Navegar é preciso, futebol não é preciso
Meu avô gostava muito do mar. Eu tenho essa lembrança forte, talvez porque a minha tia sempre posta uma foto dele no barco no seu aniversário. É quase impossível pra mim separar uma coisa da outra. Não sei dizer se um dia ele chegou a me falar essa frase mas, de alguma forma, na minha cabeça eles se relacionam.
Eu gosto muito da frase (no original, “navegar é preciso, viver não é preciso”), porque ela tem um jogo de palavras interessante. Na primeira oração, “preciso” é tratado como necessidade, da vontade do orador em estar constantemente no mar. Na segunda, porém, a palavra se refere à “precisão”, e ressoa com as dificuldades que a vida proporciona e todas as incertezas que ela traz.
O futebol, à sua maneira, também não é preciso. As vezes me pego pensando sobre isso. Passamos boa parte da temporada até aqui reclamando, e entendo particularmente que com razão. Mas ao olhar a tabela, ainda estamos (muito) vivos na briga pela vaga direta à Copa Libertadores do ano que vem.
Não me entenda mal, eu não estou satisfeito com o rendimento do time. Os resultados, apesar de navegarem na direção oposta, poderiam estar milhas à frente com um pouco mais de precisão em alguns pontos. Já estamos fartos de citar os pontos perdidos contra times fracos e em situações favoráveis, que deixamos escapar por teimosias e insistências. Eu sinto, porém, que é preciso ressaltar um pouco nossos méritos também.
Eu acredito de verdade que temos um bom elenco. Acredito, inclusive, que esse é o motivo do time ainda ter rumo e não ter saído da briga há mais tempo. Se perdemos pontos com teimosias e pouca qualidade tática, compensamos na experiência de Fernandinho, por exemplo. Outro marujo que eu sempre defendi, por aqui e nas redes sociais, é Canobbio. Incansável, competente (apesar das finalizações, que há tempos pedem um pouco mais de talento) e dedicado, especialmente no quesito tático. Até Cuello, que eu costumo reclamar, parece ter encontrado seu futebol e vem fazendo partidas excelentes.
Por isso, tomei a decisão de parar de pedir a troca do comandante, pelo menos até o fim da temporada. Se ele tem méritos na situação em que vivemos, para o bem ou para o mal, nesse momento já não me importa mais. O futebol, em toda sua imprecisão, vive de momentos, e nós estamos em um favorável. É preciso aproveitar a maré. É preciso acreditar. É preciso apoiar. É preciso conquistar a vaga na Libertadores do ano que vem.