Afinal: o que o Athletico quer?
Quase todo torcedor Atleticano pode concordar que 2024 tem sido atipicamente cruel dentro das 4 linhas. Já tivemos times piores, bem piores, mas que tinham um certo charme; Eram esforçados (Alô Deivid Coquinho), ou carismáticos (Alô Claiton Predador) ou tinham lampejos de craques (Alô Guilherme, o maestro silencioso), mas eram todos como frutas em fim de feira. Tinham um motivo para estar onde estavam. Por outro lado, eram times previsíveis. Existiram anos onde você poderia cravar que o Athletico não ganharia sequer uma partida fora de casa, mas era imbatível na arena. Que não importa a fase, ganharia de São Paulo e Flamengo em casa. Você tinha uma noção do que esperar quando ligava sua TV no domingo.
O Athletico de 2024 é diferente, cheio de entropia. A única certeza ao ligar a TV duas vezes por semana é que tudo pode acontecer. Jogando fora de casa contra um time de G4? Pode ser que ganhe. Pegando o misto de um time de Z4 na Arena? Talvez perca. Alterna entre golaços de novos heróis improváveis, como Julimar, e falhas e erros de ídolos longevos, como Pablo e Thiago Heleno. Desfile de gala na quarta e entrega gol atrás de gol no domingo. É frustrante justamente por não ter constância. Tirando os gols nos acréscimos, claro, que voltaram a nos assombrar.
A Arena de 2024 é um reflexo do Athletico que não sabe o que é. Temos torcedores gratos por não sermos mais o time de 1995, que flertava com a insolvência e com os vexames, e torcedores que não suportam não sermos o time que tem como rivais Flamengo, River Plate, Boca Juniors. Uma metade que acredita que 2018/2019 deveria ser a regra contra uma metade que acredita que só acontece de novo se os astros se alinharem. Ambas metades tem integrantes que vaiaram Nikão e que aplaudiram Nikão contra o Grêmio. Não é tão preto no branco assim. A única constância dos dois lados é que são tratados como consumidores nos últimos 10 anos. Alguns decidiram tratar o Athletico do modo que são tratados pelo clube.
Como sempre no futebol, o que ocorre em campo é um desenrolar natural do que ocorre fora dele. O Athletico por muitos anos teve uma filosofia clara no futebol, “Não podemos gastar até que a questão da Arena se resolva”. A torcida via as janelas de transferência muito mais com medo de perdemos os talentos que tínhamos do que com esperança de vermos novos talentos chegarem. Era triste, mas era previsível. Dava para saber o que aconteceria no Athletico. Por mais que você comprasse o jornal Lance todo dia, ou atualizasse o globoesporte religiosamente, o saldo final era o mesmo: vão se os destaques, e quem fica que continue a escrever a história do clube.
Desde 2018, o Athletico tem perdido uma série dos pilares que sustentavam nossa narrativa de austeridade. A questão da Arena, pêndulo mortal que poderia cair sobre nosso coração a qualquer momento, foi resolvida. Os 40 mil sócios hoje já são realidade. São 10 anos de superávit ininterruptos, sendo que 2023 e 2024 devem figurar entre os top 3 em termos de valores nominais. O futuro que o Athletico pediu, livre de barreiras, chegou. Mas o Athletico parece não saber o que fazer com essa liberdade, como um cachorro que incessantemente puxa a coleira enquanto o dono o segura, mas que congela ao perceber que o dono soltou sua guia.
O Athletico de 2024 não sabe se investiu pouco, pelo que se vê em campo, ou demais, pelo que se vê no balanço. Não sabe se sua prioridade é o Brasileirão, ou as Copas (spoiler: era o Brasileirão até perceberem que talvez fosse melhor ser as Copas). Não sabia se queria um técnico que propusesse jogo ou fechasse a casinha, até acertar com Martin Varini. O Athletico tenta investir cada vez mais para ser competitivo, quebrando seus recordes, mas não pode investir tanto a ponto de perder seu Super-Trunfo de geração de caixa na Corrida Maluca das SAF’s (corrida esta que também não valoriza saúde financeira das adquiridas até o presente momento).
O Athletico tenta manter todas as portas abertas ao mesmo tempo, sendo competitivo em campo mas sendo uma SAF atrativa, gastando mas com o freio de mão puxado, em um malabarismo francamente exaustante para todos os envolvidos. Vamos ser vendidos, mas nesse molde específico, mas o mercado não quer esse molde. Entra CEO, sai CEO. Cria o cargo diretor técnico, passam 2 anos sem diretor técnico. O diretor promete reforços, chega a janela, é demitido e vamos para 1 mês de janela sem uma única vinda. Não existe previsibilidade no Athletico. Cansa, fadiga, exaure o torcedor, que não sabe para onde o clube vai e tão pouco o que o clube quer.
Neste momento delicado da sua história, talvez o mais delicado desde 1995, cabe cada vez mais quem manda no Athletico pensar: “O que o Athletico quer ser?” A SAF mais cara? A SAF mais cara dentro dos moldes que mantêm a atual diretoria? Não quer ser SAF se isso implicar que a casa vai ser limpa? Quer brigar por títulos como Libertadores e Brasileirão? Quer brigar por títulos como Sulamericana e Copa do Brasil? Quer chegar às quartas e tudo bem? Quer G4, G6, G8 ou G16? O Athletico acima de tudo precisa saber o que quer ser. Só assim poderá chegar “lá”, seja lá aonde “lá” for.