4 jul 2023 - 20h06

Que Rey sou eu?

A majestade uruguaia, David Terans, ao contrário do que aconteceu na Revolução Francesa, não deve perder a idolatria. Apesar dos pesares que nos trazem a esta saída, o carinho da torcida, os gols e momentos decisivos viverão eternamente no imaginário rubro-negro. A sua coroa, a camisa 10 atleticana, é quem mais sofre com isso.

O símbolo máximo do futebol, projetado ao mundo por outro Rei, Pelé, é a epítome do craque. Mesmo que já, há alguns anos, seja comum vermos jogadores usando numeração incomum (Bruno Guimarães com a 39, por exemplo), a dez vive como jargão. “Fulano joga como um dez”, “beltrano faz a função de dez”, “nosso time precisa de um dez”. Nenhuma dessas frases é usada se referindo à nota, mas sim ao estilo de jogo e função dentro de campo.

Estilo e função que Terans apresentou nos seus melhores momento de Athletico. Canhoto e armador, com nível técnico acima da média e faro de gol. Não foram poucos os momentos de brilho do Rey, que seguiu a cartilha da idolatria. Seria um pecado enorme não citar o golaço contra o Peñarol, de bicicleta, por exemplo, ou o gol de empate na semifinal da Liberadores em 2022, contra o Palmeiras, que carimbou o passaporte da equipe para a final.

O grande problema do monarca é que ficaremos para sempre com a sensação de que poderia ter sido mais. Em momentos como esse, é difícil não deixar o coração falar mais alto, mas, tentando analisar a situação com frieza, entendo que existam três culpados para sua saída: Felipão, Paulo Turra e David Terans.

Com Felipão, Terans foi relegado à reserva e, quando titular, não jogava os 90 minutos. O banco e a demora para entrar na final da Libertadores são situações difíceis de serem engolidas até hoje. Com Turra, este ano, o uruguaio teve ainda menos tempo de jogo e espaço no elenco. Isso tudo abala a motivação do jogador e, pessoalmente, sinto que ele passou a entrar em campo em rotação baixa exatamente por não mais se sentir à vontade.

Arrisco dizer que sua saída teria sido muito pior há seis meses. Infelizmente, hoje, nossa torcida aceita, talvez por entender a situação do jogador. No início do ano, por outro lado, El Rey era intocável e peça chave do sistema do time, pelo menos para o torcedor.

A verdade é que o ciclo dele chega ao fim e nosso sentimento é de gratidão. Por tudo que fez e como fez. Se os últimos momentos da realeza não foram como gostaríamos, temos a certeza de que o auge do reinado foi intenso e vencedor. Gracias por tanto!

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