O melancólico adeus de Marcelo Cirino e a insensibilidade do Athletico
Em meio às comemorações pelo aniversário da conquista da Copa do Brasil e às vésperas de um importante duelo contra o Internacional, adversário daquela final, agora pelo Campeonato Brasileiro, o Athletico anunciou o afastamento de um dos jogadores marcantes do título: Marcelo Cirino.
O atleta, que dias antes havia sido homenageado pelo clube por completar 250 jogos com a camisa do Furacão e vinha sendo relacionado constantemente pelo técnico interino, foi sumariamente descartado do elenco. E apesar de uma jornalista, que mais parece advogada do clube, ter afirmado em suas redes sociais que “todo o processo de afastamento foi tratado com respeito”, isso foi desmentido por toda a imprensa esportiva e também pelo próprio jogador que, em resposta, afirmou que foi “surpreendido por uma ligação” comunicando que passaria a treinar em separado.
Nunca defendi a volta de Cirino ao Athletico, principalmente por se tratar de um atleta em fim de carreira e prever que seria pouco utilizado, correndo o risco de “queimar” a bonita história construída por aqui. Mesmo reconhecendo a importância dele, não apenas pelo lance histórico batizado de “cirineta”, mas pela maneira como sempre respeitou e procurou honrar a camisa rubro-negra, fui contra o retorno porque, na época, havia diversas opções melhores no elenco para a sua posição. E isso ficou claro em sua “despedida”, quando ele mesmo destacou que teve poucas oportunidades nessa melancólica passagem pelo clube.
Por isso, não discuto o afastamento em si. Afinal, um atleta que está treinando com o grupo e vem sendo relacionado pelo aspirante a treinador pode vir a ser escalado e entrar em jogos importantes, como chegou a ocorrer. E, na minha visão, o Marcelo já não desempenhava um futebol condizente com as necessidades atuais do Athletico.
Se havia ou não problemas de comportamento, se podia ou não podia render em campo, se devia ou não permanecer no elenco são questões internas e que deveriam ter sido tratadas de maneira adequada. Daí a afastar o jogador por telefone, sem maiores explicações, sem olhar nos olhos, já é demais.
Por mais que o Athletico tenha o hábito de tratar tudo e todos como produto: torcedor, jogador, treinador, funcionário etc., não se pode esquecer dos anos de dedicação de Marcelo ao clube; não se pode desconsiderar o fato de que, se ele voltou, foi porque o Athletico trouxe de volta e; principalmente, não é possível ignorar o fato de se tratar de um ser humano.
Se Cirino caiu ou não no choro quando recebeu a notícia é irrelevante. Ele desmentiu, mas não importa. O que é relevante é a completa ausência de sensibilidade do clube no trato com o ser humano. Não é novidade. Marcelo não foi o primeiro e nem será o último a ser tratado com tamanho desdém – Paulo Baier que o diga. Mas é por essas e outras que, infelizmente, o Furacão é tido e havido por tanta gente como um dos clubes mais antipáticos que há.
Feito o registro, resta a nós, torcedores tantas vezes tratados com desdém pelo mesmo clube que apoiamos, ignorados em nossas reivindicações e vistos como meros consumidores, agradecer a Marcelo Cirino pelos gols, pelos lances, pela entrega, enfim, por tudo que fez pelo clube e por nós durante todo tempo que vestiu nossa camisa.
Valeu, Cirino! Saudações rubro-negras!