Quanto custam R$67,6 milhões?
Uma das questões mais importante do mercado financeiro é “Quanto esse capital vai me custar?“. A pergunta esta predicada na premissa que todo dinheiro que você toma emprestado possui um custo de juros. Quanto mais arriscado um dado investimento é, maior a taxa que um possível credor vai pedir como contrapartida. É um dos conceitos mais básicos do mercado financeiro. Risco & Retorno.
No meio de 2024, o Athletico teve que pagar um senhor valor como parcela da Arena da Baixada. R$67,6 milhões, no PIX, para ser mais exato. Esses R$67,6 milhões sairam diretamente do caixa do clube, que possuia o suficiente para honrar com essa dívida. Conforme vejo derrota atrás de derrota do Athletico, esse número ecoa na minha mente. R$67,6 milhões não custaram nada em juros para o CAP, mas podem ter custado muito para o clube. Usarei essa coluna para abrir três pontos: “De onde veio”, “O que causou”, “o que causará” e uma estimativa do custo desses R$67,6 milhões.
De onde veio?
Esses R$ 67,6 milhões são uma parcela da dívida da reforma da Arena. A necessidade de pagar esse valor integralmente pegou o Athletico de surpresa. O clube disse que “a comercialização das cotas de potencial construtivo gerasse, ao menos, 20 milhões de reais, aliviando significativamente o montante a ser desembolsado pelo CAP. Infelizmente, tal expectativa não foi atendida”.
Traduzindo para o mundo real, foi mais um reflexo de um problema que assola o CAP há 15 anos: a escolha de sócios não confiáveis para a reconstrução de um estádio que, até agora, não teve um retorno econômico que justificasse tamanha reforma. Pensando no potencial econômico, os grande shows da cidade não vem para Arena. Ficamos renegados a shows de segunda linha, formaturas e eventos religiosos aqui e acolá.
Em sua escolha de sócios, o Athletico segurou por 15 anos seus investimentos no futebol. Possui um sócio que constantemente não honra seus compromissos, o que força a mão do clube para que não tenha seus ativos penhorados. Viveu esperando a faca que esta pendurada acima da sua cabeça potencialmente cair, quase paranóico para não gastar o que poderia ter que pagar.
O que causou?
Os R$67,6 milhões já causaram problemas nos 4 meses após seu uso. Petraglia, abertamente, já culpou essa parcela como motivo para investimento 0 na janela de inverno. Pensando que jogadores melhores potencialmente nos ajudam a ganhar jogos, essa segurada de investimento gera impacto em campo (em número de pontos) e no financeiro (a partir do momento que pontos geram posições e posições geram premiações). Caso o Athletico tivesse passado do Vasco ou do Racing, cada uma das vagas nos daria próximo de R$10 milhões. É real o impacto financeiro negativo de não progredir em copas.
Outro ponto que ouvimos é que o valor da transferência dos jogadores não cai integralmente. Logo, as venda de Bento e de Vitor Roque geram um grana federal, mas que não é líquida. Assumindo que isso é verdade, a recíproca é verdadeira. Nenhum jogador que viesse seria pago a vista. Existia uma maneira elegante de casar esse fluxo de caixa. Escolhemos a mais radical. Se não comprar, o custo é 0.
Aqui, pensando de maneira holística, a Arena também pode ter custado a própria venda do CAP. O próprio Mario Celso Petraglia já afirmou em entrevista que a Arena fez o valor justo do Athletico no mercado ficar bem acima do que investidores estavam dispostos a investir no país naquele momento.
Tivemos vários casos de clubes sem estádio que foram vendidos simplesmente por que sua pedida batia com o apetite dos investidores naquele momento. Se minha cabeça (como investidor) é de botar $100 milhões de dólares num clube, não vai ser o fato que você tem um estádio que vai me fazer querer botar $300 milhões de dólares no clube. Os fundos tem tamanho já pré-definidos, e não são tão flexíveis. A existência da Arena diminui o número de investidores que tem cacife para comprar o Athletico. Isso é fato.
Além disso, a insegurança jurídica causada por Vasco e Botafogo assustou cada vez mais futuros investidores.
O que causará?
Aqui, quero dividir o impacto em efeitos de curto prazo e efeitos de longo prazo.
No curto prazo, os R$67,6 milhões farão o Athletico cair para a Série B.
Economicamente, isso gera a queda de receitas em diversas frentes. Teremos a queda de receitas de televisão e bilheteria, visto que o montante pagos para equipes desse escalão são menores que os pagos a equipes da Série A. Teremos a queda de receitas de vendas de jogadores, dado que uma queda a Série B faz os expoentes técnicos da equipes ou forçarem saídas a preços abaixo dos que sairiam em situações normais ou ativa cláusulas que liberam nossos ativos a preço de banana (Olho nisso aqui. É a cara da nossa diretoria ter botado cláusulas desse tipo sobre a premissa que jamais cairíamos). Em termos de premiação, teremos a Copa do Brasil ano que vem, mas com uma equipe menos competitiva, não iremos longe. Em termos de competições internacionais, só volta a figurar em 2027, assumindo que tudo de certo. É uma PENCA de receita perdida.
No longo prazo, o valor da venda do CAP vai cair e a potencialmente a qualidade dos possíveis investidores também. Algumas estimativas que fiz com quem trabalha (e ganha a vida) com isso é que uma queda a Série B diminuiria em 20-30% o valor que um investidor pagaria no CAP, pensando na queda do fluxo de caixa livre que o clube teria com uma queda para a Segundona. Menos receita, menos margem, menos superávit, menor múltiplo, menor valor. O mercado é eficiente nesse sentido.
Entendidas as ramificações, quero endereçar a pergunta dos texto. Quanto custarão esses R$67,6 milhões, a partir do momento que entendemos que o Athletico não contratou devido a esse montante?
Em termos de receita do ano de 2025, e futuras premiações internacionais de 2025 e 2026, o Athletico facilmente vai abrir mão de mais de R$100 milhões no curto prazo. No longo prazo, pensando num valuation de venda de R$1-1.5 bilhões, o Athletico tende a perder por volta de R$200-400 milhões em seu valor de venda por uma possível queda. Somados, potencialmente mais de R$500 milhões no longo prazo.
Para não acabar com apenas com tristeza, podemos ter uma luz no fim do túnel. Talvez seja justamente uma queda do Athletico que permita o valor do clube (e da percepção de Petraglia sobre o valor do clube) cair para um valor investível no mercado atual. Ai depende da capacidade do Athletico de discernir entre um investidor estratégico (como Grupo Eagle e Grupo City) e um cheque em branco sem experiência (Como Treecorp e 777).
De qualquer modo, esses R$67,6 milhões sairão muito mais caros do que R$67,6 milhões. Nem todo real custa o mesmo preço.