17 jul 2024 - 7h07

Bento, Santo e ídolo

Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.

 

Era novembro de 2020 quando Bento Matheus Krepski fez sua estreia profissional pelo Furacão. Santos e Jandrei, na época, testaram positivo para COVID-19, cabendo ao jovem arqueiro a missão de defender a meta rubro-negra diante do River Plate (ARG), pela Copa Libertadores da América. Ainda há muito a ser escrito por aquele que ingressou nas categorias de base do Athletico aos 10 anos de idade – em 2009 – e que em março de 2024 estreou como titular na meta da Seleção Brasileira, num jogo amistoso contra a Inglaterra.

Campeão Paranaense nos anos de 2019, 2020, 2023 e 2024 e também da Copa Sul-Americana em 2021, durante o período em que atuou com as cores rubro-negras, Bento jogou e defendeu o Athletico por música; por poesia; por soneto. Sempre será, afinal, nossa licença poética. Gigantesco. Soberano. Inquestionável. Unânime. Carismático. Destemido. Absoluto. Notável. Bento, também, não é só estrela; é presença; é colocação; é técnica. O abençoado goleiro que defende, assiste e acalma; cuja linguagem corporal em meio à luta anuncia o vento caloroso dos bons tempos, a névoa úmida das dificuldades.

Já sentimos saudades do agora. Saudades em ver Bento vestindo rubro-negro, preto, laranja, azul… Independente do tom que traja, o “camisa número um” encarna dentro das quatro linhas o espírito guerreiro do Athletico Paranaense. Ele é alma do Caldeirão do Diabo. Um cara que hoje defende a “Amarelinha”. Talvez seja esta a maior glória de um desportista: poder representar seu país, frente ao mundo, nos gramados do futebol.

Que o menino do Caju parta na aventura da bola sabendo que deixou marcas indeléveis dentro deste clube. Nós, torcedores, formos e somos espectadores do início daquilo que começou a ser contado com grandes pretensões. Ao natural, Bento se consolidou como um dos maiores personagens da história do Athletico. E que privilégio o nosso em testemunhar esta história. Que honra a nossa de fazer parte da história. Que você encontre – onde quer que esteja – o afeto de todos ao seu redor, o reconhecimento fraterno pela escolha que deve nos encher de orgulho, isso porque não precisa provar coisa alguma a ninguém. E você, Bento, também sempre fez e fará parte da torcida que bem conhece.

Fico pensando em idolatria. Lembro de quando era criança e me encantava por determinado jogador. Vibrava cada vez que ele entrava em campo. Vibrava de maneira diferente quando ele fazia gol. Era um gol mais especial, com uma felicidade diferente. Bento não faz gol, mas marca história. Bento defende meta, honra camisa, dá a vida em campo e enche de orgulho toda uma nação. Definitivamente, “entregou tudo” enquanto aqui esteve. Vibramos a cada defesa e a cada gol evitado pelo nosso arqueiro. E tenho certeza de que vibramos de maneira diferente quando se trata de Bento, afinal, ele é especial. Na contradição que é o Futebol, o desfrutar de cada momento é imperativo. Não é sobre ganhar ou perder, é sobre testar sua coragem e até onde vai o seu limite. É sobre abraçar um desafio e se colocar numa posição onde não importa o resultado, você vai terminar maior do que quando começou. Bento é corajoso. E cada vez maior.

Depois das Olimpíadas de Tóquio (a Seleção Brasileira masculina de Futebol fora campeã, com Santos no gol), Mario Celso Petraglia perguntou a Paulo Autuori: “Santos vai querer sair. E agora?” O na época coordenador técnico respondeu: “Temos Bento”. E filho-de-monstro-monstro-é. Os dois nasceram, foram criados, educados e se tornaram goleiros extraordinários, dentro de uma casa iluminada pelas lembranças da história e da lenda das defesas de Caju. Definitivamente, Bento se apresentou para a história do Athletico. As defesas (várias delas em forma de milagres) conciliaram-se com o significado do seu nome – originário do latim Benedictus, Bento quer dizer “abençoado pelo batismo”; mas pode ser, também, “bendito e “louvado”.

O polímata – autor e escritor – Goethe, definiu o que hoje imaginamos ao ouvir e ler o nome “Bento”: o que passou, passou; mas o que passou luzindo resplandecerá para sempre”. Nós, espectadores do início ao fim deste ciclo, acompanhamos a criação e consolidação de um dos maiores e mais emblemáticos personagens da história do Club Athletico Paranaense. Lá na frente, quando tudo isso aqui for passado, ao estudarem aquele solo e o gramado sintético da Baixada, dele ali vão achar as pegadas mais presentes. Sentimo-nos enlaçados por suas mãos que tanto já nos protegeu. Um feito por ele conquistado, ensinou-nos a celebrar – por vezes – com mais vibração um pênalti defendido que um gol marcado. Ou uma defesa nada convencional. Era sua assinatura.

Podemos dizer que um ídolo é aquela pessoa que representa a conquista de algo grande, importante – para a história de uma equipe, de um clube ou uma instituição. Eles são construídos com uma linguagem mítica, que subverte o mundo racional. Geram uma lembrança muito marcante dentro de nós. Causam um sentimento muito peculiar. Talvez, alguém que tenha uma história de vida bastante difícil e que abrilhanta ainda mais os feitos como atleta; pela superação, batalha. Possível dizer que, necessariamente, um ídolo é destaque também na imprensa. Craque dentro de campo e fora dele, Bento tem um significado especial para cada um de nós.

E um ídolo (pessoal e coletivo) – na essência da palavra – é alguém que rompe seu tempo. Que revoluciona. Pode ser pelas conquistas, mas também pelo carisma, pela simpatia, pela forma de tratar o torcedor ou aqueles que admiram o esporte. Que quando tem seu nome falado, imediatamente é associado a algo positivamente gigantesco. Ayrton Senna é ídolo nacional (possivelmente mundial) na Fórmula 1 – incontestável. Guga, no Tênis. Hortência, no basquete. Giba, no vôlei. Pelé e Maradona no futebol. São pessoas, personagens e figuras que representam algo muito revolucionário para o contexto em que atuaram e que, até hoje, seus feitos reverberam. E assim será Bento para toda a eternidade atleticana: Santo e ídolo.



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