Onde o Athletico quer chegar?
Correndo o risco de chover no molhado, vou iniciar esta coluna falando sobre as eliminações precoces do Athletico tanto na Copa do Brasil quanto na Libertadores. Como bem disse a minha amiga e colega de Furacao.com, Michele Toardik, não se trata, apenas, do resultado esportivo: os fracassos nas duas competições em que o Rubro-Negro poderia ter ido muito além representa uma perda significativa de receita com premiações, justamente no ano em que o clube mais investiu em elenco. Uma lástima.
E falo novamente disso porque houve uma certa euforia após a saída tardia de Paulo Turra do comando técnico e, nos primeiros jogos sob a batuta de Wesley, o time realmente rendeu mais. Esperança que logo se converteu em desilusão, pois além das eliminações, o time voltou a mostrar em campo algo que o torcedor atleticano sempre detestou: covardia. É como dizem por aí: o medo de perder tira a vontade de ganhar. E é assim que o Athletico, que já não pode ser chamado de Furacão, tem jogado: com medo de ganhar. Muitas vezes com o jogo controlado, como ocorreu não apenas contra o Goiás, mas também contra o próprio Bolívar, entre outros, o time do interino tem o jogo nas mãos, mas abdica de jogar e cede espaço ao adversário. Os resultados falam por si.
Agora, restando apenas o Brasileiro para conquistar uma vaga na Libertadores 2024, ano do centenário, o Athletico brinca com a sorte ao manter um treinador sem a mínima condição de conduzir o elenco mais caro de sua história. Com a disputa extremamente acirrada na parte de cima da tabela, insistir nessa fracassada fórmula pode ocasionar um desastre e, não custa lembrar, é provável que este ano não se abram tantas vagas para clubes brasileiros na competição continental como vinha ocorrendo nos anos anteriores.
Se por um lado o Rubro-Negro está bem posicionado e com uma pontuação que permite sonhar com o G4, por outro os pontos desperdiçados pela postura acovardada podem custar caro no final do campeonato. Conforme amplamente noticiado após o empate com o Goiás, em muitas oportunidades o Athletico sai na frente, mas acaba cedendo o empate ou até sai derrotado de campo. Podem-se citar como exemplos o empate em casa contra o Cruzeiro, quando chegou a estar perdendo e precisou buscar o resultado; novo empate, contra o Santos, depois de sair na frente; outro empate, contra os reservas do Palmeiras, dentro de casa; derrota para os reservas do Grêmio, também na Baixada e; por último, o empate com o Goiás, quando vencia por 1 a 0 e só precisava de mais um gol para terminar a rodada no G4.
O que chama a atenção nesses jogos não é a falta de qualidade do elenco, pelo contrário. Com a bola nos pés e a vontade de ganhar, o time já mostrou que tem plenas condições de dar voos mais altos. Não se vê mais aquele futebol medíocre e capenga da era Turra, mas o que se vê é um marasmo que impede o Athletico de “matar o jogo”, como se diz na gíria da bola. A postura aparentemente preguiçosa dentro de campo reflete bem o perfil do provisório treinador que, a cada entrevista, deixa claro estar satisfeito com o que vê. Não é o que se espera do Furacão.
Em entrevistas concedidas após a partida da última segunda (21), Vidal deixou claro que somente estar no G6 é pouco pela qualidade da equipe que, segundo ele, precisa brigar para estar em primeiro, segundo, e ainda há muito o que melhorar. Na mesma linha, Erick afirmou que os atletas não saíram de campo satisfeitos porque, embora tenha criado muitas chances, o Rubro-Negro não aproveitou e acabou “cedendo muitas oportunidades” para o adversário, que “fatalmente acabou fazendo o gol”. Zapelli, preterido pelo treinador até os 17′ da etapa final, concluiu que a equipe começou bem o segundo tempo, mas depois faltou um pouco mais para assegurar a vitória.
Já Wesley Carvalho pareceu contente com a atuação, pois, segundo ele, “o time continua propondo as mesmas ideias que o Athletico está acostumado a fazer” e está “jogando o futebol que o Athletico quer como modelo de jogo”, embora não tenha conseguido explicar se o tal modelo é o do primeiro ou o do segundo tempo, ou se o de antes ou depois de abrir o placar. Apesar das dificuldades enfrentadas em campo, o interino destacou que “tem muitas equipes que gostariam de estar no nosso lugar”.
Seja como for, parece consenso que, embora realmente o Rubro-Negro ocupe posição privilegiada na tabela, os constantes tropeços que impedem a equipe de estar num lugar ainda melhor passam, e muito, pelas escolhas do treinador, seja na hora de montar o time titular, seja na hora das substituições ou na mudança abrupta de postura do time cada vez que sai na frente e parece contente com o placar mínimo.
Comentei em texto anterior que se o Athletico pretende, “de fato, mudar de patamar, a mudança de mentalidade também precisa acontecer”. Resta saber, afinal, onde o clube quer chegar: no lugar em que os torcedores e os jogadores acham que pode, ou naquele em que Wesley Carvalho se contenta de estar?