31 ago 2023 - 13h57

Dimensão

Era um feriado de 7 de setembro e estávamos numa animada turma na casa da tia de um amigo em Guaratuba, litoral do Paraná. Maior parte atleticanos, mas (zoeiras e brincadeiras à parte), um convívio excelente com os coxas da casa. Sim, naquele tempo existiam alguns paranistas que também se faziam presentes.

Altos papos de futebol, quando um atleticano que veio nos visitar para um dos inúmeros churrascos do feriado prolongado exclamou algo mais ou menos assim: “você lembram de detalhes de cada coisa que fico impressionado. Gol tal, jogador tal, aquele drible assim, assado. Eu ando mais com coxas e eles só lembram do título A, do campeonato B…”

Com o tempo fui notando que isso era verdade. Era. Porque temos hoje, mais ou menos vinte anos depois daquela passagem, um panorama diferente. O atleticano que se contentava com o feijão com arroz boa parte da vida, teve acesso ao bife e hoje não se contenta mais se a carne não estiver no ponto desejado. Ficamos “nojentos” e vitórias contra os grandes do eixo, histórias épicas sobre Atletibas que vencemos na base da raça (geralmente com o título lá no final não nos pertencendo) já não nos satisfazem.

Sentimos o gostinho dos títulos importantes além da terra das Araucárias, de competir e por vezes vencer gigantes como Boca, River, Nacional, Penharol, de estar ali, por vezes fazendo frente contra os poderosos Palmeiras, Fluminense, Flamengo, o hoje “milionário” Galo Mineiro últimas décadas.

Passamos e não foi pouco, clubes do nosso porte ou alguns que eram considerados maiores como o rival local, Guarani, Sport, Santa Cruz, Goiás, Bahia. Nos “metidamos” a querer guerrear contra times já consolidados, com mais torcida, nos grandes centros econômicos, culturais e esportivos do país e não nos conformamos mais com migalhas.

O Club Athletico Paranaense tem hoje uma nova dimensão. A torcida foi ensinada, foi catequizada e ter ambição, porém sendo obrigada a entender que futebol é negócio, que time pode perder um campeonato mas não perde uma venda, que não somos mais um time tão popular e que tem há muitos anos o ingresso médio mais caro do Brasil.

Pelas conquistas, por vezes superdimensionamos o real tamanho e capacidade do Athletico. Temos nos posicionado com alguma constância entre os 8 do Brasil, tanto nas Copas como no Nacional. Temos ficado entre os 16 da América, ainda que esses pareçam ser nossos limites, posto só termos avançado até mais longe justamente nas duas vezes que fomos vice da Libertadores.

O torneio internacional mais acessível já conquistamos duas vezes, hoje a aspiração parece ser maior, mas talvez devamos reconhecer que para o nosso tamanho e ambição somente futebolística, seja esse nosso teto. Ambição existe, mas planejamento para torna-la realidade é algo muito próximo de ZERO.

O clube, tão profissional em praticamente todas as demais áreas, segue pecando no básico, fundamental e mais importante: na condução do futebol de alto rendimento.

Sem esse foco, a verdadeira dimensão do Athletico parece ser essa. Sempre sendo um dos 8 melhores do Brasil, figurando entre os 16, talvez 12 da América e eventualmente chegando a conquistas maiores. Um passo enorme com relação ao que debatíamos naquele feriado de duas décadas atrás, mas no meio do caminho quando temos a forte sensação de que poderíamos muito, mas MUITO mais se foco fosse 100% no futebol e suas conquistas.



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