25 set 2024 - 17h11

Cão velho, mesmos truques

Lembro até hoje do dia que ganhei meu primeiro cachorro. O que mais me animava na ideia de ter um cão era poder ensiná-lo diferentes comandos; sentar, deitar, rolar, fingir de morto. Por anos, tinha uma rotina de ensiná-lo diferentes comandos e até que seu repertório cresceu. Hoje em dia meu cão tem 14 anos, mas ele parou de aprender novos truques muito antes disso. Chegou um momento em que por mais que eu ensinasse algo novo, o que ele executava era o que ele sabia fazer. Não o que eu pedia.

Contratar Lucho como treinador é a repetição de um dos truques mais decorados do Athletico. Desde 2016, quando o clube está na parede porque a aposta em mais um técnico não está rendendo os resultados esperados, toca um celular específico: o de Paulo Autuori. A ligação em si faz sentido – quando se está com problemas, o primeiro passo é fazer um feijão com arroz bem feito, arrumar a casa e parar de perder para si mesmo (um feito frequente do Athletico de 2024). Isso Autuori faz como poucos.

O problema é que desde 2020, ligamos para Paulo Autuori e quem vem é “Sob a supervisão de Paulo Autuori”. Influenciado pela vontade do treinador de não treinar, o clube contrata um treinador em início de carreira que será supervisionado pelo agora Diretor Técnico. Acontece que isso cria um paradoxo. Qualquer treinador bom o suficiente para ser inovador não aceitaria a sombra de Paulo Autuori. Por definição, sobram os que não são bons ou maduros o suficiente para se virarem sozinhos. 

Por outro lado, o elenco do Athletico também se pega fazendo os mesmos truques de anos passados. Contando com Lucho, são 9 treinadores que passaram no comando do Athletico desde 2022 e que inevitavelmente se indispõem com o elenco. Alguns treinam demais. Outros não treinam o suficiente. Alguns não focam na tática o suficiente. Outros não são o paizão que o elenco gostaria. O treinador perfeito pro elenco do Athletico não existe. Todo treinador deste lado do oceano Atlântico teria problemas com o elenco do CT do Caju por um motivo ou outro.

Existe um ponto de inflexão onde o jogador começa a se achar maior que o clube. Na minha conta de boteco, esse momento acontece por volta do jogo 150-200. O Athletico de 2024 tem mais de meia dúzia de jogadores com essa marca. E como um cão velho, os veteranos cada vez mais insistem em fazer os mesmos truques. Derrubar treinador, lesões mágicas que somem assim que o treinador vai embora, todos nós já vimos essa história antes. 

A diretoria também tem seus truques preferidos. Um deles é fechar a casa e mudar de rota abruptamente assim que algo não ocorre como o planejado. Antes da saída de Cuca, o discurso do CEO e dos diretores era que viriam 3-4 titulares. O Athletico não trouxe ninguém. Para não dizer que não trouxe ninguém, trouxe dois encostados, mas ninguém que de fato agregue valor ao elenco. Cada vez mais forte dentro das 3 demonstrações financeiras, mas cada vez mais frágil dentro das 4 linhas.

Ameaçado em 2024, o Athletico tenta repetir o truque de 2021 justamente por estar na mesma situação de 2021. Em 2021, deu as chaves para um semi-amador Alberto Valentim, sob a supervisão de Paulo Autuori, que invocou uma mágica até hoje não compreendida ao chegar nas finais das 2 copas. O contraponto é que se salvou do rebaixamento na penúltima rodada. Não dá pra chamar a decisão de um absoluto sucesso, dado que Valentim foi demitido depois de seu primeiro jogo competitivo de 2022. Se a margem de sobrevivência é tão tênue, será que a melhor ideia era repetir o truque? Ou será que é o único truque que o cão sabe fazer?

A única coisa que tenho certeza é que a torcida não só já está cansada dos mesmos truques, mas está com sua paciência no limite com os mesmos cachorros. A Arena da Baixada clama por protagonistas novos. Por truques menos manjados. Por futuros que, por mais que possam ser melhores ou piores, sejam no mínimo diferentes. 

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