O Athletico e sua (ir)responsabilidade de vitória
“O mérito da derrota consiste em isentar o derrotado de qualquer responsabilidade de vitória.”¹
A derrota vexatória no ATLEtiba para o rival, sobretudo pelas circunstâncias, trouxe mais uma vez à tona o descaso do Athletico com a atual temporada. Como se observou em campo e também na coletiva pós-jogo do estagiário que segue no comando técnico, era como se o Rubro-Negro não tivesse nenhuma responsabilidade de vitória, fazendo reverberarem no âmago do torcedor as palavras do saudoso Drummond. Ao menos é essa a mensagem que a direção passa e repassa com a inércia a cada novo tropeço.
Muitos podem dizer, com razão, que “clássico é clássico” e ganha quem entra com mais vontade. Isso não se discute. Mas o que dizer de um time que se diz “o único grande do Estado”, que prega os “ventos” da inovação, rebeldia, ambição e entusiasmo e trata o seu futebol com tamanho desdém? Se o Athletico alcançou nos últimos anos um patamar nunca antes visto em sua história, se proporcionou alegrias à torcida e chamou a atenção da mídia nacional e internacional, foi porque levou a sério o seu principal produto, a sua razão de ser: o futebol, que se resolve dentro das quatro linhas e não no discurso. Não se pode esquecer que, assim como na vida, no futebol tudo é também provisório: “Somos porque ganhamos. Se perdemos, deixamos de ser”,² como já dizia Eduardo Galeano.
O fracasso diante da pior versão já vista do Coritiba revela justamente a ausência de compromisso do clube com a vitória. Essa mesma ausência de responsabilidade – e de responsabilização – por tropeços que nos custaram muito caro ao longo de 2023: eliminações precoces na Copa do Brasil e Libertadores, inúmeras chances desperdiçadas de se consolidar entre os melhores do Brasileirão ao desperdiçar pontos importantes e o risco cada vez maior de tornar melancólico o ano do centenário, sem ao menos uma vaga na principal competição continental que, no discurso dos dirigentes, é a “obsessão” do clube.
Ainda há tempo de arrumar a casa, consertar os erros e assumir, de uma vez por todas, a responsabilidade de vitória que o Athletico tem, sim, até para dar uma satisfação ao seu fiel torcedor que, por mais maltratado que seja, segue correspondendo nas arquibancadas e não deixa a peteca cair. Mas para salvar a temporada é preciso colocar o discurso em prática, usar os “4 ventos” a seu favor e fazer do Athletico, de novo, um Furacão.
E a quem manda no Athletico e tem o poder de mudar a situação, termino com um conselho mencionado na obra de Cortázar: “¡Y ojalá que lo que estou escribiendo le sirbalguno para que mire bien su comportamiento y que no searrepienta cuando es tarde y ya todo se haiga ido al corno por culpa suya!”³
Saudações rubro-negras!
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¹ ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 15.
² GALLEANO, Eduardo. Futebol ao sol e à sombra. Porto Alegre: L&PM, 2020. p. 192.
³ CORTÁZAR, Julio. Rayuela. Barcelona: Alfaguara, 2019. p. 8. Em tradução livre: “E espero que o que estou escrevendo ajude você a olhar bem para o seu comportamento e não se arrepender quando for tarde demais e tudo já tiver ido para o inferno por sua causa!”