isso! Obrigado por tudo, Athletico. É por você, mas no final é também por mim.
O Furacão nos permite, rotineiramente – basta aguçarmos nossa visão -, viver momentos mágicos. Obrigado àqueles que fazem do Athletico Paranaense um estilo de vida. Obrigado a você, amigo e amiga, que me permitem ver sentido em toda esta insanidade de nome Athletico Paranaense. E meu mais profundo agradecimento a ele mesmo, ao Club Athletico Paranaense. Recaio, então, no clichê (extremamente necessário, hoje): o aniversário é seu, mas o presente, sempre, é nosso, Athletico – nossa maior e melhor comorbidade.