Quanto custa o lucro?
Estava revendo o filme Efeito Borboleta esses dias, e ele abre com uma frase que ficou comigo até agora: “Uma coisa tão simples, quanto o bater de asas de uma borboleta, pode causar um tufão do outro lado do mundo”. Ela é um pouco exagerada, mas tem um fundo de verdade. Existem ações que geram efeitos dominós que só são notados meses, senão anos depois. Muitas delas demoram tanto que passam batidas; não conseguimos conectar a causa e seus efeitos de maneira direta.
O Athletico tem respostas mais imediatas das suas escolhas. A mais recente é a lesão do adutor de Fernandinho que arrisca tirá-lo de campo pelo resto da temporada. Creio que existem duas escolas de pensamento sobre a lesão: a fatalista e a evitável. A fatalista vê a lesão de Fernandinho como algo natural do futebol. Lesões acontecem, músculos estouram, ligamentos rompem. O adutor é mais uma fatalidade em um ano recheado de azares, sejam eles gols no último minuto, treinadores supersticiosos, ou qualquer outra coisa oculta. A lesão é um problema em si só.
A escola evitável de pensamento vê a lesão não como o problema, mas como o sintoma. Uma lesão que teve sua chance aumentada pela alta minutagem do atleta. Uma minutagem exacerbada por duas decisões chave: a morte do projeto dos aspirantes e a escolha de não trazer um sucessor em tempo hábil. A primeira é menos interessante. A diretoria aponta dedos para uma FPF que criou regras estranhas para evitar que times alternativos fossem colocados, na tentativa de recuperar um paciente em estado terminal (o Paranaense). Foquemos na segunda.
O Athletico sabia da idade do Fernandinho e sabia do elenco que tinha, que possui um meio-campo recheado de atletas que não conseguem fazer o papel de transição que Fernandinho faz. Temos muitos atletas que são camisa 5 (ou deveriam ser), camisas 10 (ou deveriam ser), mas o 8 clássico com qualidade de passe é apenas Fernandinho. Houve uma escolha deliberada de não gastar mais após gastar errado no começo do ano.
Quero citar dois times que têm subido muito de produção nas últimas semanas: Fluminense e Grêmio. Ambos se reforçam de maneira muito forte. O gol do Grêmio contra o Criciúma veio de dois atletas que não estavam no Brasil no começo de Junho. Os nomes em específico que trouxeram na verdade nem importam. O que importa é o racional por trás do movimento. Estavam mal, analisaram e contrataram. Causa e efeito.
O Athletico arrecadou mais de R$100 milhões apenas nesta janela de julho. Não gastou um centavo para trazer ninguém. Quer dizer, trouxe Praxedes para não dizer que não trouxe ninguém. Minhas contas preliminares apontam que mesmo com os R$80 milhões gastos (e queimados em boa parte) no começo do ano, o Athletico deve postar um superávit acima de R$100 milhões para o ano de 2024.
Mesmo no ano do centenário, sem qualquer amarra para não gastar, o clube resolveu seguir fazendo o que sempre soube fazer: vender quem se destaca e tentar se virar com quem fica. Em Abril ou Maio do ano que vem, teremos uma linda nota destacando mais um grande superávit. Um artigo do Globo Esporte falando o que todos nós sabemos: o Athletico é um clube bem gerido financeiramente.
Nessas horas, me pego pensando nas consequências das escolhas do Athletico pro athleticano. É difícil, como torcedor, conceitualmente me apegar a um balanço financeiro bonito no meio de uma mediocridade no campo. Qual mudança faz ter R$100 milhões de superávit no balanço versus R$80 milhões, ou R$50 milhões? Será que existia uma quantia de dinheiro investida em um substituto hábil que faria Fernandinho estar em campo na quinta contra o Vasco? Será que era mais ou menos do que achávamos? É um exercício quase sádico.
Semanalmente me pego pensando num Athletico conceitual. O Athletico que poderia ter sido. Qual poderia ser o tamanho do Athletico se 40% dos nossos superávits acumulados fossem investidos diretamente no time? Qual poderia ser o tamanho do Athletico se a Arena tivesse tido uma reforma mais modesta, ou um contrato mais bem amarrado, que não tivesse sequestrado uma década de investimentos no futebol pela mera chance de uma decisão negativa jogar o ônus do custo para o Athletico? Qual poderia ter sido o tamanho do Athletico que se entende como clube de futebol e não empresa? Quantos títulos teríamos a mais? Quanto o lucro do Athletico-empresa custou para o Athletico-clube?
Melhor voltar para realidade. O Athletico que poderia ser, não existe.
O Athletico que existe é apenas um reflexo das suas próprias decisões e seus respectivos efeitos.