Juntando os cacos. Mas que bom que temos cacos pra juntar…
Pensei em inaugurar esta coluna reclamando, como é bem do meu feitio, ainda mais depois de uma dura eliminação em casa na Libertadores. Reclamando de tantas coisas que a gente vê de errado no Athletico e que não se corrigem, sabe-se lá por quê. Elaborei mil ideias para dizer que o Furacão não pode mais passar pelo que passou na noite de ontem, terça-feira (8), por conta da insistência nos erros de sempre. Mas todos sabemos que erros são esses e, francamente, escrever sobre isso seria chover no molhado.
Decidi então começar agradecendo. Obrigado, Athletico, por me permitir chegar ao ponto de achar um absurdo o que aconteceu diante do Bolívar. Agradeço, também, por proporcionar a mim, ao meu filho, aos meus amigos, a alegria de disputar uma das maiores competições do planeta, a Libertadores. Quase todo ano, né? E me regozijo pelo fato de ver o Rubro-Negro, outrora “time de bairro”, figurando entre os maiores clubes da América. Do mundo, segundo alguns rankings.
E de tão grato que sou por tudo que o Athletico tem feito nos últimos anos, não posso deixar de lado alguns fatores que vêm impedindo o time da Baixada de ser tudo aquilo que diz pretender ser: inovador, rebelde, entusiasmado e ambicioso.
O Furacão é inovador e isso não se discute. Para o bem ou para o mal, o Rubro-Negro sempre está na vanguarda, seja na hora de derrubar um estadiozinho para construir a mais moderna arena da América Latina, seja na hora de colocar grama sintética, implantar biometria ou peitar as redes de comunicação para que paguem um valor justo pelo produto que oferece.
Mas, voltando ao início, vou ter que reclamar e dizer que o Furacão tem negligenciado os outros ventos. A rebeldia, por exemplo, não se verifica quando a Conmebol impõe esdrúxulas restrições à torcida (sem fumaça, sem luz, sem bandeira) e o clube aceita, ao contrário dos adversários. O entusiasmo se esvai quando a diretoria prefere um estádio vazio e apático a rever os planos associativos e o valor dos ingressos avulsos. A ambição sucumbe quando o clube aposta, reiteradamente, em treinadores sem experiência e sem carisma, deixando escapar oportunidades únicas de alçar o Athletico ao patamar em que a gestão alega estar.
Apesar dos pesares, o Rubro-Negro ainda é o único time paranaense com projeção nacional e internacional. É campeão brasileiro, da Copa do Brasil, bicampeão da Sul-Americana. Por isso, há motivos de sobra para comemorar e agradecer, sim, sobretudo num país em que meia dúzia de times falidos e mal geridos são sustentados pela mídia. Mas se queremos, de fato, mudar de patamar, a mudança de mentalidade também precisa acontecer.
Juntemos os cacos, pois. Mas não nos esqueçamos de que é preciso juntá-los e reuni-los para construir algo maior. Para que o Athletico seja maior. Para que exista, de fato, o tal “CAP Gigante”.