27 nov 2024 - 21h20

Pacto para eternidade: nas boas eu te sigo; nas más eu te carrego

Quando as pessoas me perguntam “quem é o Murilo?” a primeira coisa que digo é que o Murilo (ou Doc) é atleticano. Além disso, sou médico e atuo na área da Psiquiatria. Aqui, neste espaço, o intuito é conversar – de torcedor para torcedor – sobre aquilo que nos é cura, mas também comorbidade, loucura e uma licença poética: o Club Athletico Paranaense.

 

A história repete-se com suas naturais emoções, idas e vindas, sustos e gols que trazem o Furacão a mais uma decisão. Um ano que parecia especial – como alguns outros vividos nesta superabundante e centenária história – mostrou-se surpreendente. Muitos problemas surgidos da imensa expectativa positiva. Um Furacão de emoções – afinal, é da natureza rubro-negra tormentosa tornar fortes os espíritos que já foram anêmicos.

Volto no tempo, numa época que muitos viveram: vocês entravam livremente no Joaquim Américo e ficavam encostados nas arquibancadas de tijolos assistindo aos treinos e domingo voltavam para ver os ídolos defenderem a camisa rubro-negra, sendo a raça a única exigência. Sabemos: o atleticanismo nos é criatura que inflama espontaneamente.

O que aconteceu em dezembro de 2021 ainda reverbera em nossas mentes. O clima que se instalou nos permitiu viver um dos dias mais intensos da nossa história – e o jogo em si (final de Copa do Brasil) virou fato secundário a ser analisado. O atleticanismo se alastrou de forma inacreditável. Mesmo com a derrota no primeiro jogo para o Galo Mineiro, a partida no Caldeirão serve de marco ao Furacão: uma noite da inabalável vibração atleticana, do amor incondicional que não dependeu do resultado. Se o jogo em campo encerrava o sonho, nas arquibancadas ficou evidente uma chama que nunca deixou de arder: a da paixão pelo clube. E se não era dia de celebrar título, aproveitamos para sentir à flor da pele a razão de ser rubro-negro. A morte liberou a festa e deu sentido a tudo. Era – assim como agora – vez de provar como a relação dos torcedores com o time vai muito além de um simples jogo de futebol.

Uma hora o vento muda de direção e muitas vezes se transforma em Furacão. Por isso, é momento da mais completa união de todos os rubro-negros; de crédito ilimitado ao treinador; de fé infinita no esforço dos jogadores. Fora deste círculo virtuoso não há salvação. Vamos lá, rubro-negro. Somos o novo grande e os grandes lutam dentro e fora do campo. E fora de campo a luta é nossa. O maior pecado é faltar à luta. Vamos, mexa-se, o Athletico continua precisando de você. Você não dribla, não ultrapassa, não chuta, mas quando as coisas não funcionam, você faz – e sempre fez – a diferença. Afinal, diferentemente do que se fala, o Athletico não depende só dele. O Athletico depende de nós. E nós estaremos a todo instante ao lado dos nossos atletas – eles serão incentivados no acerto e no erro, simplesmente porque nós somos eles; a camisa que vestem é a mesma que envergamos; seus ideais de vitória são os nossos.

Domingo, primeiro de dezembro, 18h30. Athletico x Fluminense. Nosso Lucho coloca o time para correr e a gente vai atrás. Momento de fazermos da responsabilidade uma aliada; da pressão, uma força a mais. Não há tempo para lamúrias. No futebol, derrotas vêm e vão. Bem por isso, é frágil a rede negativa de sentimentos que criam: rompe-se com a vitória. O que ajuda é a mobilização geral, o canto que acelera o rendimento, a força lançada da arquibancada que incendeia os ânimos.

Paremos de ficar lamentando o que teria sido; tiremos o futuro do pretérito da cabeça. Só tem importância o que é e o que será. Superemos a ideia de sorte, azar ou destino; o que importa é a ideia de decisão, estratégia e trabalho. Sartre diz: “não importa o que a vida fez de você. Importa o que você fez com aquilo que a vida fez de você”. Escolham suas lutas. Não controlamos tudo, não somos donos do universo e não podemos impedir a morte, mas podemos controlar muita coisa até lá.

Não é o crítico que importa, nem aquele que mostra como o ser forte tropeça, ou onde o realizador das proezas poderia ter feito melhor. Todo o crédito pertence ao elemento que está, de fato, na arena; cuja face está arruinada pela poeira, pelo suor e pelo sangue; aquele que luta com valentia; aquele que erra e tenta de novo e de novo; aquele que conhece o grande entusiasmo, a grande devoção e se consome numa causa justa; aquele que ao menos conhece, ao fim, o triunfo de sua realização; e aquele que – na pior das hipóteses – se falhar ao menos falhará agindo excepcionalmente, de modo que seu lugar não seja, jamais, junto àquelas almas frias e tímidas que não conhecem nem vitória nem derrota.

Sempre importante lembrar aos jogadores que o Atlético e o Athletico têm uma história. Uma história difícil. Difícil e honrada. E que muitas vezes as camisas desbotadas sangraram para conseguir os resultados que garantiram a sobrevivência do clube, as comodidades que lhes são hoje asseguradas, os salários de seis dígitos que recebem. Tudo pode acontecer, menos um Atlético acomodado, perdido e sem perspectivas dentro das quatro linhas.

Por tudo isso, torcedor, façamos a parte que nos cabe. “Ligga o modo Caldeirão!”. Entreguemos – mais uma vez – nossas almas, “porque a força que nos trouxe até aqui é a mesma que nos manterá”. Vamos em frente, com o nosso pacto para eternidade: nas boas eu te sigo, nas más eu te carrego.



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